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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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Jackson <strong>de</strong> Figueiredo lutou <strong>de</strong>cididamente em favor do Governo, sendo acusado<br />

por isso <strong>de</strong> servilismo e venalida<strong>de</strong>. No entanto, essas acusações careciam <strong>de</strong> qualquer<br />

fundamento. Nada havia <strong>de</strong> mais admirável que o <strong>de</strong>sinteresse e o i<strong>de</strong>alismo com que<br />

esse homem, que viveu sempre na maior pobreza material, tomou parte na campanha. A<br />

verda<strong>de</strong> é que se pôs acima da aventura política circunstancial e colocou-se em um plano<br />

principista, revelando o que havia <strong>de</strong> profundamente humano nesse episódio histórico.<br />

Depois da campanha política, da qual emergiu com novos brios, Jackson <strong>de</strong> Figueiredo<br />

consagrou-se à criação <strong>de</strong> organizações <strong>de</strong>stinadas a realizar tudo o que politicamente<br />

achava que faltava ao Brasil. Fundou o Centro Dom Vital, adotando assim corajosamente<br />

o nome do bispo que na questão religiosa <strong>de</strong> 1873 tinha-se oposto à ação<br />

oficial contra a Igreja e que fora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então o símbolo do ultramontanismo brasileiro.<br />

Criou <strong>de</strong>pois "A Or<strong>de</strong>m", órgão periodístico do Centro. Publicou numerosos livros <strong>de</strong>stinados<br />

a tornar conhecidos os escritores jovens, bem como a prestigiar as letras católicas<br />

brasileiras e a formar uma nova consciência política. Desse modo, chegou a tornarse<br />

um dos mais po<strong>de</strong>rosos elementos do renascimento católico no Brasil.<br />

Estava apenas com 39 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando morreu <strong>de</strong> maneira trágica. Tinha o<br />

hábito <strong>de</strong> pescar todos os domingos numa das praias próximas do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Entregava-se<br />

a esse esporte com prazer. Uma tar<strong>de</strong> caiu dum rochedo ao mar. Seu filho <strong>de</strong><br />

sete anos, que o acompanhava na ocasião, o viu <strong>de</strong>bater-se e <strong>de</strong>saparecer entre as ondas.<br />

No pensamento <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueiredo se distinguem perfeitamente dois períodos:<br />

o primeiro, em que evoluiu do positivismo ao catolicismo, e o segundo, em que<br />

tratou <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir sua filosofia política.<br />

Des<strong>de</strong> criança, teve Jackson Figueiredo, como ele mesmo diz, "a febre das indagações<br />

que atormentam o homem". Começou seus estudos em um colégio protestante,<br />

que o habituou à análise e à crítica, preparando-o para rejeitar as crenças religiosas familiares<br />

e para receber a influência das filosofias naturalistas que predominavam então<br />

no ambiente brasileiro. Não tinha saído ainda da adolescência quando já estava totalmente<br />

imbuído <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias mecanicistas, evolucionistas e materialistas. Conta que, tendo<br />

nessa época chegado a suas mãos um dos livros <strong>de</strong> Farias Brito, sentiu verda<strong>de</strong>iro espanto<br />

ao ver que este qualificava <strong>de</strong> falsa a doutrina da evolução, coisa que lhe pareceu<br />

monstruosa.<br />

Na Bahia, durante seus estudos universitários passou por uma nova fase. Pedro<br />

Kilkerry foi durante essa época a pessoa que lhe produziu a mais profunda impressão.<br />

Exerceu sobre ele uma influência que só po<strong>de</strong> ser comparada com a que mais tar<strong>de</strong> teve<br />

Farias Brito. "Alto, magro, feíssimo, mas <strong>de</strong> uma lealda<strong>de</strong> distinta, havia em Kilkerry<br />

alguma coisa dos tipos pitorescos <strong>de</strong> Dickens, alguma coisa dos infelizes poetas <strong>de</strong><br />

Murger", diz Jackson <strong>de</strong> Figueiredo em seu livro "Humilhados e Luminosos". Kilkerry<br />

era um <strong>de</strong>vorador <strong>de</strong> livros. Lia, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadamente, todo gênero <strong>de</strong> literatura. Tinha um<br />

horror autêntico por Comte e uma preferência <strong>de</strong>cidida por Carlyle. Era um homem<br />

pouco feliz em sua vida, porém tinha adotado a seguinte máxima: "É necessário quebrar<br />

as garras da dor, rindo, educando-se para rir, como ensinava Meredith". Influenciado<br />

por Kilkerry, Jackson <strong>de</strong> Figueiredo aproximou-se <strong>de</strong> Nietzsche, Carlyle e Pascal.<br />

Em seu livro sobre Xavier Marques, escrito nessa época, expressava assim seu<br />

nietzscheanismo: "Divinizo os gestos daquele que foi mais forte que a socieda<strong>de</strong>, os<br />

gestos do Dominador, do Homem-Águia; quem po<strong>de</strong> mais é justo que tenha mais direitos.<br />

Que a socieda<strong>de</strong> procure ser mais po<strong>de</strong>rosa e respeitada. O indivíduo há <strong>de</strong> fortalecer-se<br />

se é digno e está feito para lutar. O dogma e a lei são a fonte perene das revoltas,<br />

dos martírios e heroísmos".<br />

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