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MICROBIOLOGIA CLÍNICA<br />
interferente que possa manter essa IgM positiva.<br />
Outra hipótese é que seja uma manutenção<br />
real de níveis de IgM, por presença de vírus, ou<br />
partículas virais na circulação. Mas são somente<br />
especulações de minha parte. Algumas respostas,<br />
só o tempo e a pesquisa poderão nos dar.<br />
3. Dr. Zhang, você observou a conversão<br />
prolongada de ácido nucleico em vários<br />
pacientes com COVID-19. Qual o significado<br />
disso encontrado? Como os laboratórios<br />
clínicos podem ajudar os médicos?<br />
Fale-nos sobre isso.<br />
Resumo da resposta Dr. Zhang: A conversão<br />
prolongada de ácido nucleico era realmente<br />
comum em pacientes servidores. É difícil<br />
definir “prolongado” e também mencionei que,<br />
de outras doenças virais, traços de vírus podem<br />
ser encontrados semanas após a recuperação,<br />
mas não desempenham nenhum papel na<br />
transmissão. Há casos sendo acompanhados de<br />
permanência de RT-PCR positiva por mais de 90<br />
dias, pacientes assintomáticos. Não sabemos do<br />
poder de disseminação nesses casos.<br />
Comentário prof. Caio: Temos aqui dois<br />
fatos interessantes somados, que são a permanência<br />
da IgM por 2 meses, assim como da<br />
carga viral, e MESMO NA PRESENÇA de IgG, o<br />
que tem sido bastante comum nos testes rápidos<br />
que temos acompanhado. Há vários relatos<br />
no país, com esse perfil. Mas, não temos RT-PCR<br />
para queimar, o que seria importantíssimo. Em<br />
Wuhan, os testes eram feitos por ELISA in house,<br />
bem mais sensíveis que imunocromatográficos.<br />
Mesmo assim, ele relata baixa sensibilidade,<br />
em torno de 65-70% desde que coletado no<br />
momento correto. Qual nossa dificuldade? Não<br />
temos como provar que os negativos são negativos,<br />
e nem que os positivos são positivos, na<br />
imensa maioria das vezes. Caso teste rápido seja<br />
positivo, e o paciente seja assintomático, jamais<br />
haverá confirmação com métodos moleculares,<br />
ou até mesmo, pesquisa sorológica para antígeno.<br />
Apenas manteremos os casos “confirmados”<br />
como tal. Os demais, irão para a estatística e<br />
ponto. Sabemos que o valor preditivo positivo<br />
para IgM é razoável, e que devemos considerar.<br />
Mas como acompanhar de forma racional, os<br />
pacientes que denominamos de “IgM arrastada”,<br />
ou “IgM persistente” sem RT-PCR? Qual será<br />
a utilidade destes resultados, além de encher<br />
estatísticas? Será que em algum momento saberemos<br />
quais são verdadeiramente negativos,<br />
ou positivos? Será que teremos esse acompanhamento<br />
de casos “fora da curva”? Quanto<br />
aos negativos, me parece pior ainda o quadro.<br />
Pacientes assintomáticos carregarão os vírus<br />
para suas casas, com potencialidade de disseminação,<br />
porém, certos de que estão saudáveis.<br />
Qual será o impacto desses falsos negativos na<br />
transmissão e manutenção dos novos casos em<br />
elevação? Qual será o impacto de testes aleatórios<br />
realizados em farmácias, drogarias e empresas?<br />
Só o tempo dirá, talvez.<br />
4. Dr. Zhang, acho que a principal dúvida<br />
de nossos profissionais de laboratório no<br />
Brasil, talvez em todo o mundo, diz respeito<br />
às janelas imunológicas da covid19<br />
e à cinética dos anticorpos séricos contra a<br />
SARS-CoV-2, principalmente quando, qual<br />
o correto momento, temos que coletar<br />
amostras para diagnóstico ou detecção de<br />
IgM. Ao mesmo tempo, qual o momento<br />
correto para a coleta de IgG. Qual é a opinião<br />
do Dr. Zhang sobre isso?<br />
Resumo da resposta Dr. Zhang: Para<br />
definir o momento correto para o teste de anticorpos,<br />
você precisa descobrir o objetivo (diagnóstico?<br />
Avaliação?) e a cinética do anticorpo.<br />
Segundo relatos, a IgM poderia ser detectada<br />
em 7 dias após o início dos sintomas e atingir<br />
seu ponto mais alto em cerca de 2 semanas, e<br />
a IgG pode ser detectada após cerca de 2 semanas<br />
e persistir. Nos faltam os dados de cinética<br />
precoce, no entanto, meus dados não publicados<br />
mostraram que aproximadamente 50% dos<br />
pacientes apresentaram resultado positivo para<br />
IgM após 2 meses do início dos sintomas, e mais<br />
de 99% dos pacientes sintomáticos eram positivos<br />
para IgG (Nota: ao mesmo tempo).<br />
Comentário prof. Caio: Nossa análise primária,<br />
que propõe a coleta das amostras a partir<br />
do 14º dia de sintomas, porém, este novo dado<br />
observacional da equipe do Dr. Zhang mostra<br />
uma imensa flexibilidade nas respostas de IgM,<br />
com cerca da metade dos casos sintomáticos<br />
apresentam IgM positiva após 2 meses do início<br />
dos sintomas, algo novo para nós, mas que<br />
estão sendo demonstrados – IgG + IgM – em<br />
muitos testes rápidos. Para termos uma noção<br />
dos nossos casos, cada teste positivo deveria<br />
ser repetido semanalmente, para termos nossos<br />
próprios dados observacionais, porém, a<br />
especulação e alto custo desses testes no Brasil,<br />
impedem testagens em larga escala pela rede<br />
privada, e esbarra no problema dos testes de<br />
anticorpos totais na rede pública, e não há como<br />
saber se há apenas IgG ou se trata de casos de<br />
IgM arrastada. Se quisermos saber se esses fatos<br />
se repetem aqui, precisaremos realizar testes<br />
com inteligência.<br />
5. Ok. Temos o diagnóstico de covid19,<br />
o paciente está desenvolvendo a doença.<br />
Sabemos que 85% ou mais desenvolverá<br />
covid19 assintomático ou em condições<br />
amenas. Sabemos também que algo em<br />
torno de 5% pode desenvolver as diversas<br />
formas. Quais são os fatores de risco<br />
para um mau prognóstico no COVID-19?<br />
O laboratório clínico pode ajudar aos<br />
médicos com alguns dados? Quais são<br />
os marcadores laboratoriais mais importantes<br />
nas várias formas de covid19?<br />
Resumo da resposta Dr. Zhang: Os fatores<br />
de risco para um mau prognóstico do<br />
COVID-19 incluem: idade avançada, sexo<br />
masculino, fumante, comorbidades como<br />
hiperestesia (esses fatores não podem ser al-<br />
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<strong>Revista</strong> NewsLab | Abr/Mai 2020