ancestrali<strong>da</strong>deafro-brasileiraO conceito de ancestrali<strong>da</strong>de é algo de vital importânciapara as religiões de matriz africa<strong>na</strong> reorganiza<strong>da</strong>sno Brasil a partir <strong>da</strong>s diferentes visões demundo trazi<strong>da</strong>s por reis, rainhas, sacerdotes,<strong>na</strong> <strong>palma</strong> <strong>da</strong> <strong>minha</strong> <strong>mão</strong> • 45
sacerdotisas, artistas, africanos e africa<strong>na</strong>s chegados às Américas, particularmenteao Brasil. Mais uma vez vamos evocar uma história. Conta-seque em certa ocasião o povo igbo, grupo étnico que atualmente ocupa osudeste <strong>da</strong> Nigéria, se viu encurralado por seus vizinhos. Obrigados a fugirde suas terras, chegaram a uma espécie de bosque nunca antes ocupado.Seus inimigos, to<strong>da</strong>via, marchavam em sua direção. Durante váriosmeses, os igbos se viram acuados e sitiados pelos seus inimigos. As váriasfamílias que ali estavam assistiam acabar, sobretudo, a comi<strong>da</strong>. O grupo,to<strong>da</strong>via, não desistiu, ao contrário, assim que encontrou uma raiz com aqual se percebeu que os homens, logo que a comiam, aumentavam a suaforça e as mulheres o seu poder de gerar filhos e filhas, sadias e fortes.Enfim, o igbos foram capazes de derrotar o inimigo. Com o passar dotempo, as famílias alimenta<strong>da</strong>s pelo inhame, ora comido cru, depois cozido,em forma de farinha, massa, papas ou mingaus, foram crescendo etor<strong>na</strong>ram-se capazes de construir um grande reino capaz de enfrentarqualquer estrangeiro. Todos os anos ain<strong>da</strong> hoje a origem desse grupo érelembra<strong>da</strong> com “a festa dos inhames”. Ela rememora a resistência e acontinui<strong>da</strong>de dos povos igbos graças a esta raiz. Este é, pois, o sentido <strong>da</strong>ancestrali<strong>da</strong>de e talvez nenhuma história seja tão ilustrativa quanto esta.Antes mesmo de um conceito, a ancestrali<strong>da</strong>de é a origem de um povo,desta maneira, assemelha-se ao conceito grego de arké. Ela remete ao iníciode um determi<strong>na</strong>do grupo, não a qualquer início, mas aos primórdios,instante de fun<strong>da</strong>mento, tempo mítico imemorial, perdido no tempocronológico, revivido no rito que cria todos os tempos, nosconduzindo a fazer uma experiência de um momento tão humano que sópoderia ser divino. Desta maneira, gosto muito <strong>da</strong> ideia de que os ancestraissão princípios universais. Podem ser comparados aos chamados“elementos civilizatórios”, patrimônios universais expressos de múltiplasformas através <strong>da</strong>s culturas. Assim devem ser entendidos os orixás,os ninkices e os vodus. Algumas destas ideias estão resumi<strong>da</strong>s <strong>na</strong> palavraninkice, literalmente “remédio”, mas não o remédio que cui<strong>da</strong> ape<strong>na</strong>s de46 • vilson caetano de sousa júnior
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Textos publicados no Jornal A TARDE