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Então chegou 27 de junho de 1931.<br />

A temperatura estava em quarenta graus quando, à uma e trinta e seis da tarde,<br />

um garoto de oito anos acendeu uma estrelinha do lado de fora da farmácia Otto<br />

Bjornstadt's Drug Store, na esquina das ruas Main e West Fourth. Alguém gritou, e o<br />

garoto, assustado, deixou cair a estrelinha em um grande mostruário de fogos de<br />

artifício. Aquilo explodiu e o fogo, impelido por um vento quente, espalhou-se pela rua.<br />

Em minutos, o incêndio queimava os dois lados da Grand Avenue, completamente fora<br />

do controle do pequeno departamento de bombeiros de Spencer. Catorze cidades<br />

vizinhas mandaram equipamento e homens, mas a pressão da água era tão baixa que<br />

tiveram de bombear água do rio para o duto principal. No auge do incêndio, a calçada<br />

da Grand Avenue pegou fogo. No final do dia, trinta e seis prédios que abrigavam<br />

setenta e dois estabelecimentos comerciais, bem mais da metade do comércio da cidade,<br />

estavam destruídos.<br />

Não posso imaginar o que aquelas pessoas pensaram enquanto observavam a<br />

fumaça flutuar por cima dos campos e os remanescentes em combustão de sua amada<br />

cidade. Naquela tarde, o noroeste de Iowa deve ter se sentido um local solitário, isolado.<br />

Ali, as cidades morrem. O comércio estremece, as pessoas se mudam. A maior parte das<br />

famílias em Spencer tinha duramente conseguido seu meio de vida na região há três<br />

gerações. Agora, no momento mais agudo da Grande Depressão - ela já tinha começado<br />

na costa, porém só viria a se espalhar pelo interior, como o noroeste de Iowa, em<br />

meados dos anos 1930 -, o coração de Spencer estava em cinzas. O custo, pouco mais<br />

de dois milhões de dólares no período da Depressão, ainda é o desastre mais caro<br />

causado por ato humano na história de Iowa.<br />

Como eu sei tudo isso? Todo mundo em Spencer sabe. O fogo é nossa herança.<br />

A única coisa que não sabemos é o nome do menino que começou o incêndio. Alguém<br />

sabe, é claro, mas houve uma decisão de manter a identidade em segredo. A mensagem:<br />

somos uma cidade. Estamos nisso juntos. Não vamos acusar ninguém. Vamos reparar o<br />

problema. Aqui, chamamos isso de atitude progressista. Se você perguntar a qualquer<br />

pessoa em Spencer a respeito da cidade, ela lhe dirá que "é progressista". Esse é o nosso<br />

mantra. Se perguntar o que significa "progressista", diremos: "Temos parques. Nos<br />

oferecemos para ajudar. Sempre procuramos melhorar". Se você for mais fundo,<br />

pensaremos um minuto e finalmente diremos: "Bem, houve um incêndio...".<br />

Não é o incêndio o que nos define - é o que a cidade fez depois dele. Dois dias<br />

após a catástrofe, uma comissão se reuniu para tornar o novo centro da cidade tão<br />

moderno e à prova de acidentes quanto possível, mesmo que as lojas abrissem em casas<br />

e anexos. Ninguém admitiu derrota. Ninguém disse: "Vamos reconstruir do jeito que<br />

estava". Os líderes da nossa comunidade tinham viajado a cidades grandes do Meio-<br />

Oeste, como Chicago e Minneapolis. Eles tinham visto o planejamento coeso e o estilo<br />

elegante de locais como Kansas City. Dentro de um mês, um plano-mestre foi criado<br />

para um moderno centro da cidade em art déco, no estilo das cidades mais prósperas da<br />

época. Todos os prédios destruídos tinham um proprietário individual, porém cada um<br />

deles também fazia parte da cidade. Os proprietários adotaram o plano. Eles<br />

compreenderam que moravam, trabalhavam e sobreviviam juntos.<br />

Se você visitar Spencer hoje, poderá não achá-la art déco. A maior parte dos<br />

arquitetos eram de Des Moines e Sioux City e eles construíram num estilo que<br />

chamaram de prairie déco. Os prédios eram baixos. Na maioria, de tijolos. Alguns<br />

poucos têm pequenas torres ao estilo das Missões, como o Álamo. O estilo prairie déco<br />

é prático. Discreto, mas elegante. Não é espalhafatoso. Não se mostra. É adequado para<br />

nós. Gostamos de ser modernos em Spencer, mas não gostamos de chamar a atenção.

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