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saltava em uma mesa vazia na sala dos funcionários. Depois, pulava em um arquivo, o<br />

que lhe propiciava um longo salto até a parede divisória da sala, na qual ele conseguia<br />

se esconder atrás de um enorme painel com a história de Spencer. De lá, era apenas<br />

pouco mais de um metro para a luminária.<br />

Claro, poderíamos rearrumar a mobília, porém, uma vez fixado no teto,<br />

sabíamos que não havia muito, com exceção de velhice artrose, que impedisse Dewey<br />

de caminhar por cima das lâmpadas. Quando os gatos não sabem que algo existe, é fácil<br />

mantê-los afastados. Se eles não conseguem chegar a alguma coisa e é algo que eles<br />

resolveram querer, é quase impossível. Gatos não são preguiçosos. Eles se esforçam por<br />

frustrar até os planos mais elaborados.<br />

Além disso, Dewey adorava ficar lá em cima das lâmpadas. Amava caminhar de<br />

um lado para o outro, de uma extremidade à outra, até encontrar um ponto interessante.<br />

Aí se deitava, debruçava a cabeça pela beirada e observava. Os usuários também<br />

adoravam. Algumas vezes, quando Dew estava caminhando para lá e para cá, era<br />

possível vê-los virando o pescoço na direção do teto, com as cabeças para frente e para<br />

trás, como o pêndulo de um relógio. Falavam com ele. Quando apontavam Dewey para<br />

as crianças, com a cabeça mal aparecendo na beirada da luminária, elas gritavam de<br />

alegria. Faziam tantas perguntas...<br />

"O que ele está fazendo?"<br />

"Como chegou lá?"<br />

"Por que ele está ali?"<br />

"Ele vai se queimar?"<br />

"Se ele cair, vai morrer?"<br />

"E se Ele cair em cima de alguém? A pessoa vai morrer?"<br />

Quando os pequenos descobriram que não podiam subir até o teto com ele,<br />

imploravam para o gato descer. "Dewey gosta de ficar lá em cima", explicávamos. "Ele<br />

está brincando." Por fim, as crianças compreenderam que, quando Dewey estava em<br />

cima das lâmpadas, ele só desceria quando quisesse. Tinha descoberto seu pequeno<br />

sétimo céu lá em cima.<br />

A REFORMA OFICIAL aconteceu em julho de 1989, porque julho era o mês de menor<br />

movimento na biblioteca. As crianças estavam de férias, o que significava ausência da<br />

visita de turmas e nenhuma creche não-oficial depois do horário de aulas. Uma firma<br />

tributária vizinha doou espaço de armazenagem do outro lado da rua. A Biblioteca<br />

Pública de Spencer continha cinqüenta e cinco unidades de estantes, cinqüenta mil<br />

livros, seis mil revistas, dois mil jornais, cinco mil álbuns e fitas cassete e mil<br />

genealogias, sem falar de projetores, telas de projeção, televisões, câmeras (dezesseis e<br />

oito milímetros), máquinas de escrever, escrivaninhas, mesas, cadeiras, carrinho de<br />

catálogos, arquivos e material de escritório. A tudo isso foi dado um número. O número<br />

correspondia a uma grade com cores coordenadas, que mostrava tanto o lugar no<br />

depósito quanto seu novo local na biblioteca. Sobre o novo carpete azul, Jean Hollis<br />

Clark e eu desenhamos com giz local de cada estante, mesa e escrivaninha. Se uma<br />

prateleira fosse colocada dois centímetros fora do lugar, os trabalhadores teriam de<br />

movê-la, porque a largura dos corredores era rigorosamente regulada segundo as<br />

exigências da ADA (Americans with Disabilities Act, a lei dos norte-americanos com<br />

deficiência). Se uma estante estivesse desviada em dois centímetros, a seguinte teria um<br />

desvio de cinco, e logo haveria uma cadeira de rodas presa num canto dos fundos.<br />

***

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