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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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<strong>de</strong>sejava "dirigir palavras <strong>de</strong> conforto aos humil<strong>de</strong>s" e, finalmente, "mostrar que acima<br />

<strong>de</strong> tudo existe a lei moral". Essa atitu<strong>de</strong> apostólica <strong>de</strong> Farias Brito, era, como vemos<br />

radicalmente oposta à <strong>de</strong> Tobias Barreto, para quem, como já dissemos, a filosofia era<br />

uma ativida<strong>de</strong> intelectual aristocrática.<br />

Para conseguir seu objetivo e superar a <strong>de</strong>sesperação, a filosofia tinha <strong>de</strong> ser, segundo<br />

Farias Brito, mais do que uma paixão pela verda<strong>de</strong>, mais do que o amor pelo conhecimento,<br />

uma fonte <strong>de</strong> fé; sua função primordial consistiria na criação da fé. "Sem<br />

fé, dizia, não há vinculação entre as almas e é necessário que a humanida<strong>de</strong> seja um só<br />

corpo. A fé faz a união e a união é a força. Por isso a fé remove montanhas". Sua divisa<br />

era renovar a fé. Para isso era mister interrogar a natureza, tratar <strong>de</strong> penetrar no <strong>de</strong>sconhecido,<br />

trazer à luz o mistério da existência.<br />

Farias Brito foi o primeiro escritor brasileiro que se consagrou exclusivamente à<br />

filosofia. Suas obras estão escritas num estilo sem rebuscamento e apresentam páginas<br />

eloqüentes. Possuía amplo e seguro conhecimento da história do pensamento.<br />

Não conce<strong>de</strong>u especial atenção aos filósofos brasileiros aos quais, só se referiu<br />

aci<strong>de</strong>ntalmente, no curso das suas exposições. Em "A Base Física do Espírito", falando<br />

da filosofia brasileira do seu tempo dizia: "Em nosso país on<strong>de</strong>, por um lado o movimento<br />

das i<strong>de</strong>ias, na maioria dos casos, <strong>de</strong> importação estrangeira, chega quase sempre<br />

muito <strong>de</strong>vagar, e por outro lado tudo se exagera sem critério e sem medida, o que é natural<br />

nos países novos <strong>de</strong> imaginação exaltada; em nosso país, repito, a filosofia equipara-se<br />

à retórica oficial".<br />

Em "O Mundo Interior" ocupou-se do mesmo tema, nos seguintes termos: "Para<br />

nossos pensadores parece que o espaço <strong>de</strong>stinado ao pensamento ficou <strong>de</strong>finitivamente<br />

fechado e que o movimento filosófico chegou ao seu final com Augusto Comte. São<br />

raros os que foram um pouco mais além, mas <strong>de</strong> um modo geral <strong>de</strong>tiveram-se em Spencer<br />

e Haeckel."<br />

A parte mais importante da obra <strong>de</strong> Farias Brito era, sem nenhuma dúvida, a crítica<br />

que fez às doutrinas anti-espiritualistas, <strong>de</strong> modo minucioso e insistente. A ela quase<br />

todos os seus livros estavam <strong>de</strong>dicados. Foi com essa crítica que conseguiu exercer<br />

influência no pensamento brasileiro, apartando-o do naturalismo filosófico. Daí ser merecidamente<br />

admirado, na atualida<strong>de</strong>.<br />

A parte <strong>de</strong>stinada à exposição das doutrinas que, segundo pensava, <strong>de</strong>viam substituir<br />

às que criticava, não teve o <strong>de</strong>senvolvimento necessário. Parece que Farias Brito<br />

careceu <strong>de</strong> tempo para dar-lhe a <strong>de</strong>vida amplitu<strong>de</strong>. Com efeito morreu com apenas 55<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, quando precisamente era <strong>de</strong> esperar que produzisse a parte mais pessoal<br />

da sua obra.<br />

Delineou porém com traços firmes o perfil essencial do seu próprio sistema,<br />

principalmente nas últimas páginas <strong>de</strong> "Mundo Interior", permitindo-nos assim o conhecimento<br />

da sua verda<strong>de</strong>ira posição.<br />

Antes <strong>de</strong> tudo, Farias Brito, consi<strong>de</strong>rava que a filosofia era a ativida<strong>de</strong> mais profunda<br />

do espírito. "Os que combatem a filosofia, dizia, não sabem o que fazem. São<br />

como os cegos que negam a existência da luz porque não a po<strong>de</strong>m ver". O homem ante<br />

o mundo não podia permanecer passivo como um irracional. Por uma necessida<strong>de</strong> do<br />

seu próprio ser estava obrigado a interpretá-lo. Mesmo que o fizesse <strong>de</strong> modo errado ou<br />

grosseiramente, tinha <strong>de</strong> buscar uma explicação para o conjunto das coisas que o ro<strong>de</strong>avam.<br />

Por isso <strong>de</strong>la nasciam paulatinamente, por um lado as ciências e por outro as religiões,<br />

manifestações vivas do espírito, tão importantes e fundamentais para a vida como<br />

a própria filosofia.<br />

As ciências apareciam a medida que o homem sentia necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunir seus<br />

conhecimentos das coisas, em disciplinas especiais.<br />

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