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CAPÍTULO 23<br />

AS MEMÓRIAS DE MAMÃE<br />

EM 1976, MEU IRMÃO Steven foi diagnosticado com a fase quatro de um linfoma não-<br />

Hodgkin, a forma mais avançada de um câncer letal. Os médicos deram a ele dois meses<br />

de vida. Ele tinha dezenove anos.<br />

Steven lidou com o câncer com mais dignidade que qualquer outra pessoa que eu<br />

tenha conhecido. Lutou contra ele, mas não desesperadamente. Além disso, viveu a vida<br />

dele. Nunca perdeu o sentido dele mesmo. No entanto, o câncer estava em seu peito e os<br />

médicos não conseguiam vencê-lo. Derrubaram-no, porém ele voltou. O tratamento era<br />

doloroso e atacou os rins. Meu irmão Mike, o melhor amigo dele, ofereceu-se para doar<br />

um de seus rins, mas Steven lhe disse: "Deixe para lá. Eu só vou estragar esse aí<br />

também".<br />

Em 1979, o ano em que eu me debatia com um divórcio e iniciava a faculdade,<br />

Steven vivera mais tempo que qualquer outra pessoa em Iowa com o estágio quatro de<br />

um linfoma não-Hodgkin. Os médicos fizeram tanta quimioterapia que ele não tinha<br />

mais sangue nas extremidades. Como já não havia esperanças na químio, Steven se<br />

candidatou para um tratamento experimental em Houston. Estava marcado para<br />

começar em janeiro e, antes da viagem, ele queria um Natal Jipson completo, sem<br />

restrições. Steven queria o clam chowder [sopa de mexilhões] de papai, que ele sempre<br />

fazia na ceia de Natal. Pediu que eu fizesse suas pipocas carameladas favoritas. Sentou<br />

sob um cobertor e sorriu enquanto tocávamos nossos instrumentos feitos em casa na<br />

Banda da Família Jipson. Na noite de Natal, fazia quase vinte e oito graus abaixo de<br />

zero. Steven mal conseguia ficar de pé de tão fraco, contudo insistiu para que fôssemos<br />

todos à Missa do Galo. Em sua última noite na casa de mamãe e papai, me fez levá-lo à<br />

casa da tia Marlene às duas da manhã, para se despedir. Depois, quis que eu ficasse<br />

acordada com ele e assistisse a Glória e derrota, um filme sobre um jogador de futebol<br />

americano que tinha câncer.<br />

"Não, Steven, obrigada. Eu já vi."<br />

Mas ele insistiu, então fiquei acordada. Ele adormeceu nos primeiros cinco<br />

minutos.<br />

Passada uma semana, no dia 6 de janeiro, Steven acordou a esposa às cinco da<br />

manhã e pediu que ela o ajudasse a descer as escadas até o sofá. Quando ela voltou,<br />

algumas horas mais tarde, não conseguiu acordá-lo. Descobrimos depois que ele não<br />

fora matriculado num programa de tratamento experimental em Houston. Na véspera do<br />

Dia de Ação de Graças, os médicos disseram a ele que as opções de tratamento tinham<br />

se esgotado. Ele não contou a ninguém porque queria um último Natal da família<br />

Jipson, sem choro ou piedade, antes de morrer.<br />

A morte de Steven foi difícil para meus pais. A morte pode separar duas pessoas,<br />

porém juntou mamãe e papai. Eles choraram juntos. Conversaram juntos. Apoiaram-se<br />

um no outro. Meu pai se converteu ao catolicismo, a religião de mamãe, e começou a<br />

freqüentar regularmente a igreja pela primeira vez em sua vida adulta.<br />

E eles adotaram um gato.<br />

Três semanas depois da morte de Steven, papai trouxe para mamãe um persa<br />

azul e o chamou de Max. Aqueles foram dias terríveis para eles, absolutamente terríveis,<br />

mas Max era um gato santificado, cheio de personalidade, sem ser agitado. Ele dormia<br />

na pia do banheiro — com exceção de ficar aninhado perto de mamãe, aquela pia era<br />

seu lugar favorito dentro de casa. Se alguma vez um gato já mudou um casal, esse gato<br />

foi Max. Ele elevou os espíritos dos meus pais, os fez rir. Fez companhia a eles na casa

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