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Eu corria para me esconder atrás de uma estante e, invariavelmente, acontecia<br />

uma coisa ou outra. Ou eu chegava em meu esconderijo, virava, e Dewey estava lá. Ele<br />

tinha me seguido.<br />

Achei! Essa foi fácil.<br />

Ou ele corria pelo outro lado da prateleira e chegava antes de mim em meu<br />

esconderijo.<br />

Ah, era aqui que você estava pensando em se esconder? Bem, eu já tinha<br />

imaginado.<br />

Eu ria e o afagava atrás das orelhas. "Ótimo, Dewey. Vamos correr um pouco."<br />

Então corríamos entre as prateleiras, encontrando-nos no final dos corredores,<br />

sem que ninguém exatamente se escondesse ou procurasse. Depois de quinze minutos,<br />

eu esquecia completamente meu artigo de pesquisa ou a mais recente reunião de<br />

orçamento para o projeto de reforma ou aquela infeliz conversa com Jodi. Fosse lá o que<br />

estivesse me incomodando, tinha sumido. O peso, como dizem, fora erguido.<br />

"O.k., Dewey. Vamos voltar ao trabalho."<br />

Ele nunca se queixava. Eu voltava à minha cadeira, e o gato voltava a se<br />

empoleirar no topo do monitor e começava a balançar a cauda na frente da tela. Na<br />

próxima vez que eu precisasse, ele estaria ali.<br />

Não é exagero dizer que esses jogos de esconde-esconde com Dewey, aquele<br />

tempo que passávamos juntos, me ajudaram. Talvez fosse mais fácil contar agora que<br />

Dewey punha a cabeça em meu colo e choramingava enquanto eu chorava ou que ele<br />

lambia as lágrimas do meu rosto. Qualquer um pode contar isso. E é quase verdade,<br />

porque, algumas vezes, quando o teto começou a cair na minha cabeça, me vi fixando o<br />

olhar em meu colo, sem ver, com lágrimas nos olhos, e Dewey estava lá, exatamente<br />

onde eu precisava que ele estivesse.<br />

Mas a vida não é ordenada nem clara. Nosso relacionamento não pode estar<br />

associado a um conjunto de lágrimas. Para começar, não sou muito de chorar. E, embora<br />

Dewey fosse expansivo com o amor dele - ele era sempre freguês de um aconchego<br />

tarde da noite -, não me banhava de afeição. De algum modo, Dew sabia quando eu<br />

precisava de um empurrãozinho ou de um corpo quente e sabia quando a melhor coisa<br />

para mim era um jogo bobo, sem sentido, de esconde-esconde. Sempre que precisei, ele<br />

me deu, sem pensar, sem querer algo em troca e sem eu pedir. Não era apenas amor. Era<br />

mais que isso. Era respeito. Era empatia. E era mútuo. Aquela centelha que Dewey e eu<br />

sentimos quando nos conhecemos: essas noites a sós, juntos, na biblioteca, a<br />

transformavam num incêndio.<br />

Acho que minha idéia final é esta: quando tudo na minha vida era tão complexo,<br />

quando as coisas fugiam em todas as direções ao mesmo tempo e às vezes parecia que o<br />

centro não ia agüentar, meu relacionamento com Dewey era tão simples e natural - era<br />

isso que o tornava tão legal.

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