Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

mo objetivo". O racionalismo tem tendência de julgar todas as coisas com critério mecânico,
desconhecendo a existência de forças irracionais e indeterminadas na vida. Por
isso leva a exageros e a utopias como a do marxismo, que Cannabrava considera um
rebento do racionalismo positivista.
Cannabrava também não aceita as filosofias vitalistas, que lhe parecem ressurreições
das velhas teorias do "humanismo zoológico", que o racismo e o fascismo querem
mostrar como novas concepções.
Acredita que o pensamento contemporâneo, no que tem de vivo e permanente,
nos conduz para o redescobrimento do espírito. Encontra essa tendência, tanto nas concepções
filosóficas como nas científicas e artísticas, predominantes na atualidade.
Em filosofia, os mais altos representantes do pensamento contemporâneo são,
para ele, Nicolai Hartmann, Max Scheler e Heidegger, todos favoráveis à independência
do espírito. Cannabrava tem uma assinalada simpatia por Scheler. "Não há nenhuma
outra figura do pensamento moderno, diz, que apresente tal riqueza de ideias, tendências
e sugestões."
No domínio das ciências, Cannabrava lembra as descobertas realizadas pelos físicos
sobre a indeterminação das atividades atômicas, as quais demonstram que a regularidade
dos fenômenos naturais assemelha-se à regularidade dos fenômenos sociais,
nos quais apenas existem leis estatísticas.
Finalmente, Cannabrava afirma que a arte, na atualidade, não se esgota como em
outras épocas, no simples impressionismo ou expressionismo, mas que tende a ser considerada
como uma forma profunda de contato direto com o universo, mais próxima da
religião do que da ciência.
Todos esses dados levam-no ao pressentimento da aparição de um novo humanismo,
destinado a sistematizar as aquisições do espírito contemporâneo que atualmente
estão dispersas. Tais conclusões dão às ideias de Cannabrava um calor cordial e uma
vibração idealista sumamente simpática. Para ele não só nos problemas sociais e morais
mas também no próprio centro do saber científico e filosófico devem estar os valores
humanos.
Não quero resistir à tentação, antes de terminar estas linhas, de transcrever as seguintes
considerações que, sobre a disponibilidade predicada por Gide, faz Cannabrava
num dos seus estudos: "A liberdade não é um dom natural, porque consiste principalmente
numa laboriosa conquista da vontade. O homem adquire o direito de ser livre,
mediante a aplicação cotidiana da vontade para o domínio plástico e irredutível do seu
mundo interior. Pobre daquele que se contenta em fazer o que quer e que confunde o ato
livre de optar entre ideologias políticas, entre sistemas de ideias, entre preconceitos morais,
com a liberdade de julgar sem travas, de observar sem compromissos e definir-se
sem paixão."
IVAN LINS
O comtismo continua existindo até agora no Brasil graças à Igreja Positivista
que se perpetua no templo e na organização que lhe deu Miguel Lemos. Os ensinamentos
do grande filósofo francês são estudados todos os domingos naquele templo, onde
são feitas conferências em que a doutrina de Comte é comentada de acordo com os problemas
da atualidade.
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