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NANOMEDICINA<br />
Um tema recente, e que se utiliza intensamente<br />
de nanotecnologia para cumprir sua<br />
proposta, é a teranóstica. A teranóstica é a atual<br />
proposta de medicina personalizável, uma<br />
classe de medicina baseada em diagnósticos<br />
dinâmicos e personalizáveis, na qual a doença<br />
será monitorada constantemente e o remédio<br />
será formulado para cada pessoa e cada quadro<br />
de enfermidade. Neste caso, a formulação<br />
química e a dosagem do medicamente, serão<br />
exclusivas para cada indivíduo, e com o avanço<br />
dos diagnósticos médicos com apenas uma<br />
gota de sangue ou suor, diversos fatores do<br />
corpo humano serão constantemente monitorados<br />
modificando os prognósticos ao longo do<br />
tratamento. O nível da nanotecnologia atual já<br />
possibilitou a criação de equipamentos médicos<br />
que conseguem diagnosticar doenças apenas<br />
usando uma gota de sangue ou suor. Existe<br />
um equipamento suíço, que com apenas uma<br />
gota de sangue detecta e lista todo o quadro de<br />
alergia de uma pessoa. Outro equipamento suíço,<br />
consegue com uma gota de sangue realizar<br />
o teste do pezinho, sem fazer o bebe e os pais<br />
passarem pelo desconforto do método tradicional<br />
de arrastar o pé da criança para preencher<br />
o papel coletor. Esses são alguns poucos exemplos,<br />
que a nanotecnologia pode e poderá trazer<br />
para melhorar o conforto e reduzir praticamente<br />
a zero as dores decorrentes de tratamentos médicos<br />
e das doenças. Poderemos nos próximos<br />
anos revolucionar a medicina e sua oferta de<br />
soluções para as enfermidades da população. O<br />
médico do futuro será muito diferente do profissional<br />
atual, terá ferramentas mais modernas<br />
como medicina de precisão e medicina personalizada.<br />
Com isto o profissional médico terá<br />
mais flexibilidade no diagnóstico, poderá captar<br />
e monitorar mais informações em tempo real,<br />
poderá prover um tratamento mais adequado<br />
para cada caso e consequentemente será mais<br />
assertivo na solução da doença.<br />
No mundo, já existem diversas aplicações,<br />
algumas em nível de pesquisa outras em produtos<br />
finais. Um caso interessante de pesquisa,<br />
são as nanosondas que são colocadas no cérebro<br />
para monitorar pacientes após um AVC<br />
com a intenção de alertar para um novo epsódio.<br />
Outro nanossensor monitora as enzimas<br />
creatina fosfoquinase (CPK) e creatina quinase<br />
(CK) que o coração produz pouco antes de um<br />
infarto. Um produto promissor é o nanossensor<br />
da XSensio, empresa suíça premiada que criou<br />
um nanossensor de nanotubos de carbono capaz<br />
de ler diversos sinais biomédicos com uma<br />
gota de suor. Outra aplicação, mais avançadas,<br />
são os nanorrobos criados por Ido Bachellet, por<br />
meio da conformação e conexão de partes de<br />
DNA, projetados em sistema CAD e sintetizados<br />
em solução, em um processo chamado de<br />
DNA origami. Esses nanorrobos além de serem<br />
feitos por material orgânico, podem programar<br />
(sem sistema de TI) a sequencia de entrega dos<br />
quimioterápicos, maximizando o efeito de tratamento<br />
e no alvo correto. Essa tecnologia foi<br />
adquirida pela Pfizer em 2015.<br />
No Brasil já existem algumas tentativas recentes<br />
com grande potencial. No tratamento do<br />
câncer, por exemplo, a inovação garante a transferência<br />
dos quimioterápicos apenas para as células<br />
doentes, evitando que as saudáveis sejam<br />
atingidas. Esse ano, pesquisadores do Centro<br />
