Untitled
Untitled
Untitled
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
"Não estava lá em setembro", continuou o doutor Beall, "o que significa que<br />
provavelmente é um câncer agressivo. Precisaríamos fazer exames invasivos para ter<br />
certeza."<br />
Ficamos em silêncio olhando para Dewey. Nunca suspeitara de um tumor.<br />
Nunca. Sabia tudo sobre Dewey, todos os pensamentos e sentimentos dele, porém esse<br />
ele mantivera escondido de mim.<br />
"Ele está sentindo dor?"<br />
"Sim, acho que está. A massa está crescendo muito rapidamente e só tende a<br />
piorar."<br />
"Há alguma coisa que possamos dar a ele para a dor?"<br />
"Na verdade, não."<br />
Eu segurava Dewey no colo, aninhando-o como se fosse um bebê. Ele não me<br />
deixava carregá-lo assim há dezesseis anos. Agora nem reagia. Simplesmente olhava<br />
para mim.<br />
"Acha que ele está sentindo dor constante?"<br />
"Só posso imaginar que esteja."<br />
A conversa me esmagava, achatava, fazia eu me sentir esgotada, esvaziada,<br />
cansada. Não podia acreditar no que estava escutando. De algum modo, eu acreditara<br />
que Dewey iria viver para sempre.<br />
Liguei para o pessoal da biblioteca e contei que Dewey não voltaria para casa.<br />
Kay estava fora da cidade. Joy estava de folga. Ainda conseguiram falar com ela na<br />
Sears, mas era tarde demais. Diversos outros vieram apresentar suas despedidas. Em vez<br />
de se aproximar de Dewey, no entanto, Sharon entrou direto e me abraçou. Obrigada,<br />
Sharon, eu precisava disso. Depois abracei Donna e agradeci a ela por amar tanto<br />
Dewey. Ela foi a última a dizer adeus.<br />
Alguém falou: "Não sei se você vai querer ficar aqui quando o puserem para<br />
dormir".<br />
"Tudo bem", eu disse. "Prefiro ficar sozinha com ele."<br />
O doutor Beall levou Dewey para a sala dos fundos a fim de aplicar a<br />
endovenosa, depois trouxe-o de volta em um cobertor novo e o colocou em meus<br />
braços. Falei com Dewey por alguns minutos. Contei-lhe o quanto o amava, o quanto<br />
ele significava para mim, como eu não queria que ele sofresse. Expliquei o que estava<br />
acontecendo e o porquê. Arrumei o cobertor para certificar-me de que ele estava<br />
confortável. Que mais poderia eu oferecer-lhe, além de conforto? Aninhei-o nos braços<br />
e balancei-o para trás e para frente, de um pé para o outro, hábito que começara quando<br />
ele não passava de um gatinho. O doutor Beall deu-lhe a primeira injeção, seguida de<br />
perto pela segunda.<br />
Ele disse: "Vou checar os batimentos cardíacos".<br />
Eu falei: "Não precisa. Posso ver nos olhos dele".<br />
Dewey se fora.