Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia
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Seu ponto <strong>de</strong> partida nessa nova fase do seu pensamento era que a vida religiosa<br />
constituía a essência, a "própria alma" do Brasil, a base <strong>de</strong> sua existência espiritual e o<br />
verda<strong>de</strong>iro elemento <strong>de</strong> coesão e harmonia social. A brasilida<strong>de</strong> era para ele, no fundo,<br />
produto do catolicismo.<br />
Desse modo, replicava os positivistas que não tinham visto no catolicismo senão<br />
um produto da ignorância e um fator pernicioso para o progresso do país.<br />
No prólogo do seu estudo sobre "Pascal e a Inquietu<strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna", que é consagrado<br />
a mostrar a glória <strong>de</strong> Pascal como apologista da Igreja, dizia Jackson <strong>de</strong> Figueiredo<br />
que nunca o pensamento do Brasil tinha perdido a religiosida<strong>de</strong> essencial que o caracterizava.<br />
"Des<strong>de</strong> Magalhães até Farias Brito — dizia — se <strong>de</strong>senhava nitidamente a<br />
certeza <strong>de</strong> que a inteligência brasileira é inimiga <strong>de</strong> qualquer sistematização materialista".<br />
No positivismo encontrava ele, embora se proclamasse contrário a toda fé, que sua<br />
difusão se produzira no Brasil porque tinha a forma e o conteúdo <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira<br />
religião. No próprio Tobias Barreto <strong>de</strong>scobria a religiosida<strong>de</strong> dificilmente dominada e<br />
afirmava que tinha sido "um dubitativo que morreu nos braços da religião". A única<br />
exceção que encontrava na literatura brasileira era Machado <strong>de</strong> Assis, cético e irônico,<br />
<strong>de</strong> quem dizia que foi "uma glória quase exótica, um pervertido <strong>de</strong>leite, que, para felicida<strong>de</strong><br />
nossa, não teve irradiação popular".<br />
O movimento anti-católico e anti-espiritualista foi introduzido no Brasil, segundo<br />
Jackson <strong>de</strong> Figueiredo, não por brasileiros senão pelos "metecos que transplantaram<br />
aqui o sufrágio universal e outras mentiras revolucionárias". Foram eles que instauraram<br />
a república, a <strong>de</strong>mocracia e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m das consciências e das instituições dominantes<br />
no país. Foram eles que provocaram tribulações da Igreja num povo que sempre viveu<br />
para ela.<br />
Entretanto, Jackson <strong>de</strong> Figueiredo consolava-se pensando que no fundo mesmo<br />
<strong>de</strong>ssas tribulações, a Igreja tinha encontrado o fervor combativo que a fazia erguer-se<br />
novamente para lutar em todos os campos. E <strong>de</strong>clarava que passara já a época em que os<br />
católicos <strong>de</strong>viam permanecer amedrontados perante as hordas inimigas "<strong>de</strong>ixando que a<br />
Igreja caísse numa situação <strong>de</strong>sesperadora".<br />
Conseqüente com essas afirmações, proclamava a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma política<br />
autoritária e nacionalista.<br />
As i<strong>de</strong>ias políticas <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueiredo se inspiravam em Maurras e nos escritores<br />
<strong>de</strong> "L'Action Française" e sustentavam que o individualismo era o erro fundamental<br />
do mundo mo<strong>de</strong>rno, porque substituía os princípios da autorida<strong>de</strong> e da hierarquia<br />
dos valores humanos, pelo critério pessoal, portanto, a arbitrarieda<strong>de</strong> anárquica.<br />
Jackson <strong>de</strong> Figueiredo acreditava que <strong>de</strong>sse individualismo procediam o liberalismo,<br />
a <strong>de</strong>mocracia e o sufrágio universal. Consi<strong>de</strong>rava que a liberda<strong>de</strong> era impossível,<br />
porque toda ativida<strong>de</strong> só era fecunda na medida em que se submetia a uma lei, a uma<br />
disciplina. Sustentava que a liberda<strong>de</strong> não podia existir senão em um mundo <strong>de</strong> forças<br />
elementares, no caos. Qualificava o princípio da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consciência como "o mais<br />
idiota e, por isso mesmo, o mais divinizado dos dogmas revolucionários".<br />
Portanto, o mundo mo<strong>de</strong>rno que colocava a liberda<strong>de</strong>, isto é, a arbitrarieda<strong>de</strong>,<br />
por cima <strong>de</strong> tudo, estava em constante revolução. Jackson <strong>de</strong> Figueiredo <strong>de</strong>screvia assim<br />
o estado revolucionário: "Quando numa socieda<strong>de</strong> todos sentem que seu <strong>de</strong>stino está<br />
entregue às <strong>de</strong>cisões da força e não da autorida<strong>de</strong>, quando o respeito à lei se substitui<br />
pela expectativa do que <strong>de</strong>cidirá a espada, a revolução é um fato".<br />
Com essas convicções participou na campanha política <strong>de</strong> 1921-22, na qual, com<br />
um simplismo ingênuo, não chegou a ver senão, <strong>de</strong> um lado, o governo, e do outro, um<br />
grupo <strong>de</strong> indivíduos — "mistura <strong>de</strong> sargentões e <strong>de</strong>magogos <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ia" cuja capacida<strong>de</strong><br />
política reduzia-se a "saber arrastar os <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros dos quartéis". E promoveu a campa-<br />
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