Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia
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FARIAS BRITO<br />
A fins do século passado as correntes positivistas, monísticas e evolucionistas tinham<br />
dominado totalmente o pensamento brasileiro, não só pela influência <strong>de</strong> Tobias<br />
Barreto no nor<strong>de</strong>ste e a ação do grupo positivista no Rio <strong>de</strong> Janeiro, mas também pela<br />
difusão em todo o país das obras <strong>de</strong> Comte, Spencer, Buchner, Haeckel, Le Dantec, etc,<br />
que se vendiam em edições populares, tanto francesas quanto espanholas.<br />
Desse modo não se pensava senão em termos materialistas e positivistas. Só se<br />
aceitava o conhecimento como instrumento para o domínio da natureza. A filosofia<br />
chegou a ser logicamente consi<strong>de</strong>rada uma disciplina intelectual anacrônica e inútil ou,<br />
quando muito, válida como simples "poesia do i<strong>de</strong>al", segundo a expressão <strong>de</strong> Renan, e<br />
como tal suprimida do ensino oficial. Quanto à religião, consi<strong>de</strong>ravam-na uma manifestação<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência intelectual, uma servidão do espírito, indigno da época.<br />
Entretanto, não tardaram a aparecer algumas reações contra essa mentalida<strong>de</strong>.<br />
No terreno literário o Simbolismo, que em sua essência foi um esforço para penetrar no<br />
sentido profundo e misterioso da vida, negado pela visão positivista do universo, apareceu<br />
no Brasil com alguns poetas que se caracterizavam pelas suas tendências vagamente<br />
místicas e religiosas. Por seu lado o catolicismo que o regime republicano privara da<br />
gran<strong>de</strong> influência que exercera, em outros tempos, <strong>de</strong>purava-se dos <strong>de</strong>feitos que tanto<br />
contribuíram para a difusão <strong>de</strong> uma mentalida<strong>de</strong> anti-religiosa e começava a mostrar<br />
sem puros valores espirituais.<br />
Finalmente as campanhas que realizavam na França, por um lado Bergson em<br />
nome da ciência contra o materialismo e a doutrina monística naturalista, e por outro<br />
lado Maurras com seus violentos ataques à <strong>de</strong>mocracia e ao espírito liberal começaram<br />
a ser conhecidas no Brasil, preparando o ambiente intelectual para uma transformação.<br />
Nessas circunstâncias apareceu Farias Brito com uma filosofia que era francamente<br />
a negação do positivismo e do monismo naturalista e <strong>de</strong> todas as concepções que<br />
pretendiam <strong>de</strong>sconhecer que o universo tinha uma finalida<strong>de</strong> e estava governado pelo<br />
espírito.<br />
Farias Brito, como Tobias Barreto, era provinciano. Nasceu num povoado do<br />
Ceará em julho <strong>de</strong> 1862. Criança ainda, ficou órfão <strong>de</strong> pai. Aos <strong>de</strong>zessete anos entrou no<br />
Liceu da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza, on<strong>de</strong> fez seus estudos, enquanto dava aulas particulares <strong>de</strong><br />
matemática para ganhar o próprio sustento. Estudou Direito na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco.<br />
Graduou-se aos vinte e dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. De regresso ao Estado natal, exerceu as<br />
funções <strong>de</strong> promotor público. Mais tar<strong>de</strong> o governador do Estado nomeou-o seu secretário.<br />
Em 1889, ano da proclamação da República no Brasil, esteve no Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />
publicou "Cantos Mo<strong>de</strong>rnos", livro <strong>de</strong> versos medíocres, que não teve êxito. Regressou<br />
ao Ceará com o propósito <strong>de</strong> ingressar na política. Apresentou sua candidatura à assembléia<br />
constituinte estadual mas não obteve nenhum resultado. Depois <strong>de</strong>sse fracasso<br />
Farias Brito passou a preocupar-se com a filosofia. Trasladou-se ao Pará, on<strong>de</strong> foi nomeado<br />
professor <strong>de</strong> lógica <strong>de</strong> um colégio e suplente <strong>de</strong> catedrático na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito.<br />
Em 1909, instalou-se <strong>de</strong>finitivamente no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Teve a seu cargo a cátedra<br />
<strong>de</strong> lógica do Colégio Pedro II. Morreu em 1917.<br />
As impressões que <strong>de</strong>ixou, nos que o conheceram, foram sumamente simpáticas<br />
e eles assim se referiram à sua pessoa. "Minha surpresa foi muito gran<strong>de</strong>, quando o vi<br />
pela primeira vez, conta Jackson <strong>de</strong> Figueiredo, imaginava-o forte, alto, inabordável; e o<br />
vi débil, <strong>de</strong> pequena estatura, <strong>de</strong> aparência bondosa e serena".<br />
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