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Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.

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A criança cresce. Vai tomando consciência do mundo ao

redor e algumas coisas lhe desagradam. Outras, ainda não entende

por que, não encaixam tão bem quanto deveriam. Tem

a inimizade de todos os meninos, que parecem gostar de machucar.

E, das meninas, é bastante próxima. Gosta delas, mas

não da maneira que querem que goste, porque não consegue

vê-las como um troféu a ser conquistado.

Algo no padrão de masculinidade não agrada a criança.

Talvez tudo. Ao mesmo tempo em que não se encaixa no grupo

dos homens, não se sente mulher. Mas suas maiores referências

são mulheres, das músicas e das artes. A adolescência

é uma confusão. Cogita ser gay, tenta ficar com meninos. Não

gosta. Tem alguns relacionamentos com meninas, e mesmo

eles são um pouco diferentes do que se espera.

Às escondidas, veste uma saia e passa batom. De repente

já não é mais às escondidas. Tem alguma coisa aí, ela pensa.

Chega a hora de deixar o nome – aquele registrado nos documentos

de identificação – para trás. Assume um outro nome,

mas nem por isso passa a ser outra pessoa. E isso é o mais

complicado de explicar.

Lana é uma pessoa trans não-binária. Em outras palavras,

isso quer dizer que Lana não se identifica plenamente como

“homem” ou “mulher”: às vezes, sente-se como um pouco

dos dois, como nenhum dos dois ou flui entre essas possibilidades.

E essa percepção pode variar com o tempo. Como tudo

é dividido entre masculino e feminino, desde os banheiros até

roupas, nomes e papéis de gênero, muitas pessoas nem suspeitam

da existência de Lana. E a própria Lana, até pouco tempo

atrás, não sabia que era possível fugir dessa dicotomia.

Foi graças à internet que encontrou pessoas que se sentiam

da mesma forma. Isso em 2013, com 28 anos de idade.

Até então, seu desconforto com gênero não tinha nome. Da

infância à idade adulta, mesmo que lhe dissessem que era um

menino, Lana não conseguia concordar com isso inteiramente.

Faltava alguma coisa. Começou a experimentar saia, meia-

60

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