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Revista Newslab Edição 159

Revista Newslab Edição 159 - Abril / Maio 2020

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Eu vejo o Brasil em uma posição de destaque.<br />

Obviamente existem países com muito mais<br />

infraestrutura, como os EUA e a China, onde os<br />

investimentos em pesquisa científica e inovação<br />

estão em uma ordem de grandeza muito<br />

superior à nossa. No Brasil o investimento ainda<br />

está muito centrado nos governos, com pouca<br />

participação privada.<br />

Mesmo não possuindo toda a infraestrutura<br />

dos principais centro de pesquisa mundiais, nós<br />

temos um bom parque instalado. Na Fiocruz,<br />

por exemplo, temos uma rede de plataformas<br />

tecnológicas onde estão inseridos sequenciadores<br />

de DNA modernos, os quais podem ser acessados<br />

por pesquisadores de todo o país.<br />

Também temos algo muito importante<br />

no Brasil, que são pesquisadores dedicados<br />

e muito bem capacitados em diversas<br />

instituições em todas as regiões.<br />

5. Você acha que sequenciar os pacientes<br />

pode ajudar nas descobertas?<br />

Com certeza. Com o avanço da<br />

tecnologia acho cada vez mais importante<br />

sequenciarmos os pacientes de doenças<br />

infecciosas e não infecciosas. Não só para<br />

descobrir novos patógenos, mas também<br />

para descobrir “fraquezas” nesses patógenos<br />

e potenciais alvos terapêuticos. Além disso,<br />

podemos sequenciar os pacientes para tentar<br />

entender se a resposta está no hospedeiro e<br />

não no vírus. Podemos, por exemplo, utilizar<br />

o sequenciamento dos genes humanos para<br />

entender o porquê de algumas pessoas<br />

expressarem os sintomas de maneira<br />

diferente. Diversas variações no nosso<br />

genoma já foram relacionadas a uma melhor<br />

resposta frente a um patógeno específico.<br />

6. Como o seu trabalho está auxiliando<br />

nas descobertas?<br />

Utilizando o sequenciamento nucleotídico<br />

e diversas ferramentas de bioinformática<br />

minha equipe tem identificado variações<br />

genéticas e rotas de entrada e dispersão<br />

de vírus emergentes e reemergentes nos<br />

estados do Amazonas e Roraima.<br />

Recentemente fizemos o primeiro genoma<br />

completo de um vírus do Sarampo na América<br />

Latina, durante o surto iniciado em Roraima<br />

2018. Em maio de 2019 identificamos,<br />

através de abordagem metagenômica,<br />

que um vírus chamado Coxsackie A6 foi<br />

o responsável por um surto de doença de<br />

mão-pé-boca no Amazonas.<br />

No final de março de 2020 minha equipe<br />

fez o primeiro sequenciamento de genoma<br />

completo do SARS-CoV-2 na região norte<br />

do Brasil. Esse genoma foi obtido usando<br />

um protocolo específico para o SARS-<br />

CoV-2 desenvolvido pela minha equipe e<br />

um sequenciador Illumina MiSeq recém<br />

instalado. Como era esperado, a sequência<br />

obtida mostrou altíssima qualidade<br />

por base (Q40 100%), o que considero<br />

importantíssimo em um momento que o<br />

mundo todo estuda um vírus novo. Esse<br />

nosso primeiro resultado com o MiSeq<br />

mostrou que a decisão por essa tecnologia<br />

foi acertada.<br />

Prof. Dr. Felipe Naveca<br />

Possui Bacharelado em Microbiologia e<br />

Imunologia pela Universidade Federal do Rio de<br />

Janeiro (1999), Mestrado em Ciências Biológicas<br />

(Microbiologia, UFRJ - 2002) e Doutorado<br />

em Ciências (Microbiologia, UFRJ - 2006). É<br />

Pesquisador em Saúde Pública e Vice-diretor de<br />

pesquisa do Instituto Leônidas e Maria Deane<br />

(ILMD), Fiocruz Amazonas. É docente permanente<br />

do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em<br />

Imunologia Básica e Aplicada (PPGIBA - UFAM),<br />

do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em<br />

Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro (Bio-<br />

Interação - ILMD/Fiocruz) e Biologia Celular e<br />

Molecular (PGBCM - IOC/Fiocruz). É Membro da<br />

Rede Nacional de Especialistas em Zika e Doenças<br />

Correlatas - RENEZIKA, DECIT, Ministério da Saúde.<br />

ENTREVISTA<br />

<strong>Revista</strong> NewsLab | Abr/Mai 2020<br />

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