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NOREVISTA MARÇO 2021

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REPORTAGEM<br />

REPORTAGEM<br />

ÁREA TEMÁTICA REPORTAGEM<br />

|SAÚDE<br />

de contra-argumentos e respostas<br />

possíveis (componente cognitiva). Uma<br />

meta-análise de 54 estudos clássicos<br />

acerca da “inoculação psicológica”<br />

revelou que esta se mostra mais eficaz<br />

na resistência a desinformação do que<br />

o mero fornecimento de informação<br />

fidedigna e que o efeito de “imunização”<br />

se mantém por pelo menos duas<br />

semanas.<br />

Obviamente, e tal como acontece com<br />

o seu análogo imunológico, o sucesso<br />

da inoculação psicológica depende<br />

criticamente de uma compreensão<br />

clara não só dos mecanismos e<br />

processos subjacentes às principais<br />

formas de desinformação para as<br />

quais se deseja uma imunização, mas<br />

também os fenómenos psicológicos<br />

associados à respectiva vulnerabilidade.<br />

Curiosamente, alguns estudos recentes<br />

(e.g., Pennycook e colaboradores, 2020)<br />

evidenciaram que, de uma forma geral<br />

e pese embora diferenças individuais,<br />

a capacidade de discernir notícias e<br />

informações falsas não é comensurável<br />

como a intenção de partilhar as<br />

mesmas nas redes sociais. Com efeito,<br />

quando foi pedido a participantes de<br />

um estudo que indicassem o grau em<br />

que acreditavam ou o grau em que<br />

partilhariam nas redes sociais conteúdos<br />

desinformativos, as respostas divergiam<br />

entre si. Dito de outra forma, o que<br />

motiva uma qualquer pessoa a partilhar<br />

desinformação não é necessariamente<br />

o grau em que a mesma acredita na<br />

veracidade da mesma, mas antes o grau<br />

em que concorda com parte do conteúdo<br />

ou o grau em que esse é consonante<br />

com a afiliação sociocultural, o que<br />

facilmente é compreensível se se notar<br />

que tendemos a ser positivamente<br />

reforçados (e a reforçarmos nós<br />

mesmos, com likes e interacções sociais,<br />

sob a forma de comentários) pela<br />

partilha de conteúdo congruente com o<br />

grupo social ao qual nos identificamos, e<br />

não necessariamente pela veracidade e<br />

precisão do mesmo. Simultaneamente,<br />

quando indagadas a esse respeito,<br />

a maioria das pessoas indica que é<br />

relevante para elas partilhar somente<br />

informação credível e precisa nas<br />

redes sociais. Acresce que, no mesmo<br />

estudo, quando era pedido às pessoas<br />

que indicassem o grau em que uma<br />

única notícia lhes parecia verosímil<br />

ou credível, relatos posteriores de<br />

intenções de partilha nas redes sociais<br />

para peças de desinformação, mesmo<br />

com conteúdo distinto, tendiam<br />

a correlacionar-se com juízos de<br />

credibilidade. Aparentemente, o mero<br />

facto de lhes ter sido previamente<br />

pedido que indicassem “até que ponto<br />

acreditavam” numa qualquer notícia<br />

foi suficiente para tornar saliente<br />

essa dimensão e, consequentemente,<br />

espoletar os mesmos processos<br />

cognitivos associados ao discernimento<br />

de notícias falsas. Este resultado<br />

encapsula as condições mínimas<br />

para uma “inoculação psicológica”<br />

– apresentação de uma amostra de<br />

desinformação acompanhada de um<br />

aviso de que a mesma pode não ser<br />

fidedigna, implicitamente presente na<br />

questão colocada ao participante.<br />

Na mesma linha, outros autores têm<br />

procurado implementar a lógica da<br />

Teoria da Inoculação em pequenos jogos<br />

interactivos, os quais se apresentam<br />

como “vacinas de largo espectro” (ainda<br />

sem versões em Português) para a<br />

desinformação nas redes sociais: Bad<br />

News (focado em Notícias Falsas, de<br />

uma forma geral), Harmony Square<br />

(com um contexto declaradamente<br />

político) e Go Viral (com um foco<br />

na actual pandemia e respectiva<br />

desinformação). Todos estes partilham<br />

0116 NOMAR21 0117<br />

NOMAR21

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