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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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cultura está na matéria dos vossos instintos. Eles sabem mais do que vós mesmos, enxergam<br />

melhor do que vós, porque vossos olhos foram feitos para os campos, para o<br />

mar, o céu, o universo das coisas materiais e os olhos <strong>de</strong>les para a escuridão que os ro<strong>de</strong>ia."<br />

Se "A Sabedoria dos Instintos" é uma ética em aforismos, "A Sabedoria da Inteligência"<br />

é uma verda<strong>de</strong>ira gnoseologia em aforismos. Pontes <strong>de</strong> Miranda expõe nesse<br />

último livro as i<strong>de</strong>ias que vem <strong>de</strong>senvolvendo sobre a impossibilida<strong>de</strong> do conhecimento<br />

metafísico e sobre o valor dos processos lógicos e matemáticos para a <strong>de</strong>scoberta da<br />

realida<strong>de</strong>.<br />

A metafísica é sempre para Pontes <strong>de</strong> Miranda uma tentativa frustrada. "Nossos<br />

sentidos sentem apenas uma ínfima parte daquilo que é. Muito além do que nos trazem<br />

das suas buscas pelo real está a imensidão do que nós não sentimos, mas que existe sem<br />

que seja percebido pelas precárias antenas que a vida nos <strong>de</strong>u". Assim, as concepções<br />

metafísicas não passam <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte e <strong>de</strong> sentimento. Elas surgem quando o homem<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> olhar a realida<strong>de</strong> exterior para olhar e interpretar o que tem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesmo.<br />

Para Pontes <strong>de</strong> Miranda o problema <strong>de</strong> Deus é, <strong>de</strong>ssa forma, um problema sem solução.<br />

Ante a incapacida<strong>de</strong> da metafísica, Pontes <strong>de</strong> Miranda reconhece, com Poincaré,<br />

que "o homem é o ser que simplifica sua adaptação ao mundo e à vida", e aceita a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> "acomodações" lógicas e matemáticas para o pensamento. Não conhecemos<br />

o universo mas, baseando-nos na experiência, po<strong>de</strong>mos imaginar um universo, livrando-nos<br />

assim <strong>de</strong> nos per<strong>de</strong>rmos no caos mental.<br />

"Só os expedientes e os processos matemáticos, diz em "A Sabedoria da Inteligência",<br />

po<strong>de</strong>m guiar-nos com segurança na investigação das sutis e complicadas manifestações<br />

da vida universal, do mundo dos fatos. O número assiste às misteriosas elaborações<br />

da matéria e da vida."<br />

EURYALO CANNABRAVA<br />

Este jovem pensador, ainda não completou quarenta anos, não publicou nenhum<br />

livro até agora. Entretanto tem a seu cargo, há alguns anos, uma seção do diário "O Jornal",<br />

<strong>de</strong>nominada "Letras Estrangeiras", que talvez seja a tribuna <strong>de</strong> difusão filosófica<br />

mais interessante, no Brasil.<br />

Cannabrava comenta ali as produções filosóficas alemãs, francesas ou inglesas<br />

mais recentes. Cannabrava é dotado daquela qualida<strong>de</strong> que ele achava em Bene<strong>de</strong>tto<br />

Croce: a preocupação com a elegância e a aristocracia mental. Assim é que os seus artigos<br />

apresentam sempre, além do mérito filosófico indiscutível valor literário.<br />

Muito embora Cannabrava apenas exponha as doutrinas filosóficas alheias, fazendo<br />

crítica, po<strong>de</strong>-se perceber alguns traços característicos do seu pensamento, apesar<br />

<strong>de</strong> ainda não ter este chegado a uma organização <strong>de</strong>finitiva.<br />

Nota-se logo que ele não se simpatiza com o racionalismo. Na ocasião do centenário<br />

<strong>de</strong> Descartes, publicou vários comentários empenhando-se em <strong>de</strong>monstrar quanto<br />

havia <strong>de</strong> nebuloso, <strong>de</strong> instintivo, <strong>de</strong> anti-cartesiano no próprio pensamento do gran<strong>de</strong><br />

filósofo francês. A Benda, que é o representante literário do cartesianismo mo<strong>de</strong>rno, o<br />

qualifica <strong>de</strong> "monstro amável". O racionalismo é, para Cannabrava, produto <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações<br />

sentimentais, "mas sua habilida<strong>de</strong> consiste em dissimular suas preferências e<br />

aversões, no domínio das i<strong>de</strong>ias, com uma aparente submissão à marcha do racionalis-<br />

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