Espaços e Paisagens. Vol. 1 - Universidade de Coimbra
Espaços e Paisagens. Vol. 1 - Universidade de Coimbra
Espaços e Paisagens. Vol. 1 - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
TEBAS: A CIDADE DE DIONISO<br />
O CASO DE HÉRACLES DE EURÍPIDES<br />
Sofia Fra<strong>de</strong><br />
universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa<br />
sifra<strong>de</strong>@fl.ul.pt<br />
Abstract<br />
The most recent studies about ancient Greek tragedy link the dionisiac to the patterns<br />
of tragic action and to its political references. In the extant Attic tragedy, Thebes is the most<br />
important city in the repetition of these patterns. Starting fom a reading of Euripi<strong>de</strong>s’ Heracles,<br />
this article analyses the repetition of these patterns and their resolution.<br />
Keywords: Dionysus, Heracles, Thebes, tragedy.<br />
Palavras-chave: Dioniso, Héracles, Tebas, tragédia.<br />
A relação entre a figura <strong>de</strong> Héracles e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tebas enunciada no<br />
título <strong>de</strong>sta comunicação po<strong>de</strong> não parecer óbvia à partida. A ligação entre o<br />
maior herói do mundo grego e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Édipo não é, em termos míticos,<br />
necessária. No entanto, ao criar o seu Héracles, Eurípi<strong>de</strong>s opta por colocar a<br />
acção em Tebas. Para compreen<strong>de</strong>r esta opção é, parece-me, fundamental<br />
compreen<strong>de</strong>r o papel <strong>de</strong> Tebas na tragédia do século V a.C..<br />
Em primeiro lugar é fundamental clarificar que, quando nos referimos<br />
a Tebas na tragédia ática, não estamos a falar da cida<strong>de</strong> com uma realida<strong>de</strong><br />
histórica que se encontra a pouco mais <strong>de</strong> 80 km <strong>de</strong> Atenas. Toda a nossa<br />
reflexão tem por base não a realida<strong>de</strong> física da cida<strong>de</strong>, mas a sua construção<br />
literária no palco do teatro <strong>de</strong> Dioníso em Atenas no séc V. a.C. Em artigo<br />
relativamente recente, Froma Zeitlin <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a imagem que Atenas<br />
constrói <strong>de</strong> Tebas no palco trágico correspon<strong>de</strong> a uma inversão da imagem que<br />
tem <strong>de</strong> si mesma, uma espécie <strong>de</strong> negativo daquilo que i<strong>de</strong>aliza <strong>de</strong> si 1 .<br />
Defen<strong>de</strong> Zeitlin que, dos espaços míticos, Tebas é o espaço trágico <strong>de</strong><br />
eleição. Por um lado é a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Édipo, figura em torno da qual gira o ciclo<br />
mítico mais aproveitado na tragédia ática, por outro, toda a história mítica<br />
da cida<strong>de</strong> é profícua em material trágico: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação da cida<strong>de</strong> por<br />
Cadmo por meio da morte do dragão <strong>de</strong> Ares 2 . A figura <strong>de</strong>sta divinda<strong>de</strong>, que<br />
representa o que <strong>de</strong> mais violento e menos racional tem a guerra, surge como<br />
um espectro sobre a cida<strong>de</strong>, por vezes ténue, por vezes palpável: encontramo-la<br />
nos primeiros autóctones da cida<strong>de</strong>, os Spartoi, que imediatamente se dilaceram,<br />
1 Zeitlin 1986: 116 ss.<br />
2 Zeitlin 1986: 101ss.<br />
29