Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia
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TOBIAS BARRETO<br />
Tobias Barreto foi, sem dúvida alguma, o pensador <strong>de</strong> maior personalida<strong>de</strong> que<br />
o Brasil possuiu no século passado.<br />
A biografia <strong>de</strong> Tobias Barreto é muito simples. Quase não houve peripécias na<br />
sua vida, que foi uma permanente luta com as dificulda<strong>de</strong>s materiais. Nascido para a<br />
ativida<strong>de</strong> especulativa, foi incapaz <strong>de</strong> conseguir uma situação econômica regular. Carecia<br />
daquela vocação para a felicida<strong>de</strong> a que, não sem melancolia, se referiu, num dos<br />
seus ensaios.<br />
Nasceu numa vila <strong>de</strong> Sergipe, dia 7 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1839. Seu pai era escrivão público,<br />
que tinha um temperamento alegre e folgazão. Sua mãe era doce e suavemente<br />
triste. Tobias Barreto apren<strong>de</strong>u a ler e fez seus primeiros estudos, no lugar on<strong>de</strong> nasceu.<br />
Aos quinze anos já tinha obtido um título que lhe permitia exercer as funções <strong>de</strong> substituto<br />
nas cátedras <strong>de</strong> latim. Aos vinte e dois anos mudou-se para Bahia on<strong>de</strong> se internou<br />
no seminário. Não tendo suportado a rígida disciplina daquele estabelecimento eclesiástico,<br />
abandonou-o, mal acabava <strong>de</strong> entrar.<br />
Na Bahia conheceu o padre Itaparica, que ensinava filosofia e que o tornou discípulo<br />
<strong>de</strong> Cousin. Ao mesmo tempo <strong>de</strong>scobriu Victor Hugo, que lhe causou verda<strong>de</strong>iro<br />
<strong>de</strong>slumbramento, chegando a <strong>de</strong>spertar-lhe a vocação poética. Estudou Direito em Pernambuco.<br />
Pleno do fervor lírico que lhe nascera na Bahia, iniciou em Recife o movimento<br />
literário e poético, chamado no Brasil <strong>de</strong> "Condoreiro", do qual Castro Alves se<br />
tornou o mais glorioso expoente.<br />
Formado em Direito, exerceu essa profissão para a qual realmente não tinha vocação,<br />
na pequena cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Escada, centro <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong> engenho <strong>de</strong> açúcar, em cujo<br />
ambiente tranqüilo e exageradamente conservador <strong>de</strong>bateu-se durante <strong>de</strong>z anos, estudando<br />
infatigavelmente.<br />
Deixou Escada quando completou 43 anos, mudando-se para Recife, on<strong>de</strong> obteve<br />
uma cátedra na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito. Des<strong>de</strong> então consagrou-se exclusivamente ao<br />
ensino do Direito e ao estudo da filosofia.<br />
Morreu em 1889, com cinqüenta anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, na casa <strong>de</strong> um aluno, on<strong>de</strong> estava<br />
hospedado, tendo ali chegado enfermo. Antes <strong>de</strong> morrer recebeu os sacramentos religiosos<br />
não se sabendo ao certo se o fez para aten<strong>de</strong>r à súplica da sua esposa, como sustentou<br />
seu filho, ou simplesmente porque se convertera ao catolicismo, como afirmou o<br />
seu confessor.<br />
Em torno da sua personalida<strong>de</strong> a crítica brasileira tem travado as mais exaltadas<br />
polêmicas. Orgulhoso e agressivo, Tobias Barreto levantou ao seu redor resistências e<br />
até mesmo rancores, que lhe criaram um prestígio equívoco e confuso.<br />
Sylvio Romero que foi o seu mais entusiasta apologista dizia no prólogo do volume<br />
"Estudos <strong>de</strong> Direito" <strong>de</strong> Tobias Barreto, publicado <strong>de</strong>pois da sua morte, que a fama<br />
do filósofo tinha atravessado quatro fases: primeiro, foi completamente ignorado e a<br />
crítica não se ocupou da sua pessoa; <strong>de</strong>pois, foi reconhecida a sua existência, mas consi<strong>de</strong>raram-no<br />
um polemista medíocre e turbulento; em seguida, já não sendo possível<br />
negar-lhe o talento, foi classificado como poeta gongórico e pensador estéril; e finalmente<br />
passou a ser apresentado pela crítica como um escritor brilhante mas superficial,<br />
boêmio incorrigível.<br />
Se é verda<strong>de</strong> que Tobias Barreto tinha um espírito ar<strong>de</strong>nte e sensual, também é<br />
certo que sempre foi um homem trabalhador e profundamente honesto. Dotado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
capacida<strong>de</strong> intelectual, jamais prostituiu o seu talento para alcançar favores econômicos<br />
ou honrarias. Com ríspida in<strong>de</strong>pendência afastava-se <strong>de</strong> qualquer situação duvidosa.<br />
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