mães desdobráveis - Departamento de História - Universidade ...
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“as questões, formuladas a partir <strong>de</strong> um novo lugar e por um sujeito que, até então, ficara<br />
afastado da construção da teoria e do conhecimento, não se pretendiam distante das lutas e<br />
dos movimentos sociais, ao contrário, nutriam-se <strong>de</strong>les” 42 . Portanto, segundo Guacira Louro,<br />
havia um questionamento da objetivida<strong>de</strong> e da neutralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta categoria por parte da<br />
historiografia.<br />
Ao utilizar a categoria gênero, as pesquisadoras estariam realizando um estudo da<br />
diferenciação entre os sexos, assim, os primeiros historiadores, nos anos 1970, acreditavam<br />
estar produzindo uma nova história. Entretanto, “a maneira como esta nova história iria<br />
simultaneamente incluir e apresentar a experiência das mulheres <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria da maneira como<br />
o gênero po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>senvolvido enquanto categoria <strong>de</strong> análise” 43 . Dessa forma, estes<br />
pesquisadores recorreram a analogias com a categoria classe e a categoria raça para escrever a<br />
nova história. Durante este período, eram polêmicos os <strong>de</strong>bates sobre epistemologia inseridos<br />
nos estudos feministas, pois os pressupostos metodológicos e conceituais utilizados pelos<br />
pesquisadores eram diferentes, gerando muitas discussões e questionamentos.<br />
Segundo Louro, com a entrada dos estudos <strong>de</strong> gênero na aca<strong>de</strong>mia, uma das principais<br />
mudanças epistemológicas que as pesquisadoras enfrentaram foi a renúncia da elaboração <strong>de</strong><br />
uma história das mulheres e sobre elas, propondo trabalhos voltados para a construção social e<br />
cultural do feminino e do masculino. A ênfase, portanto, passou para a constituição dos<br />
sujeitos nas relações sociais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, ou seja, as relações <strong>de</strong> gênero seriam constituídas por<br />
re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e assim articuladas com outras divisões sociais como, por exemplo, etnia,<br />
classe, raça e sexualida<strong>de</strong>. Além disso, para garantir uma legitimida<strong>de</strong> acadêmica, o gênero<br />
foi muito associado, e ainda é, à categoria “mulheres”.<br />
O estudo <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que passou a ser utilizado, já sofreu inúmeras mudanças.<br />
Primeiramente era <strong>de</strong>finido como percepção <strong>de</strong> feminino e masculino a partir da cultura,<br />
enquanto a natureza <strong>de</strong>finiria o sexo biológico. Atualmente as pesquisas colocam essa<br />
percepção em mútua influência do natural e do cultural. Junto a isso, as relações <strong>de</strong> gênero<br />
passam a ser trabalhadas <strong>de</strong> várias formas e sob outras vertentes nos anos <strong>de</strong> 1980 e 1990,<br />
como por exemplo, marxistas, psicanalíticas, foucaultianas e pós-estruturalistas: “as pós-<br />
estruturalistas, com Derrida e Foucault à frente, dissolvendo os sujeitos e apontando para a<br />
dimensão relacional da nova categoria” e rompendo com o antigo estigma feminista que<br />
afirmava as mulheres como submetidas aos homens, dando espaço a novas formas <strong>de</strong><br />
interpretação e consi<strong>de</strong>rando as múltiplas formas <strong>de</strong> feminilida<strong>de</strong> e masculinida<strong>de</strong>; “as<br />
42 LOURO, op. cit., p.13.<br />
43 SCOTT, op. cit.<br />
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