Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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Cassandra, reluzentes de batom, acompanham a linha vocal
de uma música da banda Evanescence:
Long lost words whisper slowly to me
Still can’t find what keeps me here
When all this time I’ve been so hollow inside
I know you’re still there*
*Tradução literal: Palavras há muito tempo perdidas, sussurradas lentamente
para mim. Ainda não consigo encontrar o que me mantém
aqui. Quando todo este tempo tenho estado tão vazia por dentro. Eu
sei que você ainda está aí.
Cassandra arranca a túnica com uma das mãos e a atira
a um canto. Veste um top prateado e, abaixo da cintura,
as pernas estão cobertas por um tecido que imita uma cauda
de sereia. No lugar dos pés, Cassandra tem uma barbatana
grandalhona e desajeitada, coberta de purpurina. A plateia enlouquece
com essa visão e sobrepuja o volume da música aos
gritos. Cassandra segue sem pestanejar:
Watching me, wanting me
I can feel you pull me down
Fearing you loving you
I won’t let you pull me down*
*Tradução literal: Me observando, me desejando. Eu posso sentir você
me depreciando. Temendo você, amando você. Eu não vou deixar
você me depreciar.
Um lampejo prateado chama a atenção do público para as
mãos de Cassandra. O punhal, até então escondido em suas
vestes, paira como uma ameaça entre os dedos dela. Cassandra
leva a lâmina à boca e a lambe devagar. Confere um único
e duradouro olhar para a plateia, retira da cabeça o artefato
com chifres e deixa à mostra o topo da cabeça, com os cabelos
cobertos por uma rede da cor de sua pele. Inclina-se para as
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