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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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O ecletismo permitia, <strong>de</strong>ssa maneira, uma espécie <strong>de</strong> pacto entre as inclinações<br />

reacionárias surgidas no começo do século XIX e as aspirações renovadoras que se percebiam<br />

em todas as esferas da ativida<strong>de</strong> humana.<br />

Na época <strong>de</strong> Mont’Alverne o Brasil atravessava um dos períodos mais agitados<br />

da sua história. Em conseqüência da invasão napoleônica o rei <strong>de</strong> Portugal trasladara-se<br />

com toda corte para o Rio <strong>de</strong> Janeiro. Tal acontecimento tinha transformado a vida do<br />

país. Rio <strong>de</strong> Janeiro foi tomando os hábitos próprios <strong>de</strong> uma corte. A administração foi<br />

beneficiada com a presença <strong>de</strong> D. João VI. Foi <strong>de</strong>clarado livre o comércio pondo fim ao<br />

monopólio português. Começaram a surgir fábricas e oficinas. Quando D. João VI e sua<br />

corte regressaram a Portugal, já havia nascido o po<strong>de</strong>roso movimento nacionalista que<br />

promoveu a In<strong>de</strong>pendência e a criação do Império.<br />

O pensamento brasileiro não podia ficar alheio a essas transformações da vida<br />

pública, que por sua vez refletiam as que em maior escala se produziam na Europa. Por<br />

essa razão orientou-se para uma filosofia que sem obrigá-lo a romper com as tradições<br />

religiosas permitia-lhe assimilar as correntes renovadoras que se impunham com força<br />

irresistível.<br />

Mont’Alverne foi o divulgador entusiasta e convencido do ecletismo. Difundiu-o<br />

da sua cátedra <strong>de</strong> <strong>Filosofia</strong>, no colégio São José do Rio <strong>de</strong> Janeiro. "Tanto pelo dom <strong>de</strong><br />

bem falar, que é sempre a manifestação <strong>de</strong> feliz inteligência, como pela doutrina que<br />

ensinava, não tinha rival como professor <strong>de</strong> <strong>Filosofia</strong>", disse Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães<br />

que foi seu discípulo.<br />

Mont’Alverne <strong>de</strong>ixou apenas um livro filosófico intitulado "Compêndio <strong>de</strong> <strong>Filosofia</strong>"<br />

e que foi publicado <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua morte. Esse livro, pouco volumoso, é um resumo<br />

interessante escrito em linguagem clara e precisa, muito diferente da que Mont’Alverne<br />

usava no púlpito. Os temas essenciais da <strong>Filosofia</strong> estão ali contidos, seus <strong>de</strong>talhes<br />

inúteis ou digressões <strong>de</strong>snecessárias.<br />

Mont’Alverne criticava a filosofia escolástica nestes termos: "Os árabes, dizia,<br />

que venceram e substituíram os bárbaros, ressuscitaram a velha e quase esquecida filosofia<br />

<strong>de</strong> Aristóteles e nela enxertaram seus erros e preconceitos. Dos cérebros árabes<br />

pareceu então renascer a filosofia, mas como estava diferente do que já fora! Privada da<br />

sua antiga sublimida<strong>de</strong>, servindo-se <strong>de</strong> uma língua grosseira, áspera, ineptamente carregada<br />

<strong>de</strong> questões e argumentos fúteis, <strong>de</strong>tendo-se em indagações fora do alcance do<br />

entendimento, amando mais as disputas clamorosas do que as <strong>de</strong>monstrações úteis e<br />

pacíficas, respeitando mais a doutrina tumultuaria dos peripatéticos do que as normas da<br />

razão esclarecida e reta. Impunha silêncio à razão e à experiência para submeter-se cegamente<br />

à doutrina <strong>de</strong> Aristóteles. Assim a filosofia, em vez <strong>de</strong> exaltar a razão e irradiála,<br />

como era a sua missão, a <strong>de</strong>primia e a entregava à ignorância". Para Mont’Alverne, a<br />

filosofia mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>via o próprio progresso à <strong>de</strong>struição da escolástica. "Essa filosofia<br />

bárbara, afirmava, reinou quase em toda Europa até que em meados do século XVII<br />

apareceu Descartes."<br />

No assunto principal das discussões da época que era o do relacionamento do<br />

corpo com a alma, Mont’Alverne era, seguindo Laromiguière, partidário <strong>de</strong> uma espécie<br />

<strong>de</strong> ocasionalismo. Acreditava que as ativida<strong>de</strong>s sensoriais não davam origem aos movimentos<br />

da consciência como afirmava o sensualismo mas eram a ocasião para que<br />

esse ser ativo e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte que é a alma <strong>de</strong>senvolvesse suas ativida<strong>de</strong>s. "Não consi<strong>de</strong>ro<br />

a sensação, dizia, como conseqüência física e imediata do movimento dos nervos.<br />

Consi<strong>de</strong>ro, <strong>de</strong> certa forma, esse movimento como um sinal natural da sensação e este<br />

sinal foi feito pelo Criador."<br />

Conseqüentemente, rechaçava a teoria das i<strong>de</strong>ias inatas. "Não temos i<strong>de</strong>ia das ativida<strong>de</strong>s<br />

da alma separadas das do corpo: todas as manifestações da alma que conhe-<br />

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