mães desdobráveis - Departamento de História - Universidade ...
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assumir a história oficial, ao invés <strong>de</strong> fazer a sua própria). Essas memórias, apesar <strong>de</strong> não-<br />
ditas, po<strong>de</strong>m sobreviver também durante muitos anos reclusas, segundo Pollak, “opondo-se à<br />
mais legítima das memórias coletivas, a memória nacional, essas lembranças são transmitidas<br />
no quadro familiar, em associações, em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> afetiva e/ou política. Essas<br />
lembranças [...] são zelosamente guardadas em estruturas <strong>de</strong> comunicação informais e passam<br />
<strong>de</strong>spercebidas pela socieda<strong>de</strong> englobante” 34 . Porém <strong>de</strong>ve-se tomar cuidado com esse tipo <strong>de</strong><br />
lembrança, necessitando saber a influência do presente sobre ela: “Distinguir entre<br />
conjunturas favoráveis ou <strong>de</strong>sfavoráveis às memórias marginalizadas é <strong>de</strong> saída reconhecer a<br />
que ponto o presente colore o passado. Conforme as circunstâncias, ocorre a emergência <strong>de</strong><br />
certas lembranças, a ênfase é dada a um ou outro aspecto” 35 . Dessa forma, po<strong>de</strong>mos analisá-la<br />
<strong>de</strong> forma mais precisa em sua transmissão, o que permite sua maior organização.<br />
A memória <strong>de</strong>ve ser observada sob vários ângulos, pois é um espaço <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>res em que a seletivida<strong>de</strong> e a construção atuam constantemente. Enten<strong>de</strong>mos o caráter<br />
seletivo e construtivo da memória como natural na vida dos sujeitos, pois não há quem possa<br />
guardar todos os acontecimentos que lhe passaram durante a vida, sendo o esquecimento parte<br />
integrante do processo <strong>de</strong> memorização. Em conseqüência da seletivida<strong>de</strong>, alguns eventos são<br />
armazenados e outros são esquecidos. É o “enquadramento da memória” 36 . Po<strong>de</strong>mos<br />
consi<strong>de</strong>rar que, <strong>de</strong> acordo com inquietações pessoais ou políticas pertencentes ao presente do<br />
sujeito, é selecionado o que será preservado na memória, o que permite, <strong>de</strong>ssa forma, afirmar<br />
que a memória, assim como o esquecimento, po<strong>de</strong> se tornar um instrumento <strong>de</strong> dominação,<br />
como afirma Le Goff:<br />
“A memória coletiva foi um importante elemento da luta das forças sociais pelo po<strong>de</strong>r. Tornar-se senhor<br />
da memória e do esquecimento é uma das gran<strong>de</strong>s preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos<br />
que dominaram e dominam as socieda<strong>de</strong>s históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são<br />
reveladores <strong>de</strong>sses mecanismos <strong>de</strong> manipulação da memória coletiva” 37 .<br />
34 POLLAK, op. cit., p. 8.<br />
35 I<strong>de</strong>m, loc. cit.<br />
36 Segundo Pollak, com base em Henry Rousso, “todo trabalho <strong>de</strong> enquadramento <strong>de</strong> uma memória <strong>de</strong> grupo tem<br />
limites, pois ela não po<strong>de</strong> ser construída arbitrariamente. Esse trabalho <strong>de</strong>ve satisfazer a certas exigências <strong>de</strong><br />
justificação [...]. O trabalho <strong>de</strong> enquadramento da memória se alimenta do material fornecido pela história. Esse<br />
material po<strong>de</strong> sem dúvida ser interpretado e combinado a um sem-número <strong>de</strong> referências associadas; guiado pela<br />
preocupação não apenas <strong>de</strong> manter as fronteiras sociais, mas também <strong>de</strong> modificá-las, esse trabalho reinterpreta<br />
incessantemente o passado em função dos combates do presente e do futuro. Mas, assim como a exigência <strong>de</strong><br />
justificação [...] limita a falsificação pura e simples do passado na sua reconstrução política, o trabalho<br />
permanente <strong>de</strong> reinterpretação do passado é contido por uma exigência <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<br />
coerência dos discursos sucessivos” (pp. 9-10. Grifo nosso).<br />
37 LE GOFF, op. cit., p. 442.<br />
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