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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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nou "teoria ptolomáica do direito" porque pretendia que este permanecesse imóvel e<br />

invariável, num mundo humano, em que tudo se transforma e tudo é relativo.<br />

Negava também a valida<strong>de</strong> das doutrinas contratualistas, dizendo que "a teoria<br />

do contrato social era tão insustentável como a teoria <strong>de</strong> que o movimento dos astros<br />

nasceu <strong>de</strong> uma convenção estelar".<br />

Finalmente, reagia contra uma concepção darwiniana do direito. Reconhecia que<br />

o direito, como todos os fenômenos sociais, <strong>de</strong>senvolvia-se pela herança e pela adaptação<br />

e que havia uma ontogenia e uma filogenia jurídicas, aceitava a existência da "luta<br />

pelo direito", mas ao mesmo tempo afirmava que "não havia direito natural, mas uma lei<br />

natural do direito" como produto da cultura humana. "O direito é uma criação da cultura<br />

humana, dizia, uma das formas da vida social: a vida pela coação até on<strong>de</strong> não é possível<br />

a vida pelo amor". Definia o direito dizendo que era "o conjunto <strong>de</strong> condições existenciais<br />

e evolutivas da socieda<strong>de</strong> obrigatoriamente asseguradas".<br />

Em resumo, Tobias Barreto incluía o direito <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas concepções gerais da<br />

socieda<strong>de</strong> e do homem. Consi<strong>de</strong>rava-o como uma das manifestações da cultura e da<br />

liberda<strong>de</strong> humanas, assim como <strong>de</strong>monstrava que essa liberda<strong>de</strong> correspondia a um finalismo<br />

universal impenetrável à nossa inteligência.<br />

Com essas i<strong>de</strong>ias, renovou os estudos jurídicos e contribuiu para a elevação do<br />

nível cultural dos juristas brasileiros dos quais dizia que em seu tempo eram unicamente<br />

capazes <strong>de</strong> entrar no emaranhado das leis para procurar recursos que lhes permitissem<br />

"torcer-lhes o pescoço".<br />

Finalmente, Tobias Barreto não foi homem <strong>de</strong> partido, vivendo sempre distanciado<br />

da política. Nada escreveu sobre a escravidão que apaixonava os seus contemporâneos.<br />

Não lhe entusiasmava a fé republicana em que ardiam os positivistas, apesar <strong>de</strong> ter<br />

feito duras críticas ao Imperador Pedro II. É que aspirava algo mais alto para a sua pátria:<br />

a formação <strong>de</strong> uma cultura capaz <strong>de</strong> sobrepor-se aos instintos primários que ele via<br />

dominando por toda parte.<br />

Ao falar <strong>de</strong> Tobias Barreto, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fazê-lo também do seu mais<br />

fervoroso admirador, Sylvio Romero.<br />

Ambos nasceram em Sergipe. Conheceram-se em Pernambuco em 1868, quando<br />

estudavam Direito na Faculda<strong>de</strong> do Recife. Apesar <strong>de</strong> que, como ele próprio afirmou,<br />

Sylvio Romero não se subordinou intelectualmente a Tobias Barreto, é indubitável que<br />

as orientações <strong>de</strong> Tobias Barreto influíram, <strong>de</strong>cisivamente, no seu pensamento e na sua<br />

obra.<br />

Como Tobias Barreto no terreno filosófico, Sylvio Romero combateu no campo<br />

literário o francesismo que havia apartado a literatura brasileira das suas raízes ibéricas<br />

e das suas próprias fontes populares.<br />

Sylvio Romero foi um dos maiores críticos literários brasileiros. Consagrou<br />

também sua atenção à filosofia. Publicou um livro a que já nos referimos, intitulado "A<br />

<strong>Filosofia</strong> no Brasil", que é uma história das i<strong>de</strong>ias filosóficas brasileiras até 1876, data<br />

em que foi escrito. Em 1894 publicou outra obra intitulada "Doutrina contra Doutrina",<br />

em que fazia a crítica do positivismo brasileiro e atacava o positivismo em geral, como<br />

"uma coisa perigosa que <strong>de</strong>ve ser combatida, com rigor". Em toda sua obra se encontra<br />

a preocupação filosófica dominando-lhe o espírito.<br />

Fez-se famosa, porque simbolizava a época, uma anedota segundo a qual Sylvio<br />

Romero quando prestava exame no concurso em que se candidatava à cátedra <strong>de</strong> filosofia,<br />

num colégio do Recife, respon<strong>de</strong>u algumas objeções do examinador dizendo: — A<br />

metafísica está morta. O examinador replicou-lhe: — Foi o senhor quem a matou?<br />

No seu livro sobre o positivismo, assim expressou a própria convicção filosófica:<br />

"Pelo seu caráter, pela sua índole, pelas suas tendências intrínsecas o povo brasileiro<br />

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