mães desdobráveis - Departamento de História - Universidade ...
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Estados <strong>de</strong> bem-estar europeus. No mesmo caminho temos a historiadora Marcela Nari que<br />
trata do maternalismo político na Argentina 66 , observando como esta política influenciou na<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das mulheres como <strong>mães</strong>, papel este que foi produzido e interpretado por<br />
diferentes agentes e instituições como exclusivo e origem da felicida<strong>de</strong> e realização pessoal<br />
das mulheres. No Brasil esta é ainda uma área temática relativamente nova, envolvendo<br />
pesquisadoras não só da história, com também da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, da sociologia e da<br />
antropologia. Dentro dos autores que se <strong>de</strong>dicam ao tema <strong>de</strong>stacamos Maria Lúcia Mott 67 e<br />
Ana Paula Vosne Martins 68 , analisando tanto o papel das mulheres na formação das políticas<br />
públicas quanto na recepção das mesmas.<br />
O <strong>de</strong>bate sobre a maternida<strong>de</strong> na história é relativamente recente. As abordagens são<br />
diversificadas, encontrando-se no campo da história social, cultural e política. No entanto há<br />
um privilégio no enfoque das relações entre a maternida<strong>de</strong> e as políticas <strong>de</strong> proteção dos<br />
Estados <strong>de</strong> bem-estar social, como as pesquisas <strong>de</strong>stacadas acima, <strong>de</strong>ixando em segundo<br />
plano o estudo das experiências maternas, objeto que buscamos aqui trabalhar.<br />
Segundo a já citada historiadora Ana Paula Vosne Martins, a maternida<strong>de</strong> é alvo<br />
recorrente <strong>de</strong> uma diversificada produção incluindo a escrita feminista, os textos médico-<br />
científicos, religiosos, entre outros 69 . Assim, po<strong>de</strong>mos afirmar que a historiografia ampliou<br />
consi<strong>de</strong>ravelmente seu campo <strong>de</strong> atuação, emergindo novos temas e novos objetos, ou seja,<br />
novos sujeitos femininos passaram a ser incluídos nas produções historiográficas, “partindo-<br />
se inicialmente das trabalhadoras e militantes, para incluir-se, em seguida, as bruxas, as<br />
prostitutas, as freiras, as parteiras, as loucas, as domésticas, as professoras, entre outras” 70 .<br />
Dessa forma afirmamos que “a ampliação do conceito <strong>de</strong> cidadania, o direito à história e à<br />
memória não se processavam apenas no campo dos movimentos sociais, passando a ser<br />
incorporados no discurso, ou melhor, no próprio âmbito do processo da produção do<br />
conhecimento” 71 .<br />
No entanto, nossa pesquisa vai numa outra direção da maioria dos trabalhos por nós<br />
conhecidos porque se sustenta nos relatos <strong>de</strong> mulheres/<strong>mães</strong>, buscando, assim, respostas às<br />
66<br />
NARI, Marcela. Políticas <strong>de</strong> maternidad y maternalismo político. Buenos Aires, 1890-1940. Buenos Aires<br />
: Biblos, 2004.<br />
67<br />
MOTT, Maria Lúcia. Maternalismo, políticas públicas e benemerência no Brasil. 1930-1945. Ca<strong>de</strong>rnos<br />
Pagu, n o 16, 2001.<br />
68<br />
MARTINS, Ana Paula Vosne. “O Estado, as <strong>mães</strong> e os filhos: políticas <strong>de</strong> proteção à maternida<strong>de</strong> e à infância<br />
no Brasil na primeira meta<strong>de</strong> do século XX”. Humanitas. V. 21, N. 1/2, 2005.<br />
69<br />
MARTINS, “Dar a luz: experiência da maternida<strong>de</strong> na transição do parto doméstico para o parto hospitalar”.<br />
Projeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> pós-doutorado apresentado ao CNPQ, Nov., 2004.<br />
70<br />
RAGO, op. cit., p. 14.<br />
71 I<strong>de</strong>m, loc. cit.<br />
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