Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia
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Aranha fez rápida e brilhante carreira: catedrático, procurador, diplomata. Foi secretário<br />
do tribunal boliviano-brasileiro, encarregado <strong>de</strong> resolver os problemas <strong>de</strong> reclamações<br />
por in<strong>de</strong>nizações das terras do Acre, criado pelo Tratado <strong>de</strong> Petrópolis. Foi Ministro<br />
Plenipotenciário, membro fundador da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras.<br />
Muito menos profundo do que o seu mestre <strong>de</strong> quem dizia que "<strong>de</strong>rrubou toda a<br />
obsoleta arquitetura do Direito no Brasil", Graça Aranha alcançou prestígio como romancista<br />
e na literatura é que exerceu sua maior influência. Foi um dos brilhantes <strong>de</strong>fensores<br />
do Simbolismo, <strong>de</strong>pois o precursor do romance <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e em 1922 transformou-se<br />
em arauto do Movimento Mo<strong>de</strong>rnista Brasileiro.<br />
Talvez por isso foi tachado <strong>de</strong> versátil e volúvel, acreditando-se ver nele um<br />
temperamento revolucionário. Ele próprio participou da ilusão neste último sentido:<br />
"Sou hereditariamente revolucionário, dizia, uma fatalida<strong>de</strong> me impõe a ânsia da libertação,<br />
o furor <strong>de</strong> mudar o mundo e <strong>de</strong> transformá-lo, completamente". Entretanto nunca<br />
revelou esse furor, a não ser em pugnas literárias.<br />
No íntimo Graça Aranha era um espírito meditativo. Faltava-lhe a paixão do imediato,<br />
do atual, que pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>spertar-lhe a necessida<strong>de</strong> trágica <strong>de</strong> subverter as coisas.<br />
Apesar <strong>de</strong> suas mutações literárias, Graça Aranha possuía um sistema coerente<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias que se manifestava nos seus romances "Canaã" e "Viagem Maravilhosa", tão<br />
claramente como nos seus ensaios sobre a "Estética da Vida" e o "Espírito Mo<strong>de</strong>rno".<br />
Em "Canaã", seu romance mais famoso, traduzido para francês, inglês e espanhol,<br />
Graça Aranha <strong>de</strong>screvia a absorção dos colonizadores alemães, filhos da Europa<br />
setentrional, pela natureza bárbara do trópico. Os personagens do romance eram: Milkau,<br />
um esteta que buscava no Brasil uma nova terra <strong>de</strong> promissão para o seu espírito;<br />
Lentz, um nietzcheano que sonhava com o triunfo da sua raça nas regiões tropicais e<br />
acreditava que "a vida era luta e crime"; e Maria, uma <strong>de</strong>sventurada mulher, vítima <strong>de</strong><br />
uma tragédia íntima, que se convertia no símbolo da dor que redime o homem. Nesse<br />
romance, o pensamento essencial, que se repetia através <strong>de</strong> todo ele, estava con<strong>de</strong>nsado<br />
nas seguintes palavras <strong>de</strong> Milkau: "Aqui o espírito é esmagado pela estupenda majesta<strong>de</strong><br />
da natureza. Dissolvemo-nos na contemplação. E aquele que se per<strong>de</strong> na adoração<br />
passa a escravo <strong>de</strong> uma hipnose: a personalida<strong>de</strong> se lhe escapa para difundir-se na alma<br />
do todo". "A floresta no Brasil é sombria e trágica. Traz em si o tédio das coisas eternas.<br />
A floresta européia é diáfana e cambiante, transforma-se infinitamente pelos toques da<br />
morte e da ressurreição, que nela se suce<strong>de</strong>m como os dias e as noites".<br />
"Canaã" foi escrito em 1902. "Viagem Maravilhosa" foi publicado em 1928. Este<br />
romance que provocou no Brasil as mais exaltadas controvérsias consi<strong>de</strong>rado por uns<br />
como obra genial, enquanto outros consi<strong>de</strong>ravam-no verda<strong>de</strong>ira frustração, era <strong>de</strong> fato<br />
menos interessante do que o primeiro. Uma diatribe constante e sem transcendência<br />
contra o governo brasileiro daquela época, mesclada com uma aventura sentimental<br />
monótona e cheia <strong>de</strong> artifícios. Mas nessa obra, o pensamento essencial <strong>de</strong> Graça Aranha<br />
repetia-se com a mesma regularida<strong>de</strong> que em "Canaã".<br />
O principal personagem masculino da obra assim resumia suas i<strong>de</strong>ias: "Que é o<br />
universo? A ciência não o explica. A filosofia vem a interpretar o mistério. Felipe buscou<br />
em todos os sistemas, em todas as religiões, a explicação <strong>de</strong>sse universo absorvente<br />
e intangível. Somente encontrou imagens. Felipe repudiou esse exclusivo conceito espetacular.<br />
O universo não é um espetáculo. É uma integração. A suprema aspiração do<br />
espírito é a fusão com o todo".<br />
Em "Malazarte", drama que foi representado pela primeira vez em Paris, o personagem<br />
principal dizia: "Devíamos viver na absoluta inconsciência como os astros e as<br />
árvores; mas se por fatalida<strong>de</strong> da nossa inteligência nasce a consciência da vida, então<br />
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