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Espaços e Paisagens. Vol. 1 - Universidade de Coimbra

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Roma nas vi d a S pa ra l e l a S <strong>de</strong> Plutarco<br />

chamava a planície da Beócia <strong>de</strong> orquestra <strong>de</strong> Ares e Xenofonte a Éfeso a oficina <strong>de</strong> guerra,<br />

assim também me parece que se po<strong>de</strong> dizer, segundo Píndaro, que a Roma <strong>de</strong>sse tempo era o<br />

“santuário do belicoso Ares”.<br />

Por um lado, a referência a Epaminondas e a Xenofonte prova que Plutarco<br />

não esquece que também a história grega está repleta <strong>de</strong> guerras internas, que<br />

terão, porventura, relegado para segundo plano a contemplação da beleza. Ficase<br />

com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os Gregos e os Romanos <strong>de</strong>senvolvem diferentes formas<br />

<strong>de</strong> arte, e que ambos os povos se vêem enredados, quase fatalmente, em guerras<br />

sucessivas, que os afastam da contemplação serena da arte. Por outro lado, ao<br />

citar o primeiro verso da IIª Pítica <strong>de</strong> Píndaro para classificar Roma (“santuário<br />

do belicoso Ares”), Plutarco acentua o carácter bélico dos Romanos, daí aprovar<br />

o acto <strong>de</strong> Marcelo, uma vez que essa seria uma forma <strong>de</strong> educar o povo romano e<br />

<strong>de</strong> o sensibilizar para o valor das obras <strong>de</strong> arte, obras essas que, segundo Cícero (in<br />

Verr. IV 54. 120-121), Marcelo <strong>de</strong>positou, em número consi<strong>de</strong>rável, num templo<br />

que ele próprio fundou em honra da Virtu<strong>de</strong>. Porventura por usar como fonte<br />

Posidónio, mais favorável à helenização <strong>de</strong> Roma, encontramos em Plutarco um<br />

tom laudatório da atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marcelo 15 , mas o mesmo não acontece em Políbio<br />

(9.10.1-3) nem em Tito Lívio (25.31.8-11, 25.40.1-3; 26.30.9; 26.31.9; 34.4.4),<br />

que preferem realçar o facto <strong>de</strong> a transferência das obras manifestar pouca<br />

clemência para com os Siracusanos, além <strong>de</strong> — e este é o aspecto mais importante<br />

— ter dado a conhecer o luxo aos Romanos, contribuindo para corromper os<br />

seus valores tradicionais. O próprio biógrafo refere que, nesta altura, a presença<br />

da cultura helénica não seria algo normal em Roma (Marc. 21.7):<br />

“Todavia, Marcelo vangloriava-se <strong>de</strong>stes feitos, mesmo junto dos Gregos, por ter ensinado os<br />

Romanos, que eram <strong>de</strong>sconhecedores, a apreciar e a admirar as belezas e as maravilhas da Grécia.”<br />

Nesse sentido, não escon<strong>de</strong> que a introdução da beleza helénica em Roma<br />

po<strong>de</strong>ria suscitar reacções diferentes, especialmente por alguns pensarem que<br />

isso iria trazer maior ódio para a cida<strong>de</strong>: 16<br />

“Por isso, Marcelo conseguiu ter maior reputação junto do povo, por ter adornado a cida<strong>de</strong> com<br />

a beleza, enquanto os mais ilustres apreciavam sobretudo Fábio Máximo.” 17<br />

Precisamente na biografia <strong>de</strong> Fábio Máximo, se <strong>de</strong>screve a acção do<br />

Cunctator, após a tomada <strong>de</strong> Tarento, quando leva para Roma uma estátua<br />

15 Vi<strong>de</strong> R. Flacelière & É. Chambry 1966: 218, n.1, J.-L. Ferrary1988: 275, 573-578. Estes<br />

estudos notam, ao contrário do texto <strong>de</strong> Plutarco, que os Romanos já tinham tido contacto<br />

com a arte grega, quando, em 272 a. C., tomaram Tarento; vi<strong>de</strong>, ainda, E. Gruen 1995: 94-103,<br />

123-9; a propósito das fontes que Plutarco usou para compor a biografia <strong>de</strong> Marcelo, remetemos<br />

para o estudo <strong>de</strong> C. Pelling1989: 203, n. 7.<br />

16 Marc. 21.4; atitu<strong>de</strong> semelhante acontece em Pel. 25, após o regresso <strong>de</strong> Pelópidas da<br />

Batalha <strong>de</strong> Leuctras.<br />

17 Cf. Fab. 22.8: praotes philantrophia <strong>de</strong> Marcelo, por oposição à filotimia <strong>de</strong> Fábio Máximo,<br />

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