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Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

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Com 59 anos, aposentada do trabalho de professora de

Educação Física do estado de Santa Catarina, Sueli vive para a

música. Tem duas bandas – uma de samba e outra de canções

autorais – e se apresenta com elas pelo menos duas vezes por

mês. Nas demais horas da semana, oferece aulas de música

para idosos em Biguaçu e em uma clínica do Campeche, no

Sul de Florianópolis. Na realidade, é mais uma atividade de

lazer do que aula: “Eu não ensino a cantar, nós vamos lá para

ter um momento de prazer e alegria. É afetivo”.

Costuma dizer que a carreira musical começou quando

ganhou o violão, em 1966. O fato é que sempre tocou, e

aprendeu muito rápido a montar os acordes. Como carreira,

a música veio a aflorar em Florianópolis, no ano de 1982. Recém

contratada como professora de Educação Física, Sueli tinha

na Ilha uma namorada – motivo suficiente para se mudar

de vez de Joinville, onde atuou como atleta de handebol por

um tempo. Chegando na capital, deparou-se com um cenário

homossexual muito velado, em que os encontros eram realizados

às escondidas, costumeiramente na casa de conhecidos.

A descoberta deste mundo fez parte de um turbilhão de

ideias. Embora já tivesse se apaixonado por mulheres, Sueli

nunca tinha visto dois homens se beijando antes de pisar em

Florianópolis. Tampouco pensara ser possível. Como tocava

violão onde quer que fosse, acabava atraindo os iguais. Desse

jeito ia conhecendo gente nova, trocando endereços e telefones.

Escreviam-se longas cartas. No verão, ficava ainda mais

movimentado: amigos vindos de todos os lados, de todos os

estados – Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Rio Grande do

Sul – acabavam se encontrando nos shows de Sueli pela cidade.

Lotavam os bares e casas noturnas.

Numa dessas noites, Sueli terminou em um barzinho apinhado

no Centro de Florianópolis, nas imediações da Praça

XV, com o violão no colo, sem amplificador. Conseguiram,

ninguém sabe de onde, um microfone para ela. O público

aguardava pelo início da música.

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