Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia
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sentavam vaida<strong>de</strong>. Os alunos dali saídos, estavam preparados unicamente para ser os<br />
"turiferários que com excesso <strong>de</strong> incenso asfixiam a alta administração do Estado, e <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scontentes incuráveis que, incapazes <strong>de</strong> ren<strong>de</strong>rem oportunamente, o <strong>de</strong>vido preito ao<br />
mérito real, dilaceram a socieda<strong>de</strong> e perpetuam a anarquia". Da faculda<strong>de</strong> caía sobre a<br />
socieda<strong>de</strong>, segundo Pereira Barreto, uma torrente <strong>de</strong> falsa sabedoria, <strong>de</strong> falsa moralida<strong>de</strong>,<br />
e a semente <strong>de</strong> uma inevitável anarquia.<br />
Não era menos violenta a sua crítica à Igreja, que, a seu modo <strong>de</strong> ver, era o mais<br />
po<strong>de</strong>roso fator <strong>de</strong> atraso social, disposta sempre a todas as concessões, indulgentes com<br />
todas as injustiças dos gran<strong>de</strong>s, aceitando a escravidão e mantendo a ignorância. A Igreja<br />
resistia aos progressos da ciência e não fazia mais do que acusar os que a cultivavam<br />
<strong>de</strong> crime e infâmia. "O crime e a infâmia — dizia Pereira Barreto — se é que os há, estão,<br />
por certo, do lado daqueles que <strong>de</strong>nigrem as mais augustas e puras intenções da<br />
ciência".<br />
Em sendo essas as causas do atraso social, apontadas por Pereira Barreto, afirmava<br />
ele que só uma reforma no ensino oficial, uma nova orientação que eliminasse os<br />
vícios que a caracterizavam, po<strong>de</strong>riam criar uma nova or<strong>de</strong>m social. Dizia ser <strong>de</strong> uma<br />
evidência meridiana que a gran<strong>de</strong>za política das nações só po<strong>de</strong>ria vir <strong>de</strong>pois do seu<br />
engran<strong>de</strong>cimento espiritual, já que as constituições e as leis não tinham realida<strong>de</strong> ou<br />
aplicação para os povos, senão quando previamente havia sido criada uma mentalida<strong>de</strong><br />
que <strong>de</strong>via fazê-las viver.<br />
Pereira Barreto proclama, <strong>de</strong>starte, a necessida<strong>de</strong> que "ao lado da história medonha<br />
e oficial dos <strong>de</strong>struidores e dos pedantes, temos que elaborar uma outra, que a domine,<br />
a dos fundadores e dos sábios". Consi<strong>de</strong>rava que só quando houvessem <strong>de</strong>saparecido<br />
as flutuações <strong>de</strong> opiniões e sentimentos, as vacilações do pensamento po<strong>de</strong>r-se-ia<br />
refundir a socieda<strong>de</strong> em novos mol<strong>de</strong>s.<br />
As páginas em que expunha essas i<strong>de</strong>ias estavam cheias <strong>de</strong> fervor e verda<strong>de</strong>ira<br />
eloqüência.<br />
Com não menos eloqüência <strong>de</strong>screvia Pereira Barreto a evolução do espírito brasileiro<br />
<strong>de</strong>ntro do quadro dos três estados <strong>de</strong> Comte.<br />
A mentalida<strong>de</strong> teológica brasileira correspondia, segundo ele, aos conservadores,<br />
aos amantes do passado remoto. A principal característica <strong>de</strong>sses representantes da época<br />
teológica consistia em acreditar que algumas pessoas <strong>de</strong>cidiam dos acontecimentos<br />
sociais, e que bastava substituí-las para que a vida da coletivida<strong>de</strong> fosse transformada.<br />
Para eles só houve progresso quando a metrópole dirigia a vida do Brasil. Pereira Barreto<br />
dizia que a concepção teológica era justificável no período da conquista, em que não<br />
existiam indústrias e em que predominavam as ativida<strong>de</strong>s militares; mas era inexplicável<br />
que ainda houvesse pessoas pensando com tal mentalida<strong>de</strong>, na sua época.<br />
A mentalida<strong>de</strong> metafísica brasileira a encontrava Pereira Barreto nos liberais, representantes<br />
do passado mais próximo, para os quais o progresso começava em 1789,<br />
com a Revolução Francesa e cuja característica principal consistia em crer na onipotência<br />
<strong>de</strong> fórmulas e palavras. A fase metafísica, segundo Pereira Barreto, era uma fase <strong>de</strong><br />
transição e incoerência. "É a fase que o Brasil atravessa hoje", dizia. Achava que a metafísica<br />
brasileira tinha culminado com o "Libelo do Povo", que em 1849 Francisco <strong>de</strong><br />
Salles Torres Homem publicou sob o pseudônimo <strong>de</strong> Timandro. Esse documento político<br />
<strong>de</strong>nunciava as infrações e os abusos do governo e clamava contra a forma <strong>de</strong> atuar do<br />
imperador e sua corte "que sonhavam com o direito divino e que só respiravam o ar<br />
corrompido da adulação e do estrangeirismo", e prognosticava a revolução total que<br />
"seria o triunfo <strong>de</strong>finitivo do interesse brasileiro sobre o capricho dinástico, da realida<strong>de</strong><br />
sobre a ficção, da liberda<strong>de</strong> sobre a tirania". Pereira Barreto consi<strong>de</strong>rava esse manifesto<br />
como "o apocalipse da <strong>de</strong>sesperação social", como "o código do empirismo revolucio-<br />
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