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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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cismo o predomínio intelectual. Sylvio Romero dizia em 1876 que os pensadores brasileiros<br />

estavam divididos pelos seguintes grupos bem <strong>de</strong>finidos: "a) escritores educados<br />

sob o regime do sensualismo metafísico francês dos primeiros anos do século XIX e que<br />

passaram ao ecletismo <strong>de</strong> Cousin; b) reacionários neo-católicos, filiados às doutrinas <strong>de</strong><br />

Gioberti, Rosmini e Balmes; c) espíritos que se vão emancipando sob a tutela <strong>de</strong> Comte<br />

e Darwin."<br />

Dentro do ecletismo brasileiro <strong>de</strong>vemos também citar Domingos Gonçalves <strong>de</strong><br />

Magalhães, célebre iniciador da poesia romântica no Brasil e admirador entusiasta do<br />

Padre Mont’Alverne <strong>de</strong> quem foi aluno no curso secundário.<br />

Fez seus estudos <strong>de</strong> medicina em Paris. Ali escutou as lições <strong>de</strong> Jouffroy, discípulo<br />

<strong>de</strong> Cousin, e publicou em 1858, seu primeiro livro <strong>de</strong> filosofia intitulado: "Fatos do<br />

Espírito Humano", que foi traduzido para o francês. Regressou <strong>de</strong>pois ao Brasil on<strong>de</strong><br />

escreveu: "Alma e Cérebro". Finalmente em 1880 <strong>de</strong>u ao prelo um pequeno volume<br />

<strong>de</strong>dicado a seu filho: "Comentários e Pensamentos".<br />

Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães era um estilista e um pensador digno <strong>de</strong> atenção. Nas<br />

suas i<strong>de</strong>ias metafísicas aproximava-se <strong>de</strong> Berkeley. Afirmava que nós só temos certeza<br />

da existência do universo porque Deus o pensa e nos comunica o seu pensamento.<br />

Comparava nosso conhecimento do mundo com o conhecimento que tem um hipnotizado<br />

das coisas que lhe faz ver o hipnotizador. O universo era para ele um pensamento <strong>de</strong><br />

Deus e não existia fora <strong>de</strong>sse pensamento. O universo podia, portanto <strong>de</strong>saparecer como<br />

uma miragem se Deus quisesse pensar noutras coisas. Para Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães as<br />

leis que presi<strong>de</strong>m a existência do universo eram "a permanência do pensamento <strong>de</strong><br />

Deus".<br />

Entretanto, o espírito humano não era exclusivamente divino. O espírito humano,<br />

segundo Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães, tinha uma existência própria porque a inteligência<br />

divina <strong>de</strong>le necessitava para não ser "a espectadora única e solitária dos seus admiráveis<br />

pensamentos", que são as coisas do mundo.<br />

No seu livro intitulado "Comentários e Pensamentos", escrito em 1880, combatia<br />

a doutrina positivista que estava então na moda e emitia juízos como este: "Não há ciência<br />

nem lei humanas que possam suprir, numa nação, a falta <strong>de</strong> religião". "A fé é o reflexo<br />

da razão <strong>de</strong>ntro da nossa ignorância tal como a luz da lua é um reflexo do sol em<br />

meio às trevas." Aqui estão as suas opiniões sobre os problemas sociais: "A civilização<br />

necessita que milhões <strong>de</strong> criaturas humanas sejam con<strong>de</strong>nadas aos mais ru<strong>de</strong>s e insalubres<br />

trabalhos na terra, nas fábricas, nas minas e na navegação, o que lhes apressa a<br />

chegada a uma velhice enferma e nem sempre com a certeza <strong>de</strong> ter o pão <strong>de</strong> cada dia.<br />

Todas as utopias mo<strong>de</strong>rnas inventadas para melhorar a sorte <strong>de</strong>ssas vítimas da civilização<br />

não valem a carida<strong>de</strong> cristã e a esperança consoladora que lhes dá a religião, quando<br />

lhes assegura melhor vida <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta miséria".<br />

Finalmente, com referência ao ecletismo <strong>de</strong>vemos recordar que o pensador brasileiro<br />

<strong>de</strong> maior expressão no século passado, Tobias Barreto, iniciou-se na filosofia como<br />

eclético, muito embora mais tar<strong>de</strong>, quando lutava para difundir a filosofia alemã,<br />

abandonasse os trabalhos <strong>de</strong>ssa sua primeira fase, excluindo-os das suas obras completas<br />

e fazendo críticas agudas e brilhantes a Cousin e sua filosofia.<br />

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