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mães desdobráveis - Departamento de História - Universidade ...

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natural, uma vez que mulher é um ser humano dotado <strong>de</strong> diversos sentimentos, como a<br />

frustração e indignação, que não estão ligados à sua chamada “função específica e natural”.<br />

No capítulo que trata sobre a maternida<strong>de</strong>, do livro já citado, Beauvoir afirma:<br />

“Gravi<strong>de</strong>z e maternida<strong>de</strong> são vividas <strong>de</strong> maneira muito diferente, segundo se <strong>de</strong>senvolvam na revolta,<br />

na resignação, na satisfação, no entusiasmo. É preciso consi<strong>de</strong>rar que as <strong>de</strong>cisões e os sentimentos<br />

confessados da jovem mãe nem sempre correspon<strong>de</strong>m a seus <strong>de</strong>sejos profundos. [...] vêem-se<br />

igualmente <strong>de</strong>snorteadas pelas contradições e os conflitos que nelas ocorrem” 60 .<br />

Na mesma linha temos o livro Mística Feminina <strong>de</strong> Betty Friedan, publicado em<br />

1963. Ao entrevistar mulheres que ficavam restritas à atuação no âmbito doméstico,<br />

empresários da época, médicos e publicitários, <strong>de</strong>nuncia e argumenta sobre o papel da mulher<br />

como um ser que pertence somente ao lar e a situação <strong>de</strong> frustração vivenciada pelas norte-<br />

americanas, o que ia contra o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrado nas propagandas da época: da<br />

imagem da mulher mistificada, mãe que vive para os filhos, não tendo interesses fora do<br />

quadrante do lar, das crianças, da família ou da própria beleza. “[...] A mulher americana fez<br />

uma escolha errônea. Correu para casa, a fim <strong>de</strong> viver somente seu papel sexual, trocando a<br />

individualida<strong>de</strong> pela segurança. O marido seguiu-a e a porta fechou-se ao mundo exterior” 61 .<br />

De gran<strong>de</strong> inspiração para as feministas do período, é consi<strong>de</strong>rada a precursora da segunda<br />

onda feminista, já que sua obra, apesar <strong>de</strong> tratar da situação dos Estados Unidos, pô<strong>de</strong> ser lida<br />

e interpretada nas diferentes conjunturas vivenciadas por mulheres em todo o mundo.<br />

No entanto, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ssa década <strong>de</strong> 70, pesquisadores passam a questionar as<br />

possibilida<strong>de</strong>s da categoria “mulheres”, ditas como grupo homogêneo, e transferem o foco<br />

para a utilização da “diferença”, acreditando na <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas<br />

naturais e na existência <strong>de</strong> múltiplas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Nesse sentido, “as teóricas feministas<br />

propuseram não apenas que o sujeito <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser tomado como ponto <strong>de</strong> partida, mas que<br />

fosse consi<strong>de</strong>rado dinamicamente como efeito das <strong>de</strong>terminações culturais, inserido em um<br />

campo <strong>de</strong> complexas relações sociais, sexuais e étnicas” 62 , ou seja, a mulher agora não é mais<br />

vista como biologicamente pré-<strong>de</strong>terminada, e sim possuindo uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> constituída<br />

tanto cultural quanto socialmente nas relações sociais e sexuais, não sendo mais um sujeito<br />

universal, como antes visto pela historiografia.<br />

Essa mudança também é percebida na forma <strong>de</strong> se trabalhar com a maternida<strong>de</strong>. Com<br />

o feminismo da diferença, 1970-1980, o enfoque das autoras recaiu sobre a alterida<strong>de</strong><br />

60 BEAUVOIR, op. cit., p. 258.<br />

61 FRIEDAN, op. cit., p. 178.<br />

62 RAGO, op. cit., p. 6.<br />

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