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REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Conforme teve oportunidade de explicar,<br />
os media têm tido, felizmente, esse papel<br />
importante de desmistificar e também<br />
de naturalizar algumas dessas questões,<br />
como são os estereótipos dos desportos<br />
associados ao sexo masculino e feminino<br />
– “esses programas são investimentos<br />
que se estão a fazer no longo prazo da<br />
educação das pessoas e devem existir mais<br />
programas desses e existir, por parte dos<br />
media”, mas também de valorizar mulheres<br />
“como a professora Elvira, mulheres como a<br />
professora Ana, como tantas outras, como a<br />
Inês, daqui a uns anos”.<br />
Enquanto socióloga, lembrou ainda que,<br />
quando se trata de discriminação de género,<br />
das mulheres, é preciso não esquecer<br />
que elas acumulam, muitas vezes, outras<br />
layers – a cor da sua pele, as suas condições<br />
socioeconómicas e que, todas adicionadas à<br />
condição de mulher, “são muito difíceis de<br />
ultrapassar”.<br />
Depois de a professora Ana João ter<br />
levantado o tema sobre a sororidade entre as<br />
mulheres, Isabel Carvalhais lembrou aquele<br />
que foi o exemplo histórico das sufragistas,<br />
onde as mulheres consideradas de elite, de<br />
elevado estatuto social lutaram pelo direito<br />
ao voto – “não estavam a fazer só para si,<br />
estavam a fazê-lo para todas as mulheres,<br />
para as mulheres que trabalhavam nas<br />
fábricas, que tinham os filhos em casa (…)<br />
foi um dos momentos de solidariedade do<br />
género feminino muito importante”.<br />
Por isso, defendeu que as mulheres devem e<br />
podem assumir esta missão no sentido de o<br />
fazerem em todas as mulheres, “sobretudo<br />
daquelas que acumulam essas camadas<br />
(…) por vezes, as pessoas não sentem a<br />
discriminação do ponto de vista da sua<br />
identidade de género, não sentem que são<br />
discriminadas por serem mulheres, porque<br />
aquilo que elas vivem com mais intensidade<br />
no seu dia a dia é uma discriminação que<br />
elas associam a uma outra condição delas”,<br />
como é o caso da condição social dos pais, o<br />
meio socioeconómico de onde vêm ou a sua<br />
entidade étnica, por isso pensam: “eu sou<br />
discriminada, mas não foi por ser mulher,<br />
foi por outra razão”, mas, conforme explicou,<br />
“tudo está compactado e a luta da mulher<br />
deve ser uma luta pelo empoderamento de<br />
todos estes outros que são subalternizados”.<br />
No final, Isabel Carvalhais considerou que<br />
“a vida é demasiado efémera e demasiado<br />
preciosa para estarmos a fazer esse tipo de<br />
considerandos e a pressionarmos as meninas<br />
e os meninos a seguirem determinadas<br />
carreiras onde, por vezes, não se vão sentir<br />
nada realizados” e alertou, uma vez mais,<br />
para os estereótipos que podem existir<br />
dentro da própria ciência, que é constituída<br />
por meninas na biologia, na astrofísica, na<br />
sociologia, na economia –<br />
“SE NÃO QUISERMOS SER<br />
VÍTIMAS DE ESTEREÓTIPO,<br />
NÃO LEVEMOS TAMBÉM PARA<br />
DENTRO DA PRÓPRIA CIÊNCIA.”<br />
“se não quisermos ser vítimas de estereótipo, não<br />
levemos também para dentro da própria ciência. A<br />
ciência é muito plural, é esse mundo de diversidade”.<br />
“Que não admitam que ninguém lhes<br />
diga não. Elas estarão certamente na ciência se<br />
assim o desejarem e é assim que eu espero”, concluiu a<br />
socióloga.<br />
Para assinalar o dia, o Secretário-Geral da ONU, António<br />
Guterres, lembrou que “promover a igualdade de<br />
género no mundo científico e tecnológico é essencial<br />
para a construção de um futuro melhor”. De acordo<br />
com o Secretário-Geral, isso foi visível na luta contra a<br />
pandemia, sendo que as mulheres, que representam 70%<br />
de todos os profissionais de saúde, estão entre as mais<br />
afetadas pela pandemia e os que lideram a resposta à<br />
pandemia.<br />
Segundo Guterres, “as mulheres e as meninas pertencem<br />
à ciência”, mas “os estereótipos afastaram as mulheres<br />
e as meninas de campos relacionados com a ciência”,<br />
por isso defende que “é hora de reconhecer que mais<br />
diversidade promove mais inovação.”<br />
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