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"Sim, mas e o significado mais profundo?"<br />
"Bem, eu o uso para manter a porta aberta."<br />
"Vá mais fundo."<br />
"Hum, mantém a sala arejada?"<br />
Gary deve ter obtido significados mais profundos a respeito de calços de porta,<br />
porque uma das resenhas menciona lingüistas dissecando a etimologia da palavra e<br />
filósofos matutando a respeito de um mundo sem portas.<br />
Cerca de seis meses depois da filmagem, no inverno de 1997, demos uma festa<br />
para a exibição inaugural de Puss in books [Gato de livros]. A biblioteca estava lotada.<br />
O filme começou com uma tomada distante de Dewey sentado no chão da biblioteca,<br />
abanando lentamente o rabo para frente e para trás. A medida que a câmera se<br />
aproximava e o seguia embaixo de uma mesa, através de algumas prateleiras e então,<br />
finalmente, em um passeio em seu carrinho favorito, se ouvia minha voz ao fundo:<br />
"Chegamos para trabalhar certa manhã, fomos abrir a caixa de coleta para esvaziar os<br />
livros e encontramos lá dentro este gatinho minúsculo. Ele estava enterrado sob uma<br />
tonelada de livros, a caixa de coleta estava simplesmente cheia. As pessoas ouvem a<br />
história de como ganhamos Dewey e todas dizem: 'Ah, coitadinho. Foi jogado na rampa<br />
de coleta aquele dia'. A que eu respondo: 'Coitadinho uma ova. Aquele foi o dia de<br />
maior sorte na vida deste menino, porque ele é o rei por aqui e ele sabe disso'".<br />
Enquanto as últimas palavras desapareciam, Dewey olhava fixo diretamente para<br />
a câmera e, cara, dava para ver que eu tinha razão. Ele era realmente o rei.<br />
Nessa altura, eu estava acostumada a ligações estranhas sobre Dewey. A<br />
biblioteca vinha recebendo cerca de duas solicitações para entrevista por semana, e<br />
artigos a respeito do nosso famoso gato apareciam em nossa correspondência quase<br />
semanalmente. A fotografia oficial de Dewey, aquela tirada por Rick Krebsbach pouco<br />
antes de Jodi ir embora de Spencer, aparecera em revistas, boletins, livros e jornais, de<br />
Minneapolis, em Minnesota, a Jerusalém, em Israel. Chegou mesmo a aparecer em um<br />
calendário de gatos — Dewey era o senhor Janeiro. No entanto, até eu fiquei surpresa<br />
ao receber um telefonema no escritório, em Iowa, de uma companhia nacional de ração<br />
animal.<br />
"Temos observado Dewey", eles disseram, "e estamos impressionados." E quem<br />
não estaria? "Ele parece ser um gato extraordinário. E é evidente que as pessoas o<br />
adoram." Não diga! "Gostaríamos de usá-lo em uma campanha de publicidade impressa.<br />
Não podemos oferecer dinheiro, mas forneceríamos ração grátis pela vida inteira."<br />
Tenho de admitir que fiquei tentada. Dewey era enjoado para comer e nós<br />
éramos pais indulgentes. Todo dia jogávamos fora pratos de comida porque ele não<br />
gostava do cheiro e doávamos centenas de latas de ração desprezada por ano. Como a<br />
campanha "Alimente o gatinho", de moedas e latas de refrigerante, não cobria os custos<br />
e eu tinha feito o voto de jamais usar um centavo dos fundos municipais para o cuidado<br />
de Dewey, a maior parte daquele dinheiro vinha do meu bolso. Eu subsidiava<br />
pessoalmente a alimentação de uma boa porção dos gatos de Spencer.<br />
"Vou falar com o conselho da biblioteca."<br />
"Vamos enviar amostras."<br />
Quando rolou a reunião seguinte do conselho da biblioteca, a decisão já estava<br />
tomada. Não por mim nem pelo conselho. Pelo próprio Dewey. O senhor Enjoadinho<br />
rejeitou totalmente as amostras grátis.<br />
Estão brincando comigo?, disse-me ele com uma fungada desdenhosa. Não<br />
posso fazer publicidade deste lixo!<br />
"Desculpe", falei ao fabricante. "Dewey só come Fancy Feast."