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REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
A iniciativa contou com a participação de<br />
Elvira Fortunato, Engenheira de Materiais e<br />
vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa,<br />
Ana João Rodrigues, neurocientista na Escola<br />
de Medicina na Universidade do Minho e<br />
Isabel Estrada Carvalhais, eurodeputada<br />
desde 2019, doutorada em Sociologia e<br />
professora na Escola de Economia e Gestão<br />
da Universidade do Minho, com a moderação<br />
de Inês Pinto Ferreira, estudante da EMUM.<br />
Isabel Carvalhais começou por referir, antes<br />
de iniciar o debate sobre o género na ciência<br />
que, muitas vezes, na própria alusão ao<br />
conceito de ciência, tende a existir alguma<br />
tensão entre as ciências exatas e as ciências<br />
qualitativas, podendo originar uma sensação<br />
“de maior legitimidade” das ditas ciências<br />
exatas junto das outras.<br />
De facto, conforme explicou, é frequente<br />
falar-se da ciência e ilustrar-se, de forma<br />
errada, os ícones associados a ela –<br />
“são microscópios, são<br />
telescópios, são ampulhetas,<br />
são bisturis, enfim, nunca<br />
são livros, nunca é a<br />
arqueologia”<br />
e referiu que “é esse tal mundo de ciências<br />
valorizadas nesta perspetiva muito<br />
masculina na ciência”.<br />
A eurodeputada, sobre a presença da mulher<br />
no mundo das ciências, começou por<br />
explicar que, do ponto de vista cultural,<br />
estamos erradamente<br />
habituados a ver a sua<br />
presença como se se<br />
tratassem de supermulheres<br />
que tivessem a habilidade de conciliar a<br />
sua profissão com a sua vida familiar, por<br />
isso comentou: “sou professora e, enquanto<br />
professora, sinto também essa obrigação de<br />
passar uma mensagem que as [mulheres]<br />
liberte, que reconheça como elas são<br />
importantes na ciência, mas que as liberte<br />
deste peso, desta carga tremenda de termos<br />
todas de ser supermulheres, com prémios,<br />
com três e quatro filhos e que ainda nos<br />
preparamos para a meia-maratona. Nós<br />
somos pessoas e, portanto, se isso não se<br />
pede aos homens, não tem que se pedir<br />
também às mulheres”.<br />
Elvira Fortunato, que também participou no<br />
debate, lembrou que, há alguns anos atrás, a<br />
ciência era dominada pelo género masculino<br />
e, nessa altura, as mulheres estavam<br />
proibidas de frequentar a universidade –<br />
“quer dizer, o próprio Einstein achava que as<br />
mulheres eram um ser inferior” – e apontou<br />
para a importância do número de prémios<br />
Nobel ganhos por mulheres versus homens.<br />
“A quantidade de prémios Nobel que<br />
existem, e devem existir já perto de 900, só<br />
2% é que foram atribuídos a mulheres”. Na<br />
verdade, de acordo com um artigo do Jornal<br />
Económico datado de 2018, foram laureados,<br />
desde 1901, 844 homens e 48 mulheres.<br />
“A CIÊNCIA ESTAVA MUITO<br />
MASCULINIZADA”<br />
O mesmo jornal aponta que a disparidade é<br />
ainda mais acentuada nos prémios relativos<br />
às áreas científicas da Física, Química e<br />
Medicina, na medida em que 30 dessas 48<br />
mulheres receberam o Prémio Nobel da<br />
Literatura ou da Paz.<br />
“A ciência estava muito masculinizada”,<br />
referiu Elvira Fortunato. Na verdade, sem<br />
acesso das mulheres ao ensino superior, não<br />
podiam existir cientistas, já que não lhes<br />
era dada essa possibilidade de formação. A<br />
cientista, que foi distinguida em setembro<br />
pela Comissão Europeia com o Prémio<br />
Impacto Horizonte 2020, pela criação do<br />
primeiro ecrã transparente com materiais<br />
ecossustentáveis, explicou que, nas áreas em<br />
que está inserida (Física e Química), nunca<br />
sentiu, pessoalmente, qualquer tipo de<br />
preconceito ou marginalização:<br />
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