15.04.2013 Views

Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Entretanto, Tobias Barreto afirmava que a ativida<strong>de</strong> filosófica tinha caráter aristocrático<br />

e não podia nem <strong>de</strong>via estar ao alcance das multidões. Nesse seu juízo apoiava-se<br />

em Goethe que afirmava: "Os resultados da filosofia <strong>de</strong>vem vir em benefício do<br />

povo; mas não se <strong>de</strong>ve elevar o povo até à cultura dos filósofos." Consi<strong>de</strong>rando indispensável<br />

para a direção social o conhecimento filosófico, indignava-se com a pobreza<br />

cultural do ambiente brasileiro do seu tempo, em que encontrava "unicamente a fé no<br />

velho Deus da Teologia e da Igreja".<br />

Ninguém usou o açoite <strong>de</strong> palavras tão duras e <strong>de</strong> maneira tão exagerada quanto<br />

ele, contra a ausência <strong>de</strong> preocupações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m filosófica, no Brasil. "Em nenhum domínio<br />

da ativida<strong>de</strong> intelectual o espírito brasileiro é tão tímido, frívolo e infecundo,<br />

quanto no domínio filosófico", dizia no estudo que fez <strong>de</strong> Kant. E acrescentava: "Se nas<br />

outras esferas do pensamento somos uma espécie <strong>de</strong> antropói<strong>de</strong>s literários, meta<strong>de</strong> homens<br />

e meta<strong>de</strong> macacos, sem nenhuma característica própria, sem expressão, sem originalida<strong>de</strong>,<br />

no reduto filosófico ainda é pior o nosso papel; não ocupamos nenhum posto,<br />

não temos direito sequer a sermos classificados." Nos "Estudos Alemães", <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

dizer que no Brasil a filosofia é apenas uma matéria que se estuda no colégio para prestar<br />

exames, acrescentava: "O Brasil sofre <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> prisão-<strong>de</strong>-ventre mental;<br />

tem peçonha no cérebro". Tobias Barreto formulava essas afirmações não porque se<br />

acreditasse também atacado da geral esterilida<strong>de</strong>; mais parece que as fazia para humilhar<br />

aos que pretendiam cultivar o campo em que ele queria ser senhor exclusivo. A<br />

mesma origem psicológica tinha seu <strong>de</strong>sdém total pela ciência e a filosofia francesas.<br />

Como em sua quase totalida<strong>de</strong>, os escritores do seu tempo liam exclusivamente obras<br />

francesas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> adquiriam seus conhecimentos, Tobias Barreto <strong>de</strong>clarava que essas<br />

obras não tinham real valor. A filosofia ou a ciência, divulgadas em francês, não eram,<br />

segundo ele, mais do que "transposições para a clave <strong>de</strong> sol, para uso <strong>de</strong> diletantes" da<br />

verda<strong>de</strong>ira ciência ou filosofia. Não lhe escapava uma oportunida<strong>de</strong> para insistir na superficialida<strong>de</strong><br />

e trivialida<strong>de</strong> do espírito francês. Renan, para ele, não passava <strong>de</strong> um habilidoso<br />

criador <strong>de</strong> frases. Em Guyau não encontrava nada além da i<strong>de</strong>ia fixa <strong>de</strong> provar<br />

que os alemães nada valiam. Tobias Barreto sustentava que enquanto o alemão penetrava<br />

o mais profundo do pensamento ou caia nos maiores absurdos, o francês não era capaz<br />

<strong>de</strong> sair da mediocrida<strong>de</strong> flutuando entre duas águas, sem jamais alcançar a essência<br />

dos problemas.<br />

Por isso asseverava que era indispensável uma verda<strong>de</strong>ira aproximação do espírito<br />

do Brasil com o da Alemanha a fim <strong>de</strong> que a cultura e a ciência <strong>de</strong>sta varressem as<br />

sombras que obscureciam toda a vida pública brasileira. Após a guerra <strong>de</strong> 70, Tobias<br />

Barreto acreditava que já não havia dúvida possível. "Na luta darwiniana entre a França<br />

e Alemanha, dizia, o Brasil ignora e nem sequer pressente a gran<strong>de</strong>za dos resultados."<br />

Naturalmente a inteligência <strong>de</strong> Tobias Barreto soube dar um profundo sentido à<br />

sua paixão germanófila. O germanismo representava para ele, o espírito <strong>de</strong> crítica, <strong>de</strong><br />

análise e <strong>de</strong> auto-conhecimento, que consi<strong>de</strong>rava necessário para vencer a política retórica,<br />

utópica e alheia às realida<strong>de</strong>s sociais, que então dominava no Brasil. O pensamento<br />

francês em vez <strong>de</strong> melhorar a situação do país, a tornava pior, segundo acreditava, <strong>de</strong>spersonalizando<br />

os espíritos, levando-os à imitação e incitando-os à frivolida<strong>de</strong>.<br />

Desse modo colocava-se numa espécie <strong>de</strong> torre <strong>de</strong> marfim, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> pontificava,<br />

burlando-se dos simples "leitores <strong>de</strong> francês". Como dizia no prólogo <strong>de</strong> "Questões Vigentes",<br />

"sua velha mania germanófila era para ele uma espécie <strong>de</strong> isolador <strong>de</strong> qualquer<br />

comunicação mais íntima com o espírito geral da literatura pátria."<br />

Toda a filosofia <strong>de</strong> Tobias Barreto baseava-se em <strong>de</strong>terminadas concepções metafísicas.<br />

Muito embora em 1875 dissesse que a metafísica era "uma forma <strong>de</strong> poesia<br />

enfadonha que sabe revestir as mais frívolas bagatelas com um ar <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong> sombria<br />

21

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!