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punhado de pêlos. Ela literalmente caiu da cadeira. "Como ele conseguiu entrar aqui?",<br />

perguntou ela, espiando as costas de Dewey. A cabeça e o traseiro dele estavam<br />

enterrados na gaveta.<br />

Boa pergunta. A gaveta não tinha sido aberta durante a manhã inteira, de modo<br />

que Dewey deve ter entrado lá durante a noite. Apalpei por baixo da mesa. Não deu<br />

outra: havia uma pequena abertura atrás das gavetas. Mas essa era a gaveta de cima,<br />

mais de noventa centímetros acima do chão. O senhor Espinha de Borracha tinha se<br />

contorcido até o topo da fenda e dado uma volta apertada, tudo para se enroscar num<br />

espaço de não mais que alguns centímetros.<br />

Eu tentei animá-lo, porém Dewey me repeliu e não se mexeu. Isso não fazia<br />

nada o gênero dele. Era evidente que havia alguma coisa errada.<br />

Como suspeitei, Dewey estava com prisão de ventre. Extremamente constipado.<br />

Outra vez. O doutor Esterly fez um exame minucioso desta vez, com montes de<br />

cutucadas profundas e remexidas na barriga sensível de Dew. Ai, foi doloroso assistir.<br />

Aquilo era definitivamente o fim do relacionamento médico-gato.<br />

"Dewey tem megacólon."<br />

"O senhor vai ter de me explicar isso, doutor."<br />

"O cólon de Dewey é distendido. Isso faz com que o conteúdo intestinal se<br />

deposite na cavidade do corpo."<br />

Silêncio.<br />

"O cólon de Dewey fica permanentemente esticado. Isso faz com que ele<br />

acumule maior quantidade de dejetos. Quando Dewey tenta se livrar deles, a abertura<br />

para o mundo lá fora é pequena demais."<br />

"Um pouco mais de água não resolve o problema, não é?"<br />

"Temo que não haja cura. O problema é raro." Na verdade, não existe sequer<br />

certeza quanto à causa. Aparentemente, cólons felinos distendidos não são uma<br />

prioridade nas pesquisas.<br />

Se Dewey morasse no beco, o megacólon teria encurtado sua vida. Em um<br />

ambiente controlado, como a biblioteca, eu podia esperar uma vida inteira de<br />

constipação periódica, porém severa, acompanhada de alimentação muito seletiva.<br />

Quando há tendência de refluxo na tubulação, os gatos ficam horrivelmente seletivos<br />

acerca daquilo que introduzem no sistema. Como você pode perceber, eu disse que ele<br />

tinha uma doença.<br />

O doutor Esterly sugeriu uma ração cara, do tipo que só se consegue comprar de<br />

um veterinário. Esqueci o nome — talvez Dieta de Laboratório, Fórmula para Gato de<br />

Meia-idade com Problemas Intestinais? A conta quase quebrou o orçamento. Eu<br />

detestava desembolsar trinta dólares por algo que eu sabia que não ia funcionar.<br />

Afirmei ao doutor Esterly: "Dewey é um chato para comer. Ele não vai<br />

gostar...".<br />

"Coloque-a na tigela dele. Não lhe dê mais nada. Ele vai comê-la. Nenhum gato<br />

vai morrer de fome tendo comida." Enquanto eu estava arrumando as coisas para ir<br />

embora, ele acrescentou, tanto para ele mesmo quanto para mim: "Vamos ter de<br />

observar Dewey cuidadosamente. Vão ser dez mil pessoas infelizes se alguma coisa<br />

acontecer a ele".<br />

"Muito mais que isso, doutor Esterly. Muito mais."<br />

Pus a nova comida cara na tigela. Dewey não a comeu. Ele a cheirou uma vez e<br />

se afastou.<br />

Esta comida não é boa. Quero a de costume, por favor.<br />

No dia seguinte, ele abandonou a abordagem sutil. Em vez de cheirar e se<br />

afastar, sentou ao lado da tigela e chorou.

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