Espaços e Paisagens. Vol. 1 - Universidade de Coimbra
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<strong>de</strong> Juno, por cujos templos passa. Mas estas fazem-na compreen<strong>de</strong>r que só<br />
Vénus a po<strong>de</strong>rá ajudar; a <strong>de</strong>usa está irritadíssima por ter sido enganada pelo<br />
filho e preten<strong>de</strong> punir Psique. Arrastada para casa da <strong>de</strong>usa, a jovem tem <strong>de</strong><br />
enfrentar diversas provas, praticamente impossíveis, impostas por Vénus. No<br />
entanto, po<strong>de</strong> contar com o auxílio <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s distintas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as simples<br />
formigas à águia <strong>de</strong> Júpiter, passando por uma torre e um canavial. Na sua<br />
última prova, Psique, mais uma vez, é culpada <strong>de</strong> incumprimento: em vez <strong>de</strong><br />
levar a Vénus, sem a abrir, a caixinha que Prosérpina lhe <strong>de</strong>ra, contendo um pó<br />
embelezador, ela <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> abri-la, para po<strong>de</strong>r ficar mais bela para o seu amado.<br />
Mas o que sai da caixa é um sono infernal, que imediatamente se apo<strong>de</strong>ra da<br />
jovem. Felizmente, Cupido apercebera-se entretanto da sua presença em casa<br />
da mãe e <strong>de</strong>cidiu ir em seu socorro. É ele que recolhe o sono <strong>de</strong> novo na caixa,<br />
acorda Psique e aconselha-a a entregá-la a Vénus, enquanto ele vai pedir a<br />
intercessão <strong>de</strong> Júpiter. Aqui chega ao fim a história <strong>de</strong>ste par amoroso: Júpiter<br />
conce<strong>de</strong> a Psique a imortalida<strong>de</strong> e celebra o seu casamento, numa gran<strong>de</strong> festa<br />
em que todos os <strong>de</strong>uses participam. Algum tempo <strong>de</strong>pois nascerá a sua filha,<br />
a Alegria.<br />
Neste resumo encontramos os vários traços do conto infantil (nalguns casos,<br />
até mesmo <strong>de</strong> lendas medievais): a jovem bela, filha <strong>de</strong> reis, o pacto com um<br />
marido <strong>de</strong>sconhecido – um monstro que acaba por se tornar no <strong>de</strong>us do amor<br />
–, a inveja das irmãs, a quebra do pacto e o consequente sofrimento, a punição<br />
<strong>de</strong> Vénus com a imposição <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> tarefas e, por fim, o casamento que<br />
<strong>de</strong>ixa entrever uma futura felicida<strong>de</strong> perene. Tudo isto encontramos em contos<br />
infantis, como a Cin<strong>de</strong>rela, a Bela e o Monstro, o Príncipe Urso, para referir<br />
apenas alguns. E, tal como no conto infantil, estes tópicos contribuem para<br />
uma análise profunda do conto e das suas implicações. Há, todavia, uma outra<br />
relação entre esta história e o conto infantil – o espaço.<br />
4. O espaço no conto e no romance<br />
O espaço no conto <strong>de</strong> Eros e Psique<br />
A questão do espaço apresenta algumas diferenças entre o conto e o romance.<br />
Neste sabe-se que a acção <strong>de</strong>corre na Grécia, iniciando-se na Tessália; sabemos<br />
também <strong>de</strong> on<strong>de</strong> é natural o narrador, on<strong>de</strong> recupera Lúcio a forma humana<br />
e qual será o seu <strong>de</strong>stino final – Roma. No entanto, nem tudo no percurso <strong>de</strong><br />
Lúcio é i<strong>de</strong>ntificado, o que po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ver-se ao facto <strong>de</strong> a sua narrativa conter<br />
algo <strong>de</strong> maravilhoso, <strong>de</strong> fantástico, <strong>de</strong> irreal. Se a metamorfose <strong>de</strong> Lúcio em<br />
burro tem algo <strong>de</strong> excepcional, muitas das histórias que nos conta inserem-se<br />
no âmbito do mitológico ou, pelo menos, aproximam-se <strong>de</strong>le. Aliás, o narrador<br />
não procura sequer ocultá-lo, como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> das constantes alusões a<br />
várias figuras mitológicas.<br />
A leitura do conto <strong>de</strong> Amor e Psique mostra-nos que a acção <strong>de</strong>corre<br />
em vários locais distintos. No entanto, estes nunca são especificados. Não há<br />
qualquer possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma localização efectiva dos mesmos. O rei e a rainha<br />
vivem numa cida<strong>de</strong> sem qualquer tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição. Po<strong>de</strong> ser qualquer cida<strong>de</strong>.<br />
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