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Revista Newslab Edição 159

Revista Newslab Edição 159 - Abril / Maio 2020

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CITOLOGIA<br />

A rotina do laboratório de citopatologia<br />

no contexto da pandemia do COVID-19<br />

Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />

O Coronavirus recebeu esse nome em virtude<br />

da forma de coroa da proteína na sua superfície,<br />

identificada pela técnica de microscopia eletrônica<br />

de transmissão. É um vírus envelopado, que<br />

contém uma fita de RNA. Seu tropismo tecidual<br />

específico, infectividade e variedade de espécies<br />

são conferidos por essa proteína, que interage<br />

com um receptor celular específico, a enzima<br />

conversora de angiotensina 2 (ACE2), presente<br />

nas células endoteliais arteriais e venosas, epitélio<br />

intestinal e respiratório. No trato respiratório,<br />

está presente nas células ciliadas do epitélio<br />

bronquial, alvéolos, traquéia, monócitos e macrófagos<br />

alveolares1. Em virtude desse tropismo<br />

pelo tecido respiratório, o vírus pode ser isolado<br />

de saliva, da nasofaringe e do trato respiratório<br />

inferior.<br />

O papel do laboratório de citopatologia frente<br />

a um paciente suspeito ou diagnosticado com<br />

COVID-19 é limitado. Em analogia ao manejo<br />

de outras doenças similares como a SARS-COV<br />

(Síndrome Respiratória Aguda Grave), resume-<br />

-se em descartar infecções pulmonares sobrepostas<br />

em amostras respiratórias. Até o momento<br />

os estudos não descreveram a presença<br />

de inclusões virais nas células das amostras<br />

analisadas pela microscopia de luz, e os relatos<br />

indicam que as características citopatológicas<br />

observadas no material citológico são inespecíficas<br />

e refletem a causa pulmonar aguda subjacente<br />

ao padrão da lesão.<br />

Um estudo avaliou o escarro de pacientes<br />

diagnosticados com SARS-COV e identificou<br />

aumento no número de macrófagos, algumas<br />

vezes formando agregados soltos. Essas células<br />

podem mostrar alterações citoplasmáticas,<br />

incluindo a presença de citoplasma espumoso<br />

ou de vacuolização citoplasmática, alterações<br />

nucleares como multinucleação e aparência de<br />

núcleos em vidro fosco, embora essa última característica<br />

seja mais difícil de identificar2.<br />

Em alguns casos específicos, amostras de líquidos<br />

de lavagens broncoalveolares (LBA) são<br />

obtidas para identificação viral. Há uma descrição<br />

na literatura de amostras de LBA positivas<br />

quando amostras de swab nasofaríngeo e orofaríngeo<br />

são negativos para o COVID-19 (ambas<br />

dosadas pela técnica de RT-PCR)3. No entanto,<br />

os achados citológicos específicos das amostras<br />

de LBA de pacientes com COVID-19 ainda não<br />

foram descritos até o presente momento. Dados<br />

de pacientes diagnosticados com MERS-COV<br />

(Síndrome Respiratória do Oriente Médio),<br />

uma infecção também causada por coronavirus,<br />

mostraram que o exame citopatológico de<br />

líquido do LBA frequentemente apresenta um<br />

alto número de neutrófilos e macrófagos nesses<br />

pacientes4.<br />

Com base na histopatologia da SARS, MERS e<br />

COVID-19 as amostras de LBA também podem<br />

mostrar metaplasia escamosa e reparo, juntamente<br />

com presença de células multinucleadas<br />

e pneumócitos alveolares tipo 2 atípicos com<br />

aumento celular e nuclear, nucléolo proeminente<br />

e espaços claros na cromatina. Essas características<br />

citomorfológicas podem representar um<br />

possível armadilha diagnóstica, uma vez que se<br />

sobrepõem a outros critérios celulares.<br />

Estudos publicados até o momento5, 6 relatam<br />

que as amostras de urina de pacientes<br />

contaminados usualmente não testam positivo<br />

para o vírus COVID-19, diferentemente dos<br />

relatos de amostras positivas nos pacientes<br />

diagnosticados com MERS-COV. Entretanto, os<br />

cuidados do processamento dessas amostras<br />

devem seguir as recomendações de biossegurança<br />

já estabelecidas para amostras biológicas.<br />

As recomendações gerais de biossegurança<br />

são semelhantes para laboratórios gerais e<br />

cito/histopatológicos. Métodos citopreparatórios<br />

que incluem a abertura de recipientes,<br />

a remoção das tampas dos tubos, a agitação<br />

vigorosa, pipetagens, aliquotagens, diluições<br />

ou centrifugações de fluidos e descarte do sobrenadante<br />

podem levar à formação de aerossóis<br />

e gotículas, e portanto recomenda-se que<br />

todas essas etapas sejam realizadas em cabine<br />

de segurança biológica de classe II (NB2), fornecendo<br />

proteção para o usuário, para a amostra<br />

e ambiente. O uso de EPIs, incluindo luvas,<br />

avental e protetor facial também são recomendados<br />

para esses procedimentos. Além disso as<br />

amostras devem ser centrifugadas com tampas<br />

e recomenda-se preferencialmente utilizar centrífugas<br />

com rotores selados para uma maior<br />

biossegurança do operador7.<br />

O vírus é inativado por formalina e por irradiação<br />

gama. A maioria das amostras de citopatologia<br />

é fixada em soluções de formalina ou<br />

álcool com concentração alcoólica superior a<br />

70%, ambos considerados eficazes para inativar<br />

o vírus. Entretanto ainda não há relatos se<br />

Prof. Dra. Lisiane Cervieri Mezzomo<br />

Possui graduação em Farmácia com ênfase em Análises Clínicas e especialização Lato Sensu em Citologia Clínica. Fez Mestrado<br />

em Patologia Geral e Experimental e Doutorado em Patologia - Biomarcadores pelo Programa de Pós Graduação em Patologia da<br />

Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), na área de marcadores moleculares e imunohistoquímicos<br />

para o câncer. Atualmente atua como professor do curso de Especialização em Citopatologia Diagnóstica da Universidade Feevale,<br />

e como Pesquisador Pós-Doutor em projetos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É assessor da Controllab na<br />

área de Citologia/Citopatologia e Medicina Laboratorial.<br />

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<strong>Revista</strong> NewsLab | Abr/Mai 2020

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