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história inesquecível." Não cheguei a falar em gostar, absolutamente amar de todo o<br />
coração ser o gato da biblioteca.<br />
"Está bem", eu acabava dizendo. "Basta de divertimento. De volta à censura e ao<br />
desenvolvimento de coleções."<br />
"Só mais um minuto, por favor. Queria que o meu pessoal conhecesse Dewey."<br />
Olhei para meu grande amigão cor de laranja, que estava espichado em seu local<br />
favorito sobre a mesa. "Você está adorando isso, não é?" Ele me lançou um olhar<br />
inocente. Quem, eu? Estou só fazendo o meu trabalho.<br />
Não eram só as bibliotecárias que adoravam Dewey. Eu estava trabalhando em<br />
minha sala certa manhã quando Kay me chamou da mesa da entrada. Lá estava uma<br />
bela família de quatro pessoas, dois jovens pais e seus filhos.<br />
"Esta bela família", disse Kay com surpresa mal disfarçada, "é de Rhode Island.<br />
Vieram conhecer Dewey."<br />
O pai estendeu a mão. "Estávamos em Minneapolis, então resolvemos alugar um<br />
carro e vir até aqui. As crianças adoram Dewey."<br />
Será que o homem era maluco? Minneapolis ficava a quatro horas e meia de<br />
distância. "Que maravilha!", eu disse ao apertar-lhe a mão. "Como vocês ficaram<br />
sabendo a respeito dele?"<br />
"Lemos sobre ele na revista Cats. Gostamos muito de gatos."<br />
É claro.<br />
"Está bem", falei, sem conseguir pensar em mais nada. "Vamos conhecê-lo."<br />
Graças aos céus Dewey estava tão ansioso quanto de costume para agradar.<br />
Brincou com as crianças. Posou para fotografias. Mostrei à menininha o Transporte<br />
Dewey e ela passeou pela biblioteca com ele no ombro esquerdo (sempre o esquerdo).<br />
Não sei se valeu a viagem de nove horas, porém a família partiu feliz.<br />
"Estranho", disse Kay depois que a família foi embora.<br />
"Sem dúvida. Aposto que isso nunca mais vai acontecer."<br />
Aconteceu outra vez. E outra. E outra. E outra. Vieram de Utah, Washington,<br />
Mississippi, Califórnia, Maine e de todos os outros cantos do mapa. Casais mais velhos,<br />
mais novos, famílias. Muitos atravessavam o país e desviavam cento e tantos a duzentos<br />
e tantos quilômetros do caminho para passar o dia em Spencer. Consigo me lembrar de<br />
muitas fisionomias, mas os únicos nomes que recordo são Harry e Rita Fein, de Nova<br />
York, porque, depois de conhecerem Dew, eles mandavam vinte e cinco dólares de<br />
presente tanto de aniversário como de Natal, para a compra de ração e suprimentos.<br />
Pena eu não ter anotado informações sobre os outros, porém de início parecia tão pouco<br />
provável que outras pessoas resolvessem vir! Para que o trabalho? Quando me dei conta<br />
do poder de atração de Dewey, os visitantes eram tão comuns que não pareciam mais<br />
raros o suficiente para que se anotassem seus nomes.<br />
Como as pessoas tomavam conhecimento sobre Dewey? Não tenho idéia. A<br />
biblioteca nunca foi atrás de publicidade para ele. Nunca entramos em contato com um<br />
único jornal, com exceção do Spencer Daily Reporter. Nunca contratamos um agente de<br />
publicidade ou gerente de marketing. Depois da Shopko, nunca inscrevemos Dewey em<br />
nenhum concurso. Éramos o serviço de atendimento de Dewey, nada mais. Pegávamos<br />
o telefone, e lá estava outra revista, outro programa de televisão, outra estação de rádio<br />
querendo uma entrevista. Ou abríamos a correspondência e encontrávamos um artigo a<br />
respeito de Dewey numa revista da qual nunca havíamos ouvido falar ou de um jornal<br />
no outro lado do país. Uma semana mais tarde, outra família aparecia na biblioteca.<br />
O que esses peregrinos esperavam encontrar? Um gato maravilhoso, é claro, mas<br />
há gatos maravilhosos sem lar em todos os abrigos dos Estados Unidos. Por que fazer