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NOREVISTA MARÇO 2021

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REPORTAGEM<br />

REPORTAGEM<br />

A iniciativa contou com a participação de<br />

Elvira Fortunato, Engenheira de Materiais e<br />

vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa,<br />

Ana João Rodrigues, neurocientista na Escola<br />

de Medicina na Universidade do Minho e<br />

Isabel Estrada Carvalhais, eurodeputada<br />

desde 2019, doutorada em Sociologia e<br />

professora na Escola de Economia e Gestão<br />

da Universidade do Minho, com a moderação<br />

de Inês Pinto Ferreira, estudante da EMUM.<br />

Isabel Carvalhais começou por referir, antes<br />

de iniciar o debate sobre o género na ciência<br />

que, muitas vezes, na própria alusão ao<br />

conceito de ciência, tende a existir alguma<br />

tensão entre as ciências exatas e as ciências<br />

qualitativas, podendo originar uma sensação<br />

“de maior legitimidade” das ditas ciências<br />

exatas junto das outras.<br />

De facto, conforme explicou, é frequente<br />

falar-se da ciência e ilustrar-se, de forma<br />

errada, os ícones associados a ela –<br />

“são microscópios, são<br />

telescópios, são ampulhetas,<br />

são bisturis, enfim, nunca<br />

são livros, nunca é a<br />

arqueologia”<br />

e referiu que “é esse tal mundo de ciências<br />

valorizadas nesta perspetiva muito<br />

masculina na ciência”.<br />

A eurodeputada, sobre a presença da mulher<br />

no mundo das ciências, começou por<br />

explicar que, do ponto de vista cultural,<br />

estamos erradamente<br />

habituados a ver a sua<br />

presença como se se<br />

tratassem de supermulheres<br />

que tivessem a habilidade de conciliar a<br />

sua profissão com a sua vida familiar, por<br />

isso comentou: “sou professora e, enquanto<br />

professora, sinto também essa obrigação de<br />

passar uma mensagem que as [mulheres]<br />

liberte, que reconheça como elas são<br />

importantes na ciência, mas que as liberte<br />

deste peso, desta carga tremenda de termos<br />

todas de ser supermulheres, com prémios,<br />

com três e quatro filhos e que ainda nos<br />

preparamos para a meia-maratona. Nós<br />

somos pessoas e, portanto, se isso não se<br />

pede aos homens, não tem que se pedir<br />

também às mulheres”.<br />

Elvira Fortunato, que também participou no<br />

debate, lembrou que, há alguns anos atrás, a<br />

ciência era dominada pelo género masculino<br />

e, nessa altura, as mulheres estavam<br />

proibidas de frequentar a universidade –<br />

“quer dizer, o próprio Einstein achava que as<br />

mulheres eram um ser inferior” – e apontou<br />

para a importância do número de prémios<br />

Nobel ganhos por mulheres versus homens.<br />

“A quantidade de prémios Nobel que<br />

existem, e devem existir já perto de 900, só<br />

2% é que foram atribuídos a mulheres”. Na<br />

verdade, de acordo com um artigo do Jornal<br />

Económico datado de 2018, foram laureados,<br />

desde 1901, 844 homens e 48 mulheres.<br />

“A CIÊNCIA ESTAVA MUITO<br />

MASCULINIZADA”<br />

O mesmo jornal aponta que a disparidade é<br />

ainda mais acentuada nos prémios relativos<br />

às áreas científicas da Física, Química e<br />

Medicina, na medida em que 30 dessas 48<br />

mulheres receberam o Prémio Nobel da<br />

Literatura ou da Paz.<br />

“A ciência estava muito masculinizada”,<br />

referiu Elvira Fortunato. Na verdade, sem<br />

acesso das mulheres ao ensino superior, não<br />

podiam existir cientistas, já que não lhes<br />

era dada essa possibilidade de formação. A<br />

cientista, que foi distinguida em setembro<br />

pela Comissão Europeia com o Prémio<br />

Impacto Horizonte 2020, pela criação do<br />

primeiro ecrã transparente com materiais<br />

ecossustentáveis, explicou que, nas áreas em<br />

que está inserida (Física e Química), nunca<br />

sentiu, pessoalmente, qualquer tipo de<br />

preconceito ou marginalização:<br />

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