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"Tem havido uma boa quantidade de lastimáveis pipis. Tive de jogar um lençol<br />

fora. É claro que desinfeto tudo, mas, para um animal como Dewey, isso deve cheirar a<br />

zoológico."<br />

"Ele não está acostumado a outros animais", falei, sabendo que não era<br />

exatamente isso. Dew nunca deu bola para outros animais. Ele nunca tomou<br />

conhecimento do cachorro de um cego que freqüentava a biblioteca. Chegava mesmo a<br />

desprezar o dálmata. Não era medo, era confusão. "Ele sabe o que se espera dele na<br />

biblioteca, porém não está entendendo este local."<br />

"Não se apresse."<br />

Tive uma idéia.<br />

"Posso mostrar a câmera para Dewey?"<br />

"Se você acha que vai ajudar..."<br />

Dewey vivia posando para fotos na biblioteca, mas aquelas eram câmeras<br />

comuns. A câmera de Rick era um modelo grande, profissional, como uma caixa. Dew<br />

jamais vira uma daquelas antes, contudo ele aprendia rápido.<br />

"É uma câmera, Dewey. Câmera. Estamos aqui para tirar uma foto de você."<br />

O gato cheirou as lentes. Inclinou-se para trás e cheirou outra vez. Eu consegui<br />

perceber que ele estava menos tenso, vi que tinha entendido.<br />

Apontei. "Cadeira. Sente-se na cadeira."<br />

Coloquei-o no chão. Ele cheirou cada perna da cadeira de alto a baixo e duas<br />

vezes o assento. Depois, pulou para a cadeira e olhou direto para a cârnera. Rick correu<br />

e bateu seis fotos.<br />

"Não acredito!", admirou-se ele quando Dewey voltou ao chão.<br />

Não quis contar a Rick, mas aquilo acontecia o tempo todo. Dewey e eu<br />

tínhamos um meio de comunicação que eu mesma não entendia. Ele parecia sempre<br />

saber o que eu queria, porém, infelizmente, isso não significava que fosse sempre<br />

obedecer. Eu nem tinha de falar banho ou escova - bastava pensar neles, e Dew<br />

desaparecia.<br />

Lembro-me de passar por ele uma tarde, na biblioteca. Ele olhou para mim com<br />

sua costumeira indiferença preguiçosa. Oi, como vai? Pensei: "Ih, há dois nós de pêlo<br />

no pescoço dele. Eu deveria pegar a tesoura e cortá-los". Assim que a idéia se formou<br />

em minha cabeça, puff!, o gato sumiu.<br />

No entanto, desde a fuga, Dewey andava usando seus poderes para o bem, e não<br />

para travessuras. Ele não apenas previa o que eu queria, ele agia. Não quando envolvia<br />

uma escovada ou um banho, é claro, mas para os negócios da biblioteca. Essa era uma<br />

das razões por que ele estava tão disposto a que tirassem sua foto. Queria fazer o que<br />

fosse melhor para a biblioteca.<br />

"Ele sabe que é para a biblioteca", falei a Rick. Entretanto, dava para perceber<br />

que ele não estava acreditando. Por que, afinal, um gato se incomodaria com uma<br />

biblioteca? E como ele poderia ligar uma biblioteca com um estúdio de fotografia a um<br />

quarteirão de distância? Mas era a verdade, e eu sabia disso.<br />

Peguei Dewey e afaguei seu ponto favorito, no topo da cabeça, entre as orelhas.<br />

"Ele sabe o que é uma câmera, Não tem medo dela."<br />

"Ele já posou antes?"<br />

"Pelo menos duas ou três vezes por semana. Para visitantes. Ele adora."<br />

"Não parece coisa de gato."<br />

Eu quis contar-lhe que Dewey não era um gato qualquer, mas Rick andara<br />

fotografando bichos de estimação durante toda a semana anterior. Ele provavelmente já<br />

teria escutado aquilo umas cem vezes.

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