mães desdobráveis - Departamento de História - Universidade ...
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Dentre os trabalhados que problematizam a história oral – estudos que promovem o<br />
enriquecimento e o maior entendimento da metodologia – <strong>de</strong>stacamos as coletâneas Women’s<br />
Words. The feminist practice of oral history 14 e Women’s oral history: The Frontiers<br />
Rea<strong>de</strong>r 15 . Assim sendo, notamos, em primeiro lugar, a importância da comunicação ao utilizar<br />
esse método com mulheres. Numa entrevista, as narradoras expõem um formidável grau <strong>de</strong><br />
competência na fala, posicionando o corpo e expressando-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada maneira, sabendo<br />
que seu <strong>de</strong>sempenho se tornará público. Dessa forma, ressaltamos a atenção para a entonação<br />
vocal e a linguagem corporal, já que as palavras não estão sozinhas, havendo sempre gestos e<br />
expressões que as acompanham. Entretanto, existem diferenças que <strong>de</strong>vem ser vistas nas<br />
entrevistas envolvendo homens e as que têm mulheres como narradoras. “Assim, para as<br />
meninas, comunicação é a oportunida<strong>de</strong> para estabelecer igualda<strong>de</strong> e intimida<strong>de</strong> em grupos<br />
relativamente pequenos e particulares; para meninos, comunicação é o local para contestar<br />
dominância em grupos hierarquicamente estruturados que são públicos e relativamente<br />
amplos” 16 . Essas diferenças não são <strong>de</strong>terminadas pela genética, mas são socialmente<br />
construídas, numa contínua <strong>de</strong>svalorização da fala das mulheres, o que impe<strong>de</strong> que muitas<br />
mulheres se sintam confortáveis ao falar em público.<br />
Tendo isso em mente, é preciso usar a história oral <strong>de</strong> forma diferenciada com as<br />
mulheres na busca <strong>de</strong> obter informações mais confiáveis e válidas. Não conseguiremos ouvir<br />
o que mulheres consi<strong>de</strong>ram essencial para suas vidas a não ser que legitimemos um contexto<br />
sócio-comunicativo feminino para a situação da história oral, pois, diferentemente dos<br />
homens, as mulheres conversam sobre assuntos pessoais refletindo o que são e não o que elas<br />
fazem ou fizeram. Além disso, <strong>de</strong>vemos atentar para a importância do “ritmo especial” 17 das<br />
mulheres, não importando quem nós escolhemos para entrevistar, quão típicas ou atípicas são<br />
suas experiências <strong>de</strong> vida; há certamente um fio comum comunicativo que liga todas as<br />
mulheres.<br />
Pensando na linguagem corporal Kristina Minister avalia, <strong>de</strong>monstrando a<br />
particularida<strong>de</strong> da comunicação feminina, o comportamento <strong>de</strong> mulheres numa conversação<br />
14<br />
GLUCK, Sherna Berger & PATAI, Daphne. (Eds.) Women’s Words. The feminist practice of oral history.<br />
New York/London : Routledge, 1991.<br />
15<br />
ARMITAGE, Susan H.; HART, Patricia; WEATHERMON, Karen. (Eds.) Women’s Oral History: The<br />
“Frontiers” Rea<strong>de</strong>r. Lincoln : University of Nebraska Press, 2002.<br />
16<br />
MINISTER, Kristina. “A feminist frame for the oral history interview”. In: GLUCK, Sherna Berger & PATAI,<br />
Daphne. (Eds.) Women’s Words. The feminist practice of oral history. New York/London : Routledge, 1991,<br />
p. 30. (Tradução nossa).<br />
17<br />
Special rhythm. Sobre o “ritmo especial”, Gluck escreve: “Registrar esse ritmo é importante para documentar<br />
as vidas e experiências <strong>de</strong> todas estas mulheres: [...] para investigar plenamente as suas vidas e ativida<strong>de</strong>s e para<br />
gravar as suas histórias, para só então vermos o quadro completo da vida das mulheres, e como o seu ritmo tem<br />
afetado nossas vidas.” (p. 4. Tradução nossa)<br />
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