You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
MICROBIOLOGIA CLÍNICA<br />
O Laboratório Clínico na Covid-19:<br />
Do Diagnóstico à Terapêutica – Experiência<br />
de Wuhan e O Que Estamos Aprendendo e<br />
Aplicando<br />
Caio Salvino<br />
Olá. O tempo é de covid19, e não poderíamos<br />
deixar de escrever sobre esse tema,<br />
mesmo com nossa coluna sendo com foco na<br />
bacteriologia, que temporariamente, cede<br />
seu espaço valioso ao SARS-nCov-2.<br />
Desde que tivemos nossos primeiros casos<br />
confirmados, temos mergulhado nas possibilidades<br />
de fisiopatogenia, diagnóstico<br />
laboratorial associado a dados clínicos, e<br />
possibilidades terapêuticas.<br />
Aproximadamente em 25 de março de<br />
2020, um médico francês chamado Didier<br />
Raoult, publicou um pequeno estudo observacional<br />
com 6 pacientes tratados com a<br />
associação de Hidroxicloroquina e Azitromicina,<br />
onde todos saíram do respirador até o<br />
5º dia de tratamento, e seria o primeiro sinal<br />
de que havia luz ao final do túnel, e que<br />
poderíamos ter esperanças de menos mortes<br />
em nossos doentes gravas. Mas não se sabia<br />
exatamente como agia o vírus, tampouco essas<br />
drogas nesses casos.<br />
Embora, até o momento da publicação<br />
deste texto, não haja evidências científicas<br />
que expliquem detalhadamente, dentro<br />
da farmacologia e química farmacêutica,<br />
porque essas drogas funcionam e ajudam a<br />
evitar a inflamação, já temos milhares de pacientes<br />
sendo tratados com êxito em diversos<br />
locais do mundo, incluindo o Brasil.<br />
Mais tarde, a descoberta de que ocorre<br />
uma hiperinflamação, com tempestade de<br />
citocinas e comprometimento grave pulmonar,<br />
faz com que outros bravos médicos<br />
iniciassem, como testes, o uso de corticoides,<br />
já que não temos disponibilidade em larga<br />
escala, de antivirais de última geração. Este<br />
processo, gera a formação de trombos, que<br />
são controlados com uso de anticoagulantes.<br />
Neste momento temos, portanto, opções<br />
terapêuticas para cada etapa da doença.<br />
Todos sabemos que a doença nasceu na<br />
cidade de Wuhan, na China, e por isso, após<br />
ler vários artigos por ele publicados, entramos<br />
em contato com o Dr. Sheng Zhang, médico da<br />
linha de frente ao combate da covid-19, desde<br />
os primeiros casos, e que conheceu como poucos,<br />
uma doença completamente nova e obscura,<br />
e que matava rapidamente. As primeiras<br />
observações foram fundamentais, e segundo<br />
ele, não havia testes até meados de fevereiro,<br />
quando começaram a testar RT-PCR e ELISA in<br />
house. Este uso, gerou dados que foram por<br />
ele mostrados em seus artigos, de suma importância<br />
para que nós, por aqui, tivéssemos<br />
mais subsídios a respeito do pré-analítico,<br />
como janelas de detecção, sensibilidade dos<br />
testes e momento de coleta.<br />
Em suas próximas publicações, ele estará<br />
mostrando algumas novas observações, que<br />
constam nessa entrevista, que trago neste<br />
espaço com perguntas, resumo de respostas<br />
e comentários realizados por mim.<br />
Boa leitura a todos.<br />
Perguntas Realizadas e Respostas<br />
Comentadas<br />
1. Por favor, fale-nos sobre o perfil dinâmico<br />
do ensaio RT-PCR para SARS-CoV-2<br />
no COVID-19. Quais são as suas constatações<br />
e conclusões neste momento?<br />
Resumo da resposta Dr. Zhang: Segundo<br />
os relatórios (Lancet), o tempo médio para a<br />
conversão do ácido nucleico de SARS-CoV-2 foi<br />
de 14 a 20 dias. Eu recomendaria solicitar o teste<br />
RT-PCR nesse período e pelo menos dois a três<br />
testes consecutivos para evitar falsos-negativos.<br />
Comentário prof. Caio: Temos um problema,<br />
ao menos por enquanto, em nosso país, que<br />
é a falta de testes, e mesmo quando – se isso<br />
ocorrer na prática – estiver normalizado, penso<br />
que não teremos essas condições de testar pelo<br />
menos 4 vezes até esgotar as chances de positivar<br />
a RT-PCR. Nossa situação é complexa, pois<br />
estamos calçando nossas ações em testes rápidos,<br />
como se esses fossem isentos de possibilidades<br />
de erros, e, principalmente, desprezando<br />
o pré-analítico e suas particularidades. Notemos<br />
que, mesmo testando todos com RT-PCR,<br />
há situações em que são necessários entre 1 e<br />
4 testagens para, ou positivar mais tardiamente,<br />
ou considerar negativo. Nas recomendações<br />
brasileiras, e me incluo nisso, se fala em 5 dias<br />
para conversão – detecção – da RT- PCR, o que<br />
seria, em tese, extremamente precoce, segundo<br />
os dados levantados. O fato, é que estamos<br />
testando apenas pacientes sintomáticos por<br />
esse método, o que aumenta muito a sensibilidade.<br />
Certamente estão chegando com mais<br />
0 86<br />
<strong>Revista</strong> NewsLab | Abr/Mai 2020