Nacional de Pesquisa em Energia em Materiais<br />
(CNPEM) desenvolveram nanopartículas capazes<br />
de atrair e inativar o vírus HIV. Outra solução<br />
inovadora, da Professora Elina Martins Lima,<br />
da UFG, que desenvolveu uma nanopartícula<br />
injetável que captura cocaína no sangue eliminando<br />
a orvedose. Uma solução no campo de<br />
diagnósiticos, foi a criação de uma POC (Point-of-Care)<br />
criado por empresas e pesquisadores<br />
brasileiros e europeus (Fundação CERTI, CTI<br />
Renato Archer, IBMP Fiocruz e Fraunhofer Institute<br />
ENAS), chamado PodiTrodi, resultado de<br />
um projeto com o governo europeu, que pode<br />
detectar a doença de chagas em poucas horas<br />
ao invés de dias. Um terceiro exemplo, a startup<br />
desenvolveu um namoimplante que controla o<br />
ciclo de gravidez em éguas, e já está estudando<br />
a transferência desta tecnologia para humanos.<br />
Um quarto exemplo criado pelo Instituto SENAI<br />
de Inovação em Eletrolítica, criou um nanossensor<br />
capaz de detectar proteínas de Alzheimer,<br />
uma solução que originalmente detecta gripe<br />
na água em aviários no intuito de reduzir o uso<br />
de antibióticos para frangos.<br />
Como pode se constatar, existem muitas soluções<br />
em desenvolvimento, e não somente por<br />
pesquisadores, mas por institutos de ciência e<br />
tecnologia, empresas consolidadas e até mesmo<br />
startups. A cultura de inovação que está se<br />
implantando no Brasil recentemente é um dos<br />
fatores chave para avanço econômico e estratégico<br />
nacional. Para que a medicina brasileira<br />
se desenvolva é necessário que os incentivos a<br />
criação de startups, pesquisas na fronteira do<br />
conhecimento e investimento privado continuem<br />
e se fortaleçam cada vez mais. Somente<br />
desta forma, reduziremos nossa dependência<br />
por tecnologia externa e nos tornamos provedores<br />
de alta tecnologia para outros países.<br />
Leandro Antunes Berti<br />
CEO FIBER INOVA – empresa de Inovação Estratégica, Presidente Institucional da Associação Brasileira de Nanotecnologia (BrasilNano), foi Coordenador-Geral de<br />
Tecnologias Convergentes e Habilitadoras (CGTC), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações do Brasil (MCTIC), Coordenador de Tecnologias<br />
Estratégicas , responsável pela política pública nacional, estratégia, iniciativas de Nanotecnologia, Fotônica, Materiais Avançados e Manufatura Avançada e Membro<br />
da Comissão de Ciência e Tecnologia do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, BRICS WG Photonics National Representative, OECD (Bio-, Nano- and Converging<br />
Technologies (BNCT)) - Nanotecnology National Representative, Brazil-Canada Joint Committee for Cooperation on Science, Technology and Innovation;<br />
Diretor do Centro Brasileiro-Argentino de Nanotecnologia, Presidente da Centro Brasileiro-Chinês de Nanotecnologia. Foi Secretário Executivo do API.nano, na<br />
Fundação CERTI. Pós-doutorado em Nanobiotecnologia pelo InteLAB, UFSC, PhD em SoftNanotechnology, pela University of Sheffield, Inglaterra, e Pós-Graduado<br />
em Engenharia da Computação pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Autor dois livros sobre regulação com Nanossegurança: Guia de Boas Práticas em<br />
Nanotecnologia para Indústria e Laboratórios e Nanossegurança na Prática: Diretrizes para análise de segurança de empresas, laboratórios e consumidores que<br />
usam nanotecnologia. Possui Ampla experiência em negociação internacional, contratos, licenciamento e gestão de projetos de inovação.<br />
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<strong>Revista</strong> NewsLab | Abr/Mai 2020