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NOREVISTA MARÇO 2021

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REPORTAGEM<br />

REPORTAGEM<br />

Conforme teve oportunidade de explicar,<br />

os media têm tido, felizmente, esse papel<br />

importante de desmistificar e também<br />

de naturalizar algumas dessas questões,<br />

como são os estereótipos dos desportos<br />

associados ao sexo masculino e feminino<br />

– “esses programas são investimentos<br />

que se estão a fazer no longo prazo da<br />

educação das pessoas e devem existir mais<br />

programas desses e existir, por parte dos<br />

media”, mas também de valorizar mulheres<br />

“como a professora Elvira, mulheres como a<br />

professora Ana, como tantas outras, como a<br />

Inês, daqui a uns anos”.<br />

Enquanto socióloga, lembrou ainda que,<br />

quando se trata de discriminação de género,<br />

das mulheres, é preciso não esquecer<br />

que elas acumulam, muitas vezes, outras<br />

layers – a cor da sua pele, as suas condições<br />

socioeconómicas e que, todas adicionadas à<br />

condição de mulher, “são muito difíceis de<br />

ultrapassar”.<br />

Depois de a professora Ana João ter<br />

levantado o tema sobre a sororidade entre as<br />

mulheres, Isabel Carvalhais lembrou aquele<br />

que foi o exemplo histórico das sufragistas,<br />

onde as mulheres consideradas de elite, de<br />

elevado estatuto social lutaram pelo direito<br />

ao voto – “não estavam a fazer só para si,<br />

estavam a fazê-lo para todas as mulheres,<br />

para as mulheres que trabalhavam nas<br />

fábricas, que tinham os filhos em casa (…)<br />

foi um dos momentos de solidariedade do<br />

género feminino muito importante”.<br />

Por isso, defendeu que as mulheres devem e<br />

podem assumir esta missão no sentido de o<br />

fazerem em todas as mulheres, “sobretudo<br />

daquelas que acumulam essas camadas<br />

(…) por vezes, as pessoas não sentem a<br />

discriminação do ponto de vista da sua<br />

identidade de género, não sentem que são<br />

discriminadas por serem mulheres, porque<br />

aquilo que elas vivem com mais intensidade<br />

no seu dia a dia é uma discriminação que<br />

elas associam a uma outra condição delas”,<br />

como é o caso da condição social dos pais, o<br />

meio socioeconómico de onde vêm ou a sua<br />

entidade étnica, por isso pensam: “eu sou<br />

discriminada, mas não foi por ser mulher,<br />

foi por outra razão”, mas, conforme explicou,<br />

“tudo está compactado e a luta da mulher<br />

deve ser uma luta pelo empoderamento de<br />

todos estes outros que são subalternizados”.<br />

No final, Isabel Carvalhais considerou que<br />

“a vida é demasiado efémera e demasiado<br />

preciosa para estarmos a fazer esse tipo de<br />

considerandos e a pressionarmos as meninas<br />

e os meninos a seguirem determinadas<br />

carreiras onde, por vezes, não se vão sentir<br />

nada realizados” e alertou, uma vez mais,<br />

para os estereótipos que podem existir<br />

dentro da própria ciência, que é constituída<br />

por meninas na biologia, na astrofísica, na<br />

sociologia, na economia –<br />

“SE NÃO QUISERMOS SER<br />

VÍTIMAS DE ESTEREÓTIPO,<br />

NÃO LEVEMOS TAMBÉM PARA<br />

DENTRO DA PRÓPRIA CIÊNCIA.”<br />

“se não quisermos ser vítimas de estereótipo, não<br />

levemos também para dentro da própria ciência. A<br />

ciência é muito plural, é esse mundo de diversidade”.<br />

“Que não admitam que ninguém lhes<br />

diga não. Elas estarão certamente na ciência se<br />

assim o desejarem e é assim que eu espero”, concluiu a<br />

socióloga.<br />

Para assinalar o dia, o Secretário-Geral da ONU, António<br />

Guterres, lembrou que “promover a igualdade de<br />

género no mundo científico e tecnológico é essencial<br />

para a construção de um futuro melhor”. De acordo<br />

com o Secretário-Geral, isso foi visível na luta contra a<br />

pandemia, sendo que as mulheres, que representam 70%<br />

de todos os profissionais de saúde, estão entre as mais<br />

afetadas pela pandemia e os que lideram a resposta à<br />

pandemia.<br />

Segundo Guterres, “as mulheres e as meninas pertencem<br />

à ciência”, mas “os estereótipos afastaram as mulheres<br />

e as meninas de campos relacionados com a ciência”,<br />

por isso defende que “é hora de reconhecer que mais<br />

diversidade promove mais inovação.”<br />

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