em torno <strong>da</strong> noção de sacrifício<strong>na</strong>s religiões afro-brasileirasNão poucas são as vezes que ouvimos inúmerascríticas sobre o sacrifício <strong>na</strong>s religiões de matrizafrica<strong>na</strong>. Se por um lado esse desconfortopode ser explicado a partir de alguns preconceitos<strong>na</strong> <strong>palma</strong> <strong>da</strong> <strong>minha</strong> <strong>mão</strong> • 59
elacio<strong>na</strong>dos a estas religiões, essa aversão ao sacrifício também é algohistoricamente construído. Vale ain<strong>da</strong> fazermos a distinção entre o sacrifícioe a oferen<strong>da</strong>, embora o primeiro possa fazer parte do segundo emalguns momentos. Em linhas gerais, a oferen<strong>da</strong> é um presente. Presente étudo aquilo que serve como moe<strong>da</strong>, troca. Tomemos um mito <strong>da</strong> tradiçãojeje para explicar o sentido <strong>da</strong> oferen<strong>da</strong>. Conta-se que Xangô, o quartorei <strong>da</strong> di<strong>na</strong>stia de Oyó, após vários dias de viagem chegou à terra de Dan,reino do Dahomé. Vendo o cansaço do viajante, Dan recebeu Xangô commuita comi<strong>da</strong> e bebi<strong>da</strong>. Xangô recebeu com as duas <strong>mão</strong>s a gentileza deDan e aceitou a hospe<strong>da</strong>gem do povo do Dahomé. Xangô e Dan conversarammuito, fizeram amizade e perceberam que havia muita coisa emcomum <strong>na</strong> história dos seus antepassados. Quando chegou a hora deXangô deixar a “terra <strong>da</strong> cobra”, ele disse que partiria, mas em retribuição,todos os anos o seu povo viria reverenciar o povo de Dan. Assim,Xangô recebeu o nome de Sobô <strong>na</strong> terra de Dan e constituiu no reino deDahomé uma grande família, a família de Heviossô. Para as civilizaçõesafrica<strong>na</strong>s, o presente, a troca, é muito importante porque o valor <strong>da</strong>s coisasvai além do que está se ofertando, assim tudo é uma troca. Trocam--se coisas materiais e, com elas, bens simbólicos. Em outras palavras, oprincípio vital que está <strong>na</strong>s coisas. Outro exemplo de oferen<strong>da</strong> é aquelafeita quando entramos no mato para colher uma folha, to<strong>da</strong>via, talvez oexemplo mais ilustrativo <strong>da</strong>quilo que estamos querendo falar seja o tradicio<strong>na</strong>lpresente que anualmente as religiões de matriz africa<strong>na</strong> fazemàs águas. Oferen<strong>da</strong> é assim, tudo que se troca. No dia-a-dia, os noivostrocam as alianças, os recém-casados entrelaçam os braços para brin<strong>da</strong>ra felici<strong>da</strong>de, trocamos presentes o tempo todo e os retribuímos também.Em simples gestos, como “bom dia”, “como vai”, “sua benção”, estamostrocando gentilezas. O presente é bom para quem dá e bom para quemrecebe com as duas <strong>mão</strong>s, sem olhar o valor material. Assim, retribuir fazparte <strong>da</strong> dinâmica que move o ciclo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.60 • vilson caetano de sousa júnior
- Page 2 and 3:
na palma da minha mão
- Page 4 and 5:
VILSON CAETANO DE SOUSA JUNIORnapal
- Page 6:
A nossos pais e mães de quem ouvim
- Page 9 and 10: 93 • Os gêmeos e a inversão da
- Page 11 and 12: to de terreiros como patrimônio ma
- Page 13 and 14: cultura afro-baiana com uma criaç
- Page 15 and 16: mãos que os iniciados trocam a bê
- Page 17 and 18: não dá para trás.” Ou do relat
- Page 20 and 21: candomblé e modernidadeO tema “c
- Page 22: os terreiros, rios, uma língua rit
- Page 25 and 26: Fato é que para o chamado “povo
- Page 27 and 28: São, pois, estas memórias que con
- Page 30 and 31: a ciência e a tecnologia queos afr
- Page 32 and 33: do Dahomé, Abomé ou Danxomé, atu
- Page 34: eligiões de matriz africana, onde
- Page 40 and 41: que ignoram tal significado. Acredi
- Page 42 and 43: af r icanos ,seus descedentese econ
- Page 44 and 45: as doceiras “perderam o ponto”,
- Page 46 and 47: ancestralidadeafro-brasileiraO conc
- Page 48 and 49: uma parte do corpo, mas do corpo to
- Page 50: te, ou simplesmente balbuciadas no
- Page 54 and 55: candomblé e destino entrea advinha
- Page 56 and 57: com a morte, mas em viver a vida. Q
- Page 58 and 59: seres vivos, no sentido bem amplo d
- Page 62 and 63: Vamos agora falar sobre o sacrifíc
- Page 64 and 65: a expiatória. É quando a coisa sa
- Page 66: esu .
- Page 69 and 70: Diabo, entendido como adversário d
- Page 71 and 72: ção do mal, sugerida pelos missio
- Page 74: obaluaiyê
- Page 77 and 78: portuguesa e mestiça. Isso fez com
- Page 79 and 80: do aparelho urinário; Odé é resp
- Page 81 and 82: extenso, tem forma, é visível a n
- Page 83 and 84: primordial. Alguns orixás e nkise
- Page 86: odé
- Page 89 and 90: Médio e à Austrália. Depois fora
- Page 91 and 92: (Artocarpus heterophyllus) chamada
- Page 94 and 95: os gêmeos e a inversãoda mesaPara
- Page 96 and 97: pois não libertava a sua mãe. O n
- Page 98: Aos meninos é oferecida uma mesa,
- Page 101 and 102: oportunidade de demonstrar a import
- Page 103 and 104: cas, que construiu a sua família,
- Page 105 and 106: mulheres que, desafiando o seu temp
- Page 108 and 109: ao rei do mundo…Xangô é rei. É
- Page 110 and 111:
ele representou para a humanidade,
- Page 112:
oyá
- Page 115 and 116:
escuro deveria ser rasgado por uma
- Page 117 and 118:
çam graças à força emprestada p
- Page 120:
oxun
- Page 123 and 124:
O culto ao orixá Oxun, no Brasil,
- Page 126:
yemanjá
- Page 129 and 130:
santeiros. Como outros ancestrais n
- Page 131 and 132:
não pode ser encerrado na concepç
- Page 134 and 135:
iya agba yin,a mãe mais velhaDentr
- Page 136 and 137:
para Abeokuta, onde acreditava-se q
- Page 138:
quatro patas. Odé teria enlouqueci
- Page 142 and 143:
o ano bom para as religiõesde matr
- Page 144 and 145:
O Ciclo das Águas, especialmente n
- Page 146:
oxoguiã
- Page 149 and 150:
mais rápidos e o toque compassado
- Page 151 and 152:
consanguíneo de Tio Bangboxé, que
- Page 153 and 154:
da história das religiões de matr
- Page 155 and 156:
criar, reinventar e dar continuidad
- Page 158:
obá
- Page 161 and 162:
mesma, talvez por ela nos remeter a
- Page 163 and 164:
fender a sua dignidade através da
- Page 165 and 166:
______. Valores civilizatórios em
- Page 167:
Textos publicados no Jornal A TARDE