Esquistossomose mansônica: aspectos sócio-culturais em ...
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<strong>Esquistossomose</strong> <strong>mansônica</strong>: <strong>aspectos</strong> <strong>sócio</strong>-<strong>culturais</strong>... Daniella Coelho G. da Silva<br />
Conhecer a representação da esquistossomose <strong>em</strong> duas comunidades diferentes<br />
foi uma tarefa que necessitou uma percepção apurada dos minúsculos detalhes, foi<br />
preciso olhar além do que estava sendo visto e escutar além do que estava sendo falado.<br />
Descobrir como é percebida uma doença numa comunidade, ou seja, como<br />
aquela doença faz parte daquele contexto nos fez imergir no imaginário de populações<br />
que possu<strong>em</strong> características <strong>culturais</strong> internamente reconhecidas.<br />
A esquistossomose <strong>mansônica</strong> é uma doença que apresenta um forte componente<br />
ambiental, pois, parte do ciclo de vida do parasita se desenvolve <strong>em</strong> coleções de água<br />
doce e a transmissão da doença está condicionada à poluição fecal dessas águas.<br />
As duas comunidades trabalhadas apresentaram <strong>aspectos</strong> <strong>culturais</strong> diferentes e<br />
bastante relevantes que interfer<strong>em</strong> diretamente no comportamento de seus moradores.<br />
Vila Sotave II é uma região tipicamente urbana, localizada à marg<strong>em</strong> de grandes<br />
centros, dos quais depende economicamente. Grande parte dos seus moradores não teve<br />
oportunidade de desenvolver uma educação formal, resultando <strong>em</strong> uma população<br />
marginalizada socialmente. A cultura local foi constituída pela união de vários<br />
el<strong>em</strong>entos <strong>sócio</strong>-<strong>culturais</strong>, estabelecendo-se como uma comunidade recente, cuja atual<br />
população é proveniente de localidades diversas.<br />
Com relação à qualidade de vida, é uma população que se mostra assustada com<br />
a violência urbana, receando estabelecer contatos com pessoas de fora. O medo da<br />
violência era refletido no olhar, na restrição da fala, numa postura de silêncio por parte<br />
dos moradores. Mostravam muita cautela <strong>em</strong> iniciar qualquer tipo de explanação verbal<br />
ou postural, evitando qualquer comprometimento pessoal. Parecia haver um pacto<br />
coletivo de silêncio, pois poucas pessoas conseguiram falar claramente sobre os fatos<br />
relacionados com a violência do seu cotidiano. Com sérias restrições financeiras essas<br />
pessoas acreditavam não haver uma mudança nas suas vidas, mostravam um ar de<br />
derrota nas expressões, parecendo haver desistido de lutar contra aquelas condições.<br />
Muitos acreditam que aquele destino foi estabelecido por Deus e os jovens apresentam a<br />
desilusão estampada no rosto e no olhar, não tendo estímulos para uma mudança de<br />
vida.<br />
O Posto de Saúde de Sotave II caracteriza-se como um ponto de apoio para<br />
todos, sendo visto como suporte para qualquer tipo de <strong>em</strong>ergência, além de <strong>aspectos</strong><br />
relacionados com a saúde cotidiana. O posto impôs sua respeitabilidade e os ACS<br />
cuidam da saúde das famílias, como também de outros <strong>aspectos</strong> na tentativa de ajudar<br />
na transformação na vida dessas pessoas.<br />
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