Espaços e Paisagens. Vol. 1 - Universidade de Coimbra

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O ESPAçO BRITâNICO E A PAISAGEM NO AGRiCOLA DE TÁCITO 1 Ana Isabel Fonseca universidade de Coimbra anafonseca@ci.uc.pt Abstract The unknown has always attracted and fascinated human beings and has led them to go beyond their own limits. The point is that all those who interact with their surrounding world are progressively trying to increase their experiences and so their real sophia. Some have even made a point of sharing their testimony, of leaving their work to posterity. In Agricola, Tacitus gives us the profile of a man whose moral integrity should be remembered by future generations, not only because of his military performance, but also due to his humanity. In this biography, space element is always associated with this man’s life and is in panegyric service, a demand of the biographical speech. In this short study, we will try to understand the importance of the physical space of Britain in one of Tacitus’ minor works. Besides, as we speak about space, we will also approach questions directly connected not only with physical geography, but also with human geography known in the first century d.C.. We will also find out, among many others aspects, the exactitude of geographical localization and phenomena observed in loco concerning with the durability of day and night, which have an extremely important influence on the lives of those who inhabit in those areas. Keywords: Agricola, Britain, Tacitus. Palavras-chave: Agricola, Grã-Bretanha, Tácito. A viagem da descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas em ver com novos olhos. Marcel Proust Desde os tempos mais remotos que o ser humano demonstrou o seu fascínio pelo desconhecido. De facto, o mundo que se conhece consegue ser relativamente representado de modo fiel, enquanto que aquele que ainda se 1 A presente comunicação resulta de uma investigação realizada no âmbito da dissertação do mestrado em Estudos Clássicos sobre o Agricola de Tácito orientada pelo professor Doutor Francisco de Oliveira. A este grande mestre cabe então endereçar os meus agradecimentos por todo o incentivo e apoio demonstrado desde o início. 247
desconhece parcial ou totalmente é muitas vezes pintado com Adamastores imaginários. Na ilíada, Homero apresenta-nos a concepção da Terra como um disco achatado e rodeado por um grande rio, com a terra na parte central: 248 Ana Isabel Fonseca Tal como mais forte é Zeus do que os rios que murmuram até ao mar, Todas as fontes e todas as nascentes profundas. (il., 21, 194) É esta mesma a ideia que está na base dos primeiros mapas-múndi. Anaximandro, no século VI a.C., terá escrito Geographikon pinaka, e Hecateu de Mileto (séc. VI-V) terá produzido um périplo da terra. Foi no século V a.C. que Heródoto fez questão de partilhar connosco, através dos seus nove livros, um conjunto de acontecimentos importantes. Nos seus relatos de viagens, o autor de Halicarnasso não se esqueceu de ir descrevendo não só os diferentes espaços físicos, mas também os povos, misturando geografia e etnografia. O contacto directo dos romanos com gregos interessados em geografia poderá ter começado no Círculo dos Cipiões, com Políbio, com Posidónio e, no tempo de Augusto, com Estrabão. O interesse dos Romanos era de carácter prático, administrativo, estratégico e militar, sendo famosos os comentários dos grandes conquistadores, como Júlio César para a Gália, e os mapas mandados desenhar em Roma e expostos para curiosidade geral no pórtico de Agripa. Antes de Tácito, sobressaem ainda os nomes de Pompónio Mela e de Plínio o Naturalista na sua vertente geográfica. É certo que Tácito ficou sobretudo conhecido pelos seus Annales e pelas suas Historiae. O seu interesse geográfico e etnográfico veio a revelar-se de modo especial na Germania e no Agricola. Esta obra, embora um texto biográfico, vai também debruçar-se sobre várias outras questões: ao compor a vida do seu sogro, e tendo consciência da importância das suas expedições nas regiões britânicas, Tácito vai também acabar, consciente ou inconscientemente, por nos descrever a própria Britannia. Começando pela geografia física, é no décimo capítulo que Tácito refere as coordenadas geográficas da ilha: Britannia, insularum quas Romana notitia complectitur maxima, spatio ac caelo in orientem Germaniae, in occidentem Hispaniae obtenditur, Gallis in meridiem etiam inspicitur; septentrionalia eius, nullis contra terris, uasto atque aperto mari pulsantur. A Britânia, a maior das ilhas conhecidas dos Romanos pela sua extensão e posição, estendese, com a Germânia a oriente e a Hispânia a ocidente. Do lado sul, é mesmo visível para os Gauleses. A sua parte norte, sem nenhuma terra à sua frente, é banhada por um vasto e largo mar. Logo de seguida, Tácito refere-se aos contornos desta ilha segundo Tito Lívio e Fábio Rústico: “oblongae scutulae uel bipenni adsimulauere” (que
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