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mães desdobráveis - Departamento de História - Universidade ...

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elementos que nos sejam exteriores, o processo <strong>de</strong> construção da memória passa sempre por<br />

um referencial, o sujeito.<br />

Para exemplificar a “reconstrução do passado”, Ecléa Bosi nos apresenta a situação <strong>de</strong><br />

releitura, na fase adulta, <strong>de</strong> um livro apreciado na juventu<strong>de</strong>. À primeira vista julga-se que a<br />

memória nos faça reviver as sensações experimentadas na fase anterior, mas, segundo a<br />

autora, isso não se dá pois em cada momento da vida temos preocupações e reações distintas,<br />

atentando para <strong>de</strong>talhes que anteriormente tinham passado <strong>de</strong>sapercebidos e promovendo<br />

outros tipos <strong>de</strong> idéias e reflexões. “Não se lê duas vezes o mesmo livro, isto é, não se relê da<br />

mesma maneira o livro. O conjunto <strong>de</strong> nossas idéias atuais, principalmente sobre a socieda<strong>de</strong>,<br />

nos impediria <strong>de</strong> recuperar exatamente as impressões e os sentimentos experimentados a<br />

primeira vez” 28 . E isso se dá da mesma forma ao se incitar a lembrança <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados<br />

acontecimentos na história oral. Por mais que nossos entrevistados pensem que estão<br />

relatando o evento da forma que ocorreu, essa memória tem forte influência do presente,<br />

impregnado <strong>de</strong> conceitos atuais, o que não significa que não possua veracida<strong>de</strong>:<br />

“A experiência da releitura é apenas um exemplo, entre muitos, da dificulda<strong>de</strong>, senão da<br />

impossibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> reviver o passado tal e qual; impossibilida<strong>de</strong> que todo sujeito que lembra tem em<br />

comum com o historiador. Para este também se coloca a meta i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> refazer, no discurso presente,<br />

acontecimentos pretéritos, o que, a rigor, exigiria se tirassem dos túmulos todos os que agiram ou<br />

testemunharam os fatos a serem evocados. Posto o limite fatal que o tempo impõe ao historiador, não<br />

lhe resta senão reconstruir, no que lhe for possível, a fisionomia dos acontecimentos. Nesse esforço<br />

exercer um papel condicionante todo o conjunto <strong>de</strong> noções presentes que, involuntariamente, nos obriga<br />

a avaliar (logo, a alterar) o conteúdo das memórias” 29 .<br />

Ao trabalhar com a relação entre memória e história, Halbwachs afirma que a memória<br />

coletiva é pautada na continuida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser vista sempre no plural, ou seja, são memórias<br />

coletivas. Já o que enten<strong>de</strong>mos por história é compreensão da sucessão <strong>de</strong> acontecimentos<br />

marcantes <strong>de</strong> um país e que não se resumem em datas, nomes e fórmulas, mas em correntes <strong>de</strong><br />

pensamento e <strong>de</strong> experiência on<strong>de</strong> reencontramos nosso passado. Logo, pensando a partir da<br />

história, as memórias coletivas são apenas <strong>de</strong>talhes: “O que justifica ao historiador estas<br />

pesquisas <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhe, é que o <strong>de</strong>talhe somado ao <strong>de</strong>talhe resultará num conjunto, esse conjunto<br />

se somará a outros conjuntos, e que no quadro total que resultará <strong>de</strong> todas essas sucessivas<br />

somas, nada está subordinado a nada, qualquer fato é tão interessante quanto o outro, e<br />

merece ser enfatizado e transcrito na mesma medida” 30 . Nesse sentido, Halbwachs afirma que<br />

a maior diferença entre esses dois elementos está no fato da história ser entendida como o<br />

28 BOSI, op. cit., p. 21.<br />

29 I<strong>de</strong>m, loc. cit. (Grifo original).<br />

30 HALBWACHS, op. cit., p. 85.<br />

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