Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia
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lema central da filosofia. Existe a "coisa em si"? Po<strong>de</strong>mos conhecê-la? Quais são as<br />
explicações que já foram dadas sobre ela? Qual a sua essência?<br />
Farias Brito afirmava que o conhecimento da "coisa em si" não podia ser obtido<br />
mediante a observação da realida<strong>de</strong> exterior. A observação das coisas exteriores, a experiência<br />
e o saber que as ciências acumulam só se referiam ao mundo das aparências.<br />
Para o conhecimento da verda<strong>de</strong>ira essência da realida<strong>de</strong> só podia ser empregada a observação<br />
interior, isto é, a introspecção.<br />
Já nas origens da filosofia achava Farias Brito que os filósofos que tinham procurado<br />
explicar o mundo por meio dos elementos físicos não tinham chegado além da<br />
constatação do nada. Não lograram mais do que uma divisão infinitesimal da realida<strong>de</strong><br />
em átomos ou elementos físicos homogêneos e a convicção <strong>de</strong> que o universo era transformação<br />
constante e inevitável, em que tanto as coisas quanto os homens não eram<br />
mais do que realida<strong>de</strong>s efêmeras, sem valor. Se engendrou assim uma filosofia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperação<br />
e <strong>de</strong> dissolução <strong>de</strong> todos os valores.<br />
Foi preciso que aparecesse Sócrates, negando a importância do conhecimento<br />
exterior e <strong>de</strong>clarando que o único importante era o conhecimento do homem, para que<br />
surgisse a verda<strong>de</strong>ira sabedoria filosófica.<br />
Farias Brito dizia que Sócrates, por meio da observação da intimida<strong>de</strong> do homem,<br />
havia chegado a <strong>de</strong>scobrir a existência <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s que escapavam à precarieda<strong>de</strong><br />
das coisas físicas, havia encontrado um mundo i<strong>de</strong>al e moral que permanecia estável,<br />
sobre as variações humanas e naturais.<br />
Depois, Platão e Aristóteles haviam comprovado que esse mundo i<strong>de</strong>al e moral<br />
<strong>de</strong>scoberto por Sócrates no fundo da consciência humana correspondia a um mundo<br />
metafísico que existia in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do homem e mais além dos fenômenos da<br />
natureza.<br />
Farias Brito afirmava, baseado nesses antece<strong>de</strong>ntes, que o conhecimento metafísico,<br />
isto é, o conhecimento da "coisa em si" tinha <strong>de</strong> ser obtido pela observação interior.<br />
Por isso <strong>de</strong>clarava, repetidas vezes no curso da sua obra, que a metafísica nada mais<br />
era do que psicologia; que o conhecimento da essência do homem permitia-nos o conhecimento<br />
da essência da natureza e do universo.<br />
Essa concepção tomou-a Farias Brito <strong>de</strong> Schopenhauer. E a fundamentava dizendo<br />
que tudo no mundo obe<strong>de</strong>cia à lei da analogia e, por isso, o conhecimento da essência<br />
<strong>de</strong> um ser permitia o conhecimento da essência dos <strong>de</strong>mais seres. Tratando-se do<br />
homem, a realida<strong>de</strong> que este conhecia mais diretamente, e que podia estudar em toda<br />
profundida<strong>de</strong> era a sua própria. Concluindo dizia que o conhecimento <strong>de</strong> si mesmo, que<br />
Sócrates proclamou como o mais importante <strong>de</strong> todos, tinha <strong>de</strong> ser a base <strong>de</strong> toda metafísica.<br />
Aplicando o método da observação interior, Farias Brito achava que "a coisa em<br />
si", o ser mais íntimo e profundo, a realida<strong>de</strong> fundamental e a existência verda<strong>de</strong>ira do<br />
homem era o espírito. "O espírito era o fato primordial, tudo se explicava por ele, como<br />
ele, e entretanto ele não podia ser explicado por nenhuma outra coisa".<br />
Espírito, para Farias Brito, era sinônimo <strong>de</strong> pensamento. "Eu penso, é a verda<strong>de</strong><br />
fundamental, dizia. Eu sou uma consciência, eu sou um ser pensante, eu sou um espírito,<br />
eis aí em que consiste toda minha existência".<br />
A inteligência, para Farias Brito, era pois a essência do ser humano, da realida<strong>de</strong><br />
existente em si mesma. Não era a vonta<strong>de</strong>, como queria Schopenhauer, porque a vonta<strong>de</strong><br />
era uma parte da nossa ativida<strong>de</strong> interna que nem sequer podia ser consi<strong>de</strong>rada como<br />
a mais importante. Também não era a "inconsciência", como pretendia Hartmann, pois<br />
apesar <strong>de</strong> ser uma realida<strong>de</strong> profunda e po<strong>de</strong>rosa, pertencia a uma categoria inferior da<br />
existência.<br />
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