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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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A religião atribuía um espírito a cada uma das coisas, à totalida<strong>de</strong> da natureza ou<br />

a uma força que as dirigia. Criava aproximações entre o homem e esse espírito dando<br />

assim à consciência a exaltação unificadora.<br />

A filosofia surgiu quando o sentimento religioso foi diminuindo até ficar insuficiente<br />

ante as explicações científicas dos fenômenos do universo. Por meio <strong>de</strong>la, a inteligência<br />

queria explicar o que é o mundo e, <strong>de</strong>sse modo, nele integrar-se.<br />

Finalmente, a arte podia unir o homem e o cosmos quando os atributos sensíveis<br />

das coisas produziam no espírito não só sensações mas também uma emoção profunda<br />

<strong>de</strong> universalida<strong>de</strong>. Por isso a arte não era um jogo, nem uma ativida<strong>de</strong> utilitária ou um<br />

simples <strong>de</strong>leite. Era uma função grandiosa <strong>de</strong>ssa angústia metafísica que produz no homem<br />

a consciência da sua separação do mundo.<br />

Segundo Graça Aranha, nem a religião, nem a filosofia, nem a arte podiam dar<br />

ao homem a satisfação completa e permitir-lhe a integração no cosmos, se não estivessem<br />

baseadas na concepção estética do universo.<br />

A expressão "estética" tinha para ele uma significação peculiar. Equivalia a "espetacular".<br />

Graça Aranha tomara essa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Bergson que consi<strong>de</strong>rava o mundo como<br />

uma sucessão <strong>de</strong> imagens e, partindo <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia, transformou-a na base das suas próprias<br />

concepções. Não sabia se o universo em sua essência era vonta<strong>de</strong>, inconsciência<br />

ou inteligência. Mas estava certo <strong>de</strong> que era uma representação, um espetáculo. Graça<br />

Aranha pensava, como Bergson, que estamos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um "imenso oceano <strong>de</strong> imagens<br />

que constituem por <strong>de</strong>finição o que chamamos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>".<br />

Graça Aranha dizia, por isso, que o homem, frágil ser passageiro como todos os<br />

seres, só podia alcançar a plenitu<strong>de</strong> do espírito quando estava dominado pelo sentido<br />

espetacular do universo, quando compreendia e sentia que o mundo era um espetáculo<br />

"em que apenas há formas que se suce<strong>de</strong>m, se multiplicam, morrem, renascem, numa<br />

metamorfose infatigável e <strong>de</strong>slumbrante".<br />

Para ele a natureza era um prodígio <strong>de</strong> magia, uma alucinação produzida pela<br />

luz, as formas, as cores. Tudo se <strong>de</strong>svanecia e tornava a aparecer. Nessa perpétua metamorfose<br />

das coisas não havia lugar para a agonia.<br />

Não existindo a possibilida<strong>de</strong> do conhecimento da substância universal, excluída<br />

a explicação religiosa que atribuía ao mundo qualida<strong>de</strong>s que não tem, a <strong>de</strong>sesperação se<br />

apo<strong>de</strong>raria do espírito do homem se este não <strong>de</strong>scobrisse que tudo é aparência, que tudo<br />

é ilusão e que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa aparência há uma harmonia perfeita entre as coisas e o homem.<br />

Da sua concepção estética do mundo, Graça Aranha extraía algumas conseqüências<br />

importantes.<br />

O universo não tinha, segundo ele, qualquer finalida<strong>de</strong>, nem moral, nem religiosa.<br />

Era nada mais do que um jogo perfeito <strong>de</strong> forças. Apenas havia mutações <strong>de</strong> seres<br />

que se multiplicavam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um espetáculo <strong>de</strong>slumbrante.<br />

Incluído nesse jogo o homem era apenas uma aparição fantástica e efêmera. Para<br />

Graça Aranha, como, para Bergson, o ser humano "era plástico e mutável". Suas i<strong>de</strong>ias,<br />

seus sentimentos e suas necessida<strong>de</strong>s estavam em perpétua transformação. Sua consciência<br />

nada fazia além <strong>de</strong> iluminar as imagens do mundo.<br />

Assim a consciência era, para Graça Aranha, uma maravilhosa realida<strong>de</strong>. Surgia<br />

na obscurida<strong>de</strong> da matéria para dar a si mesma o espetáculo do mundo. Esse é, seguramente,<br />

o ponto on<strong>de</strong> a filosofia <strong>de</strong> Graça Aranha encontrava o fundamento do otimismo<br />

que lhe era peculiar. Seu pensamento sentia-se inundado <strong>de</strong> alegria ao consi<strong>de</strong>rar que na<br />

imensida<strong>de</strong> gelada e escura do universo surgia a consciência como um jorro <strong>de</strong> luz para<br />

dar às coisas suas aparências. Era a alegria <strong>de</strong> sentir-se capaz <strong>de</strong> produzir a "divina alucinação".<br />

Graça Aranha <strong>de</strong>ntro do seu ceticismo metafísico, estava convencido <strong>de</strong> que<br />

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