Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia
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O padre Franca classifica os filósofos brasileiros em três correntes: a) espiritualistas,<br />
b) positivistas; c) materialistas, reservando uma posição separada para Farias Brito.<br />
Vejamos como se refere às características gerais da filosofia no Brasil: "A falta<br />
<strong>de</strong> originalida<strong>de</strong> é o que imediatamente percebemos em todos os escritores filosóficos<br />
do Brasil. Não po<strong>de</strong>mos ainda alegar, como as gran<strong>de</strong>s nações civilizadas, certa autonomia<br />
do pensamento. De nosso e <strong>de</strong> novo, bem pouco é o que po<strong>de</strong>ríamos apresentar.<br />
Meditamos, mais ou menos passivamente, i<strong>de</strong>ias alheias; navegamos lentamente e a<br />
reboque pelos gran<strong>de</strong>s sulcos abertos por outros navegantes; reproduzimos no campo<br />
filosófico lutas estranhas e nelas combatemos com armas emprestadas".<br />
RENATO ALMEIDA<br />
Renato Almeida é jornalista, professor, diplomata. Tem vários livros <strong>de</strong> crítica<br />
musical. Sua "História da Música Brasileira" é altamente conceituada. Em 1938, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> uma viagem a Europa, publicou um livro sobre a Liga das Nações.<br />
Suas ativida<strong>de</strong>s filosóficas iniciaram-se brilhantemente em 1922, com um estudo<br />
sobre o "Fausto" <strong>de</strong> Goethe. Escreveu <strong>de</strong>pois: "A Formação Mo<strong>de</strong>rna do Brasil", "Velocida<strong>de</strong>"<br />
e "Figuras e Planos", ensaios que <strong>de</strong>monstram sua forte inclinação pelas i<strong>de</strong>ias<br />
gerais e pela alta cultura, que há <strong>de</strong> levá-lo, sem dúvida, a produzir obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />
para a evolução do pensamento brasileiro.<br />
Renato Almeida esteve muito vinculado com Graça Aranha, <strong>de</strong> quem foi um dos<br />
maiores amigos, sofrendo em parte sua influência intelectual. Essa influência é claramente<br />
percebida no seu livro sobre a "Formação Mo<strong>de</strong>rna do Brasil", no qual Renato<br />
Almeida faz suas as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Graça Aranha sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dominar o espanto e<br />
a melancolia que o brasileiro sente frente à sua terra, pela inteligência, a fim <strong>de</strong> criar a<br />
cultura e formar a nacionalida<strong>de</strong>. Como Graça Aranha, consi<strong>de</strong>ra que o homem brasileiro<br />
está ainda no período <strong>de</strong> assombro frente aos po<strong>de</strong>res do trópico, assombro que lhe<br />
paralisa as mãos e povoa <strong>de</strong> fantasias o cérebro. Adotando, <strong>de</strong> certa forma, o estetismo<br />
<strong>de</strong> Graça Aranha, Renato Almeida propõe: "Sejamos os artistas inspirados no nosso<br />
habitat maravilhoso, on<strong>de</strong> o espírito <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>ve ser livre e sincero, sentindo<br />
intensamente o mistério da alma das coisas".<br />
O estudo filosófico mais significativo <strong>de</strong> Renato Almeida é até agora "Fausto",<br />
que tem como sub-título "ensaio sobre o problema do ser", e que sem dúvida é uma das<br />
mais belas produções do pensamento brasileiro. Nesse livro, analisando os diversos aspectos<br />
da obra <strong>de</strong> Goethe, faz crítica do racionalismo e da exposição da teoria finalista<br />
do mundo que essa obra, segundo crê, contém.<br />
Renato Almeida afirma que a razão é incapaz <strong>de</strong> dirigir a totalida<strong>de</strong> da vida. No<br />
mundo confuso dos <strong>de</strong>sejos, das contradições instintivas, a razão serve apenas para <strong>de</strong>ixar<br />
nua a miséria humana. O <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> intelectual aumenta o sofrimento<br />
estimulando o egoismo. No domínio do conhecimento, a razão não faz senão<br />
levar o homem ao cepticismo. A razão é incapaz <strong>de</strong> formar juízo sobre o que não existe<br />
e levando-nos à única conclusão <strong>de</strong> que é capaz, <strong>de</strong> que só sabemos que nada sabemos,<br />
gera a <strong>de</strong>sesperação. A razão é assim uma faculda<strong>de</strong> torturante.<br />
Entretanto Renato Almeida não renega a razão. Afirma que se <strong>de</strong>ve evitar a cega<br />
obediência a ela, assim como o <strong>de</strong>sprezo que levaria à sua renúncia. Porque a razão com<br />
suas torturas espirituais abre ao homem o verda<strong>de</strong>iro caminho do saber. Apoiando-se<br />
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