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REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
ÁREA TEMÁTICA REPORTAGEM<br />
|SAÚDE<br />
de contra-argumentos e respostas<br />
possíveis (componente cognitiva). Uma<br />
meta-análise de 54 estudos clássicos<br />
acerca da “inoculação psicológica”<br />
revelou que esta se mostra mais eficaz<br />
na resistência a desinformação do que<br />
o mero fornecimento de informação<br />
fidedigna e que o efeito de “imunização”<br />
se mantém por pelo menos duas<br />
semanas.<br />
Obviamente, e tal como acontece com<br />
o seu análogo imunológico, o sucesso<br />
da inoculação psicológica depende<br />
criticamente de uma compreensão<br />
clara não só dos mecanismos e<br />
processos subjacentes às principais<br />
formas de desinformação para as<br />
quais se deseja uma imunização, mas<br />
também os fenómenos psicológicos<br />
associados à respectiva vulnerabilidade.<br />
Curiosamente, alguns estudos recentes<br />
(e.g., Pennycook e colaboradores, 2020)<br />
evidenciaram que, de uma forma geral<br />
e pese embora diferenças individuais,<br />
a capacidade de discernir notícias e<br />
informações falsas não é comensurável<br />
como a intenção de partilhar as<br />
mesmas nas redes sociais. Com efeito,<br />
quando foi pedido a participantes de<br />
um estudo que indicassem o grau em<br />
que acreditavam ou o grau em que<br />
partilhariam nas redes sociais conteúdos<br />
desinformativos, as respostas divergiam<br />
entre si. Dito de outra forma, o que<br />
motiva uma qualquer pessoa a partilhar<br />
desinformação não é necessariamente<br />
o grau em que a mesma acredita na<br />
veracidade da mesma, mas antes o grau<br />
em que concorda com parte do conteúdo<br />
ou o grau em que esse é consonante<br />
com a afiliação sociocultural, o que<br />
facilmente é compreensível se se notar<br />
que tendemos a ser positivamente<br />
reforçados (e a reforçarmos nós<br />
mesmos, com likes e interacções sociais,<br />
sob a forma de comentários) pela<br />
partilha de conteúdo congruente com o<br />
grupo social ao qual nos identificamos, e<br />
não necessariamente pela veracidade e<br />
precisão do mesmo. Simultaneamente,<br />
quando indagadas a esse respeito,<br />
a maioria das pessoas indica que é<br />
relevante para elas partilhar somente<br />
informação credível e precisa nas<br />
redes sociais. Acresce que, no mesmo<br />
estudo, quando era pedido às pessoas<br />
que indicassem o grau em que uma<br />
única notícia lhes parecia verosímil<br />
ou credível, relatos posteriores de<br />
intenções de partilha nas redes sociais<br />
para peças de desinformação, mesmo<br />
com conteúdo distinto, tendiam<br />
a correlacionar-se com juízos de<br />
credibilidade. Aparentemente, o mero<br />
facto de lhes ter sido previamente<br />
pedido que indicassem “até que ponto<br />
acreditavam” numa qualquer notícia<br />
foi suficiente para tornar saliente<br />
essa dimensão e, consequentemente,<br />
espoletar os mesmos processos<br />
cognitivos associados ao discernimento<br />
de notícias falsas. Este resultado<br />
encapsula as condições mínimas<br />
para uma “inoculação psicológica”<br />
– apresentação de uma amostra de<br />
desinformação acompanhada de um<br />
aviso de que a mesma pode não ser<br />
fidedigna, implicitamente presente na<br />
questão colocada ao participante.<br />
Na mesma linha, outros autores têm<br />
procurado implementar a lógica da<br />
Teoria da Inoculação em pequenos jogos<br />
interactivos, os quais se apresentam<br />
como “vacinas de largo espectro” (ainda<br />
sem versões em Português) para a<br />
desinformação nas redes sociais: Bad<br />
News (focado em Notícias Falsas, de<br />
uma forma geral), Harmony Square<br />
(com um contexto declaradamente<br />
político) e Go Viral (com um foco<br />
na actual pandemia e respectiva<br />
desinformação). Todos estes partilham<br />
0116 NOMAR21 0117<br />
NOMAR21