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Espaços e Paisagens. Vol. 1 - Universidade de Coimbra

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<strong>de</strong>sconhece parcial ou totalmente é muitas vezes pintado com Adamastores<br />

imaginários.<br />

Na ilíada, Homero apresenta-nos a concepção da Terra como um disco<br />

achatado e ro<strong>de</strong>ado por um gran<strong>de</strong> rio, com a terra na parte central:<br />

248<br />

Ana Isabel Fonseca<br />

Tal como mais forte é Zeus do que os rios que murmuram até ao mar,<br />

Todas as fontes e todas as nascentes profundas. (il., 21, 194)<br />

É esta mesma a i<strong>de</strong>ia que está na base dos primeiros mapas-múndi.<br />

Anaximandro, no século VI a.C., terá escrito Geographikon pinaka, e Hecateu<br />

<strong>de</strong> Mileto (séc. VI-V) terá produzido um périplo da terra. Foi no século V a.C.<br />

que Heródoto fez questão <strong>de</strong> partilhar connosco, através dos seus nove livros,<br />

um conjunto <strong>de</strong> acontecimentos importantes. Nos seus relatos <strong>de</strong> viagens, o<br />

autor <strong>de</strong> Halicarnasso não se esqueceu <strong>de</strong> ir <strong>de</strong>screvendo não só os diferentes<br />

espaços físicos, mas também os povos, misturando geografia e etnografia.<br />

O contacto directo dos romanos com gregos interessados em geografia<br />

po<strong>de</strong>rá ter começado no Círculo dos Cipiões, com Políbio, com Posidónio e,<br />

no tempo <strong>de</strong> Augusto, com Estrabão. O interesse dos Romanos era <strong>de</strong> carácter<br />

prático, administrativo, estratégico e militar, sendo famosos os comentários dos<br />

gran<strong>de</strong>s conquistadores, como Júlio César para a Gália, e os mapas mandados<br />

<strong>de</strong>senhar em Roma e expostos para curiosida<strong>de</strong> geral no pórtico <strong>de</strong> Agripa.<br />

Antes <strong>de</strong> Tácito, sobressaem ainda os nomes <strong>de</strong> Pompónio Mela e <strong>de</strong> Plínio<br />

o Naturalista na sua vertente geográfica.<br />

É certo que Tácito ficou sobretudo conhecido pelos seus Annales e pelas suas<br />

Historiae. O seu interesse geográfico e etnográfico veio a revelar-se <strong>de</strong> modo<br />

especial na Germania e no Agricola. Esta obra, embora um texto biográfico,<br />

vai também <strong>de</strong>bruçar-se sobre várias outras questões: ao compor a vida do<br />

seu sogro, e tendo consciência da importância das suas expedições nas regiões<br />

britânicas, Tácito vai também acabar, consciente ou inconscientemente, por<br />

nos <strong>de</strong>screver a própria Britannia.<br />

Começando pela geografia física, é no décimo capítulo que Tácito refere as<br />

coor<strong>de</strong>nadas geográficas da ilha:<br />

Britannia, insularum quas Romana notitia complectitur maxima, spatio ac caelo in orientem<br />

Germaniae, in occi<strong>de</strong>ntem Hispaniae obtenditur, Gallis in meridiem etiam inspicitur;<br />

septentrionalia eius, nullis contra terris, uasto atque aperto mari pulsantur.<br />

A Britânia, a maior das ilhas conhecidas dos Romanos pela sua extensão e posição, esten<strong>de</strong>se,<br />

com a Germânia a oriente e a Hispânia a oci<strong>de</strong>nte. Do lado sul, é mesmo visível para os<br />

Gauleses. A sua parte norte, sem nenhuma terra à sua frente, é banhada por um vasto e largo<br />

mar.<br />

Logo <strong>de</strong> seguida, Tácito refere-se aos contornos <strong>de</strong>sta ilha segundo Tito<br />

Lívio e Fábio Rústico: “oblongae scutulae uel bipenni adsimulauere” (que

